Colonizando Vênus

Pensamos seriamente em colonizar a Lua, Marte, as luas dos planetas exteriores. Os desafios são enormes, algumas das viagens bastante demoradas, fora a pressão psicológica do isolamento que os primeiros aventureiros certamente sofrerão. Mas temos grande esperança que superaremos ao menos tecnologicamente tais limitações. Quanto ao aspecto psicológico, o tempo nos ajudaria a superar. E de qualquer forma estes aventureiros estariam cada vez menos sozinhos, à medida em que mais gente chegasse para viver nestas colônias. Nos parece assim bem plausível colonizar nossa lua, Marte, além de Europa, Titã e tantas outras luas dos planetas gigantes. Mas sempre torcemos o nariz quando se trata de colonizar Vênus. Por quê? Qual o motivo deste preconceito?

Vênus é o mais parecido com a terra em termos de composição rochosa, tamanho e consequentemente gravidade, por se tratar do mesmo volume de material de densidades próximas. Além disso é mais próximo da Terra do que Marte, a viagem seria bem mais curta. Por que então fazemos tantos projetos para Marte, e deixamos Vênus de lado?

Bom, Vênus tem nuvens e chuvas de ácido sulfúrico. Um bom argumento contra, caso pretendêssemos passear de camiseta e bermuda pela sua superfície, o que não é o caso. Mas isto não poderíamos fazer em nenhum dos outros corpos mencionados, não é? Sempre precisaríamos de proteção, seja dentro de habitats pressurizados, seja dentro de trajes espaciais para manter dentro dele a temperatura e pressão que nossos corpos estão acostumados.

Segundo ponto: Vênus é quente!! Estupidamente quente!! Talvez esteja aí o grande problema. Não que gostemos do frio, mas aceitamos com mais naturalidade a ideia de nos protegermos dele do que de calores infernais. Infernais? Inconscientemente pode ser um forte motivo da rejeição imediata a Vênus, por ele nos remeter a ideia que temos de inferno. Mas certamente qualquer inferno que imaginarmos teria um clima bem ameno se comparado a Vênus...

Existe também uma pressão esmagadora. Tão esmagadora que, próxima à superfície extremamente quente, sua atmosfera formada quase totalmente de CO2 fica num estado físico bastante esquizofrênico chamado de fluido supercrítico. Um estado intermediário, onde o gás carbono não sabe mais se deve se comportar como gás ou como líquido. Digamos que age como gás em algumas situações e como líquido em outras. Por exemplo, move-se na superfície a uma velocidade em que não conseguiria mover pequenas pedras se fosse gasoso, mas o faz porque neste caso se comporta como líquido. Quanto à difração das imagens, ao menos as sondas Venera que lá pousaram constataram que se parece bem gasoso.

Mas vamos tentar fazer mais uma analogia com nosso próprio planeta. Quando subimos em nossa atmosfera a pressão diminui, não é? E, pelo menos inicialmente, a temperatura cai. O mesmo deve acontecer em Vênus, não é? E de fato, a cerca de 50 quilômetros de altitude a atmosfera de Vênus apresenta uma pressão igual à que existe na Terra ao nível do mar. E quanto à temperatura? Agradabilíssimos 25 graus Celsius! Daria para vivermos muito confortáveis boiando nestas altitudes se não fosse, obviamente, a ausência de oxigênio e (como esquecer disso?) as nuvens de ácido sulfúrico.

Mas poderíamos viver sem problemas em habitats flutuantes isolados da atmosfera exterior venenosa, não é? Não teríamos que construir nenhuma estrutura muito complicada para impedir a saída de ar para o vácuo, nem batiscafos flutuantes precisando suportar enormes pressões exteriores. A função das paredes externas do habitat seria apenas isolar dos gases exteriores, já que não precisaria brigar pela pressão e temperatura já adequadas à nossa sobrevivência.

Certo, viveríamos assim em habitats sustentados por enormes balões de... o que poderíamos colocar dentro destes balões? E aí vem a grande surpresa: podem ser balões de ar! Ar terrestre, pra ser mais claro. Nestas condições de temperatura e pressão um volume de atmosfera de Vênus é mais pesado que o mesmo volume do ar terrestre. Ou seja, um balão de ar com temperatura e pressões normais flutuaria em Vênus. Podemos então esquecer dos habitats sustentados por enormes balões, já que poderíamos viver dentro destes próprios balões! Respirar o mesmo gás que dá sustentação ao nosso habitat.

Interessante pensar sobre isto, não é? Quem se interessar, pode ler um conto que escrevi falando exatamente sobre esta ideia!:-) Ainda não está finalizado, mas está quase, e pretendo não demorar para finalizar. O link abaixo é da parte 1, mas deve ser fácil encontrar as continuações:

http://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/4127429

Boa Diversão!