Crise e Oportunidade
Chega finalmente o dia em que um simples flato que alguém solte na atmosfera pode ter conseqüências seriíssimas em vista da acumulação de problemas por décadas. E hoje a consciência da existência inegável das alterações climáticas por obra do incremento inaudito dos gases do efeito estufa não pode mais ser negada, como os americanos o fazem há tempos. O presidente Bush havia se recusado a assinar o protocolo de Kioto, sob a alegação de que seria prejudicial à economia dos EUA, atrasando em vários anos o início das ações internacionais conscientes destinadas a conter o problema, o que vem sendo feito sob os auspícios da ONU, levando a nação norte-americana a uma posição insustentável, não só quanto aos aspectos ambientais, que dependem de uma radical mudança na sua matriz de consumo energético, quanto a outros aspectos de sua política internacional que estão, por sua vez também, correlacionados com a questão ambiental, como, por exemplo, as guerras que promovem no oriente médio. Sim, pois os assuntos estão inextricavelmente atados, visto que as guerras têm o principal objetivo de garantir as reservas de petróleo da região para os norte-americanos. Então, mudada a concepção de matriz energética, há boa chance de que as guerras simplesmente acabem por falta do principal objetivo.
E os homens públicos se manifestam de forma discordante do presidente guerreiro. Vários governadores de estado vêm adotando os objetivos do tratado de Kioto, e vários prefeitos também. E há muita lógica em suas ações, visto que as principais geradoras dos problemas são as grandes cidades, as megalópoles onde se acumulam milhões de viventes, entre o asfalto e o concreto, com seus hábitos de desperdício e suas necessidades crescentes de recebimento de alimentação, água, habitação, transportes produzidos em locais distantes. Manter tais aglomerações que se criaram espontaneamente, as cidades, o ambiente do homem desde a antiguidade, é extremamente dispendioso em termos de créditos de carbono. A solução, o prefeito de Nova Iorque está querendo descobrir, não é só construir parques e jardins suspensos, mas fazer uma radical mudança em hábitos e costumes, pensar a cidade com o máximo de auto-suficiência, reduzir o consumo energético de seus paquidérmicos habitantes, repensar o sistema de transporte público e de produção local, inovar em matéria de serviços públicos, como os esgotos domésticos, por exemplo.
E, então, da crise virá a oportunidade de se construir uma humanidade melhor, mais saudável, menos belicista, menos irracional, e a consciência de que somos todos hóspedes na mesma nave planetária da qual só poderemos escapar nos nossos sonhos.