Influência feminina
Depois de libertada a visão... Influência feminina
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Ela só quer escrever livremente, por isso evita se apegar a padrões. Mas ela sabe que técnica e conhecimento são necessários para compor um texto de qualidade. Por isso, falo para vocês de Lorena Castelhana com muita tranquilidade, por que ela, como eu escrevi, em Um teto todo seu: é uma dessas mulheres que buscam fazer mais ou aprender mais do que os costumes declaram ser necessário para o seu sexo.
Talvez vocês já tenham ouvido falar dela ou de sua escrita, mas não a percebem como eu. Essa “influência feminina” em seus textos eu conheço bem, sobretudo pelo aspecto de contar histórias que tenham vida com experiências verdadeiramente reflexivas. Lorena é uma mulher muito simples de conviver. De temperamento forte e um jeito peculiar de ironia que às vezes é interpretada como sarcástica. E também é bastante otimista e muito sincera. Não gosta de joguinhos para impressionar, tão pouco de mentiras. Totalmente altruísta e seu humor é daqueles que levanta o astral até em velório. Pois entende que vida é para ser gozada, divertida, alegre... Penso que a dualidade no jeito singular e misterioso de ser, introspectivo ao mesmo tempo de aparência forte e determinada, atrai e confunde os que não a enxergam completamente. Por trás das aparências, existe uma mulher de carne, ossos, emoções e autenticidade. Que pouco fala de si mesma, mas é boa ouvinte. Só a conhece de verdade quem experimenta conviver com ela. Sua alma é leve. Seu olhar humano é envolvente, mas se tiver que rasgar o verbo ela rasga.
Ao escrever sobre ela, não posso deixar de falar que o fantasma dessa mulher, ou a sombra como ela costuma dizer é o medo. Que insiste em aparecer e a faz pensar que sua escrita não tem qualidade, que seu discurso narrativo é fraco. Sim é medo que essa mulher precisa matar. Ela precisa deixar de ser contida e mostrar mais sua acidez feminina.
Assim, todas as vezes que percebo a sombra do medo em suas costas - pesando feito pedra grande - eu interfiro - lhe inspirando , sussurrando em seus ouvidos: leia aqueles trechos meus em rumo ao farol, um teto todo seu, as ondas ou algum ensaio feminista em profissões para mulheres para aguçar sua própria memória, para temperar seu imaginário. Deixe fluir suas ideias, deixa-as rolar como águas de um rio turbulento. Deixe escorrer seus temores por entre os dedos. Permita seus transbordamentos. Estimule seu lado ácido, mostre suas feridas. Seja contundente. Sem deixar de ser pura.
Faço isso para instiga-la a seguir em frente. Por que vejo que ela entende a escrita como oportunidade de tomada de consciência, de modo subversivo, libertário, de encontro consigo mesma, com memórias que provoquem enfrentamento de se mostrar francamente. E digo também, nunca deixe ninguém perceber que você tem opinião, especialmente os que adoram mulherzinhas, dependentes, frágeis, sem ebulição.
A gente sabe que é no exercício da palavra, é escrevendo que se aprende a escrever melhor, sobretudo quando se tem paixão pela linguagem escrita. Escrever, para quem gosta, é alimento para alma, é deslumbramento. Mas requer também esforço, força de vontade, estudo, precisão, valor estético. Ter hábito de escrever todos os dias, pois no exercício da escrita é possível aprimorá-la.
Agora, preciso falar das experiências dela engavetadas. Peço que tentem imaginar o ensaio Memória da pele, narrado em primeira pessoa sobre um casal de amantes.
Repare nesse trecho: Depois de uma conversa do casal ao telefone, onde ele diz: tenho algo a meu respeito que não posso mais omitir... No termino da ligação, ela pensa:
- Essa conversa me causa mais borboletas no estomago e o cérebro ágil envia um sinal incomodo ao coração. E só me resta esperar o momento da tua vinda para escutar você. Se o nosso amor é solto em aventura, seja lá o que for, vai acontecer. Então, eu chamo a imagem no desenho das letras num poema para dar voz ao meu sentimento: - Esse sempre que te quero em mim não acaba não tem fim. Passe o tempo que passar o amor só termina quando chega ao fim. Enquanto você não vem – deixo o tempo seguir - e quando você chegar – vou te oferecer todo o meu bem querer outra vez. Mesmo que seja nossa última vez...
Ou em Deixa-me, onde o narrador descreve experiências da vida de Beta, que foi chamada por um crítico literário de ninfomaníaca. Uma jovem e misteriosa mulher com prazeres sexuais irregulares até conhecer o verdadeiro amor com Germano. De tanta narrativa de conto acabou virando romance. Puro transe ficcional, cheio de vidas, de metáforas e melodias...
Mas, além disso, além do gosto pela reflexão, do gosto pela escrita como alimento, Lorena busca aprender mais com formação, procura aprendizado e conhecimento para influir suas ideias. Ademais, gosta de ouvir opiniões, deixa-se ler. Por tudo isso, eu empresto minha experiências a ela, por que creio que as suas experiências também estão em todos vocês, de outras maneiras.
Bem, eu gostaria de continuar essa conversa, mas meu tempo acabou, eu fico por aqui.
Mas Lorena segue...
*Virginia Woolf estreou na literatura em 1915 com um romance (The Voyage Out) e posteriormente teria realizado uma série de obras notáveis, as quais lhe valeriam o título de "a Proustinglesa". Morreu em 1941, tendo cometido suicídio. (Origem: Wikipédia)