50 anos depois do golpe militar

50 anos atrás acontecia o golpe que interrompeu a história do Brasil. As piores lembranças dos tempos nefastos que se seguiram referem-se ao uso da força, dos assassinatos e torturas cometidos pelo próprio poder que os deveria impedir. Desses tempos de más recordações, só temos a comemorar seu fim.

Gostaríamos de comemorar o fim de tempos crueis, mas, que lemos nos jornais? que vemos em vídeos nos nossos dias? Vemos cidadãos sequestrados, torturados e assassinados no interior de dependências policiais. Mulher arrastada cruelmente pelo asfalto a se esvair em sangue e desespero.

25 policiais de uma unidade de polícia são acusados de participar da tortura e assassinato de um homem. A prática era corrente naquela unidade, provavelmente em todas as outras do gênero. As torturas não eram exceção, não precisavam ser ocultadas. A imensa quadrilha é uma só. As UPPs são escolas de tortura e assassinatos.

Boa parte das constantes manifestações de protesto que espocam por todo o país têm como alvo os frequentes e odiosos abusos policiais. São enfrentadas pela polícia com pimenta, tiros nos olhos e bombas. Hoje, tais invectivas são perpetradas pelas forças policiais às vistas de todos, descaradamente, às claras, embora por policiais sem identificação, e sem a permissão para o registro de imagens. A força policial atua despudoradamente, cometendo abusos aos olhos de todos, mas sem permitir a gravação de imagens, intromissão passível de deteção, agressão, ofensa e outros abusos. Que tempos são esses?

Costumamos demonizar os tempos da ditadura, mas, que tempos são esses em que vivemos hoje? Terá havido, naqueles tempos, manifestação tão rudemente reprimida, com tantas bombas quanto as de agora? Terão disparado tiros nos olhos dos manifestantes? Tinham os policiais de então a conivência explícita de seus chefes para agir sem identificação?

Lembro de um buldogue fascista, secretário de segurança de São Paulo, ter autorizado o uso de bombas contra manifestantes, um escândalo, mesmo naquela época. Posso apostar que não chegavam a parcela ínfima das que explodem hoje em qualquer manifestação. 50 anos atrás, houve o golpe e uns militares usurparam o poder pela força, impuseram suas vontades com o porrete; permitiram torturas, assassinatos, e são lembrados e execrados por isso. Mas como andam as coisas hoje?

No Rio de Janeiro temos um governador fascista que permite que os policiais andem pela rua armados com metralhadoras, mas sem identificação. Encrava nas favelas centros de tortura, onde maltrata e extermina os que não se submetem ao poder, reinventa pelourinhos. Os novos feitores usam uniforme, e só nisso diferem dos antigos, nisso e na crueldade. Formados em vasto número, os policiais recebem treinamento de guerra, sabem atirar, matar, dominar os cidadãos. Mas não aprendem que devem seguir as leis. Não se ensina que não podem matar. Sabe-se que policiais podem matar, assassinar cidadãos. Têm autorização para isso. Quando um policial morre em serviço, matam 10 em represália, matam 10 daquela gente para mostrar quem manda, matam qualquer um que ouse aparecer na frente. As chacinas são regra.

O líder da quadrilha é o governador fascista, o responsável pelos milhares de assassinatos cometidos anualmente por sua força policial. MILHARES DE ASSASSINATOS! Todos impunes. (Parece que o caso de uma juíza resultará em prisão). Controla uma facção criminosa uniformizada poderosíssima, a mais organizada do estado.

50 anos atrás houve um golpe militar hoje execrado por seus abusos, torturas e assassinatos. Esses mesmos abusos têm sido superados amplamente pelos feitores de agora, pelos bandidos uniformizados comandados por um assassino descontrolado. Assistimos com naturalidades a um contínuo extermínio em massa; muita coisa parece ter piorado. Mesmo com o fim da ditadura, não há nada para se comemorar.