"Homens Difíceis" / História dos roteiristas nos seriados da TV à cabo.
Lançado pela Editora Aleph, "Homens Difíceis", foi escrito pelo jornalista americano Brett Martin, onde traça a evolução das séries da televisão à cabo nos EUA.
Os protagonistas masculinos destas séries são chamados pelo autor de “homens difíceis":
“Infelizes, moralmente comprometidos, complicados, profundamente humanos. Personagens que despertam tanto a nossa simpatia como a nossa repulsa, num sentimento de identificação e uma cumplicidade, implícita, que temos com suas ações obscuras. Quando séries como a Família Soprano apaziguam as pessoas ao mostrar que os personagens mais monstruosos, em alguns aspectos, são atingidos pelas mesmas aflições que nos atingem na vida real".
Homens Difíceis dá uma perspectiva sociológica da desenvolvimento da TV paga. Ou de como ela deixou de ser um mero veículo reprodutor de filmes, para influir no cotidiano dos americanos, até tornar-se um importante divisor de águas na cultura de filmes televisivos.
Porque nos EUA, até os anos 90, havia uma divisão entre os filmes que se podiam ver no cinema, mas não em casa. Até que com o crescimento dos canais a cabo, mais o boom das vídeo locadoras, e a chegada da internet, então a TV à cabo passou a não ter maiores preocupações com a possibilidade de desagradar anunciantes, como ocorre na TV aberta.
Assim os roteiristas do início dos anos 2000 tiveram mais liberdade e integridade criativa - e menos preocupação com a audiência e faturamento das emissoras. Isso possibilitou criar séries com protagonistas politicamente incorretos, que mostravam o lado selvagem de sua natureza. Em tramas com maior complexidade moral, maior complexidade dos seus personagens, e intrincados dilemas:
" Tony Soprano exibe honestamente comportamentos sociopatas, que retratam uma América do ano 2000 , chamada de América Doente - e em guerra consigo mesmo - ao se descobrir a existência das prisões secretas, torturas de presos estrangeiros, extermínios de civis, em guerras do exército americano do outro lado do mundo. A história ficcional assim ficava livre para declarar os seus próprios termos, sem ter que atender expectativas pré estabelecidas, resultando disso uma radical liberação de criatividade".
Trabalho dos roteiristas da série que no livro é contado com muitas informações. Mostrado os desafios enfrentados para produzir 8 temporadas seguidas, cada qual com 48 episódios cada. Quando depois da quarta temporada, após ganharem todos os prêmios importantes - quando o filão já parecia esgotado (e já se pensava em dar um final na série) - a equipe de criação então fez das tripas coração e produziu outras 4 temporadas, consideradas pela crítica ainda melhores.
Também muito interessante saber do funcionamento da sala dos roteiristas, e de como o trabalho é feito ali dentro, coletivamente, diferente do cinema do autor onde um diretor faz tudo.
Ambiente que ao mesmo tempo é criativo e estressante, fraterno e conflitivo. A relação do roteirista chefe, com os roteiristas colaboradores envolvendo companheirismo, comunhão criativa, mas havendo também muita cobrança - para que todos se envolvam ao máximo com a série - como também sentimentos de rejeição: nas vezes que o trabalho do roteirista colaborador é recusado, ou seu roteiro necessite ser reescrito.
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Sonho de viver de contar histórias que Homens Difíceis vende aos leitores, muitos deles desejosos de poder fazer o mesmo (correr atrás do seu sonho) com alguma das histórias que escreveram, ou desejariam contar. Mas o objetivo dos editores deste livro, publicitários de storytelling que são, é criar histórias alavancando diferentes mídias, se valendo da chamada narrativa transmídia, onde interagem diferentes plataformas - TV, Games, Internet, Cards, Revista em Quadrinhos, Fóruns de Discussões - de modo a envolver os fãs cada vez mais.
Aqui o mais emblemático destes seriados é HEROES, de 2006:
Série que teve um público de mais 10 milhões de telespectadores por temporada. E onde o sócio americano de Mota, também editor de Homens Difíceis, foi o responsável por todo o projeto de narrativa transmídia do seriado.
Maurício Mota que ao ser entrevistado pelo site "Nós da comunicação", diz que Heroes é um divisor de águas, em se tratando de planejamento e entendimento de realidades digitais:
"A série Heroes, em suas duas primeiras temporadas, mostrou a ponta do iceberg do que o Transmedia Storytelling poderia fazer. Pois havia toda uma maneira de se criar conteúdos para cada meio e deixar a tela principal, a TV, ainda mais poderosa. As experiências narrativas criadas para internet e celular fizeram o seriado ficar cada vez mais envolvente, pois, à medida que o universo da série ia sendo criado as pessoas se interessavam mais e mais pelo que acontecia uma vez por semana. Mas não só isso, porque todos os dias elas se mantinham conectadas à narrativa, independentemente do horário semanal'.
Muito procedente a comparação do storytelling com um iceberg, porque só assistindo ao seriado na tv não dá para se ter a noção da extensão do merchandising que a narrativa transmidia trabalhou nesta série. Conta isso o pormenorizado estudo acadêmico de DANIEL ZATTA BLASCZAK. A grande extensão deste trabalho correspondendo à imensa parte do iceberg que está submersa, sem poder ser enxergada por quem só assiste a TV.
(...)
-> ABRE ASPAS <-
A partir do momento em que as novas tecnologias começaram a tomar conta das casas, com televisão digital, internet sem fio, computadores pessoais, etc., criou-se uma ampla opção de entretenimento para a família. Ver televisão não era mais como antigamente: hoje em dia um simples intervalo comercial começa a ser abolido. Daí a importância da inserção das marcas dentro dos programas - como forma de se evitar a fuga de audiência - por meio do merchandising de publicidade e propaganda.
A interatividade criada com a televisão digital e a possibilidade de se ver o que quiser, a qualquer momento, deixaram o público entusiasmado e fez o telespectador se sentir integrado e como um ativo participante dessa nova tecnologia. Os velhos meios de comunicação transformando-se pela introdução de novas tecnologias.
A convergência tecnológica envolvendo uma transformação tanto na forma de produzir conteúdo, quanto na forma de consumir os meios de comunicação. A sociedade assim consome-se em histórias. Elas servem tanto para vender produtos, conseguir votos, para atrair fiéis, e também para conquistar o sexo oposto, etc. Em tempos de excesso de informação e certa descrença em ideologias, narrar os fatos, a vida, parece ser uma estratégia discursiva que ainda inspira confiança ou que melhor capta a atenção alheia.
Neste contexto o merchandising de Heroes usa desses heróis para vender seus produtos. E por trás deles estão às grandes marcas. A inserção de produtos, serviços e ideias na televisão, quando apresentada em cenas do cotidiano, tem grande facilidade de envolver o telespectador, quase que de forma despercebida.
Cada pedaço da história tinha um efeito em cada uma das plataformas.
História que se desdobra em diferentes plataformas, onde os elementos essenciais estão tanto no jogo de vídeo game como nas animações, nos blogs, nas histórias em quadrinhos. Assim, aos poucos, os consumidores serão capazes de dedicar o tempo necessário para obter o retrato inteiro da história, razão pela qual a narrativa transmídia storytelling impulsiona a formação de comunidades de conhecimento, e as comunidades que compartilham informações, e esse é o ponto essencial para um envolvimento mais profundo.
->continua em http://tinyurl.com/qjk37sl
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O Storytelling na publicidade
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Todo trabalho de storytelling desta série feito pelo sócio americano da The Alchimists, editora de Homens Difíceis, eles que também foram os relizadores do storytelling da linha de sucos DEL VALE KAPO (antes suco Del Vale e hoje pertencente à Coca Cola), líder no segmento de sucos para crianças.
Marketing composto por uma história, em número de trinta episódios - lançadas semanalmente - mais um joguinho, e a distribuição do CD interativo com a musica do Vale, e ainda um audio-livro, e cards que podem ser recortados e colecionados.
Produtos de marketing que através da história de uma Família tem por missão reconectar pais e filhos, enquanto associam a marca Kapo a algo significativo e valioso: fazer com que pais e filhos passem mais tempo juntos: a marca tornando-se assim aliada dos pais. Graças a esta campanha teve nos EUA o dia nacional do Vale Encantado, que reuniu milhares de família.
Mota que em entrevistas aos sites de publicidade é convidado a falar dos anúncios de publicidade que pegam os contos de fada para associá-los a certas marcas, e assim lhes dar sentido de permanência no tempo: como em certa campanha da Boticário onde vemos uma Branca de Neve pós moderna, siliconada e sexy.
Anuncio engraçadinho e bem bolado, mas que tem merecido a atenção da semiótica, para mostrar o quanto o discurso desta propaganda é manipulador e desvirtuador do conto de fadas, que tem um valor pedagógico.
Estudiosos da semiótica que nesta propaganda citam o livro Simulacro e Realidade, escrito por Jean Baudrillard (inspirador de Matrix pois Neo esconde os códigos de acesso a um mundo artificial dentro do livro Simulacro e Realidade), para mostrar o completo estágio de falsidade e perda de referenciais da realidade na sociedade consumista onde vivemos.
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("Quando Menos é mais": grupos anti-consumismo ganham espaço com a internet)
Movimentos anti-consumistas que também estão na internet e redes sociais para dizer " o quando o menos é mais", convidando as pessoas e a sociedade a reduzirem o ritmo das compras e serem anti-consumistas.
“Não é para deixar de comprar. E sim deixar de buscar a felicidade nas compras. Porque consumir tornou-se sinônimo de ser alguém, de ter identidade, ou de ter 'seu espaço'. Mais do que segurança real é a fantasia da segurança psicológica: da qual já somos escravos, por aquilo que chamamos de confort'".
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( Henry Jenkins, o Merlin Midiático )
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Henry Jenkins, o guru da narrativa transmídia, que lançou seus fundamentos, disse algo a respeito da filosofia DIY/ "Faça você mesmo", para o site da Globo, explicando o porquê dos jovens hoje serem os guardiões da cultura:
(... )
" Que aspecto da filosofia colaborativa e do "faça você mesmo", tratada pelo seu livro, parece mais relevante para você agora?
JENKINS: Nas três últimas décadas, estudei a cultura dos fãs. Fãs são pessoas inspiradas por histórias que circulam através da mídia de massa, que pegam elementos dessas histórias e os usam como material bruto para sua própria expressão criativa, e que se aproximam devido à sua devoção a esses materiais culturais ricos. Não chamo de "faça você mesmo" e sim de "façamos nós mesmos", por causa da natureza profundamente colaborativa dessas formas de produção cultural.
A fan fiction é um exemplo disso?
JENKINS: Sim. Os fãs conversam sobre ideias para histórias como se estivessem batendo papo no café da manhã; leem e comentam os materiais compartilhados entre eles; e constroem as plataformas nas quais circulam as suas criações. O escritor de fan fiction existe ao lado do cosplayer, que bola roupas e encarna personagens; o fã de música que cria, grava e circula faixas; o sujeito que reedita e remixa vídeos, e por aí vai. Esse tipo de cultura participativa existe há mais de cem anos, mas a internet a tornou acessível para um leque muito maior de participantes.
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Tecnologia da Educação e pedagogia experimental
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No projeto "Escolas de Séries "o prefácio nos informa que uma empresa de Tecnologia da educação/Treinamento de Adultos é parceira do projeto. Empresa que já fez mais de 200 cursos.
A pedagogia empregada por eles é a do aprendizado experimental: onde face a um problema concreto a pessoa busca soluções, ao invés de academicamente estudar várias matérias, até que surgido o problema se vai atrás da solução.
Pedagogia e tecnologia educacional que faz com que a presença de um professor não seja indispensável, ao contrário...
Filosofia que combina bem com a do MIT/ INstituto de Tecnologia de Massachusetts ( berço atual da narrativa transmídia ), que surgiu no meio do século XIX, como nova forma de ensino superior para enfrentar os desafios colocados pelo rápido avanço da ciência e tecnologia, durante meados do século 19, com os quais as instituições clássicas estavam mal preparadas para lidar com esse avanço.
Nova forma de educação que deveria estar enraizada em três princípios: o valor educativo do conhecimento útil, a necessidade de "aprender na prática", e integrar a educação artística e profissional liberal a nível de graduação. Os dois primeiros princípios também inspiraram a cultura do "faça você mesmo", dos artesãos e arquitetos ingleses, do final da era vitoriana. Ideologia que depois inspirou os punks e os nerds do anos 90 (geração dos Alquimists):
Eles os típicos membros da geração DIY (Do It Yourself) atual, que a partir da década de 1970 adotaram o princípio do "faça você mesmo".
Princípio profundamente associado ao anarquismo e à cultura underground, e vários outros movimentos anticonsumistas: fiéis à ideia de que um indivíduo não deve comprar sempre de outras pessoas as coisas que deseja ou necessita. O "faça você mesmo" concebido como princípio ou ética que questiona o suposto monopólio das técnicas, por especialistas. E estimula a capacidade de pessoas não-especializadas a aprenderem a realizar coisas além, do que tradicionalmente se julgam capazes.
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Jenkins tem um prestígio enorme, tanto maior por estar à frente de projetos onde são feitas parcerias entre a Universidade, governos, e importantes instituições culturais e educacionais de várias partes do mundo, mais órgãos e agentes financiadores que oferecem dinheiro a fundo perdido.
A importância destes projetos capitaneados por Jenkins, se deve também ao seu prestígio acadêmico e capacidade de pensar o futuro das novas tecnologias, enquanto propõe soluções que visam o bem comum. Por esta razão todo mundo quer saber o que Jenkins ou o MIT acham da inovações que vemos por aí:
Aura de visionário que acaba por colocá-lo num pedestal, acima do bem e do mal. Embora se desconfie de um certo contentamento dele, ao ver as novas mídias e paradigmas colocando de cabeça para baixo velhas ideias (como aconteceu com a indústria do disco por causa dos dowloads piratas na net).
Tudo isso em nome da chamada " convergência midiática", "cultura participativa", "inteligência coletiva", que são citadas como se fossem as novas leis da física.
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( Sai Jenkins entra Baudrillard)
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Jenkins que parece gostar de ver o mundo pegar fogo e abalar velhas verdades. Útil aqui buscar o contraponto disso com o pensamento de grandes filósofos e sociólogos de uma geração anterior a ele, como JEAN BAUDRILLARD, que mostra como na publicidade a realidade é pervertida e mascarada. A sua consciência direcionada e paga pela falsificação da realidade.
Baudrillard que demonstrou uma impressionante capacidade em diagnosticar o panorama da sociedade contemporânea, dona de um “melancólico” aparato tecno estrutural, que “estimula” os menos avisados à condição do delírio, à desinformação, à deformação, à satisfação e o padrão consumista, o vazio e à simulação desencantada; "o mundo é que nos pensa, é o objeto que nos pensa".
A respeito, o americano Fredric Jameson, professor de crítica literária, diz que a sociedade pós-moderna é marcada pela falta de profundidade, e pelo excesso de superficialidade:
"A produção de bens de consumo é agora um fenômeno cultural: compra-se o produto tanto por sua imagem quanto por sua identidade imediata. Passou a existir uma indústria voltada especificamente para criar imagens para bens de consumo e estratégias para a sua venda (como a The Alchimists)".
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Guy Debord, autor da “A Sociedade do Espetáculo”, livro publicado em 1967 - filósofo francês morto em dezembro de 1994 e que influenciou o movimento de 68 na Europa - dizia que a forma assumida pelas mercadorias substituiria todas as outras, no processo de dominação ideológica, regida através das imagens e incessante consumo:
"O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e em relação a tudo que produzem".
Baudrillard diz que ocorre uma espécie de substituição, dissolução e indistinção do que seja o Verdadeiro e o Falso:
"A tecnologia dos meios de comunicação de massa não consegue mais reproduzir uma realidade pré-existente. A produção de sentidos já não passa pelo olhar humano, a própria câmera de televisão incumbe por si só de fazer o olhar. Parecendo que todos os acontecimentos do mundo são dirigidos a ela, ocasionando uma inversão de valores, uma mistura sem igual no reino da representação"
O pensador francês fala das passagens e estágios sucessivos da imagem, até chegar a condição de simulacro. Parte de uma evolução das sociedades primitivas (para Baudrillard, aquelas em que o real e os signos estão perfeitamente relacionados) até o estágio atual, caracterizado pela reprodução incessante de signos e informação:
"Inicialmente, no plano da história, o signo é reflexo de uma realidade profunda. Aqui a imagem é uma representação perfeita. Uma aparência, guardando vestígios básicos e sagrados com o objeto o qual representa. É o signo por excelência.
"Num segundo momento a imagem mascara e deforma uma realidade profunda. Ela é um malefício (domínio da má aparência). Esta etapa correlaciona-se à questão da ideologia e falsa consciência, a qual impede que as pessoas deixem de ver o seu verdadeiro estado de alienação e exploração.
"No terceiro estágio, o signo “mascara a ausência de realidade profunda” e “finge ser uma aparência”, tornando-se o domínio da sedução e fascinação exercida por meios artificiais. No último estágio, o signo não tem relação com qualquer realidade (como o Planeta Kaposfera de Mota): ela é o seu próprio simulacro puro. É a primazia do simulacro”.
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Seriados Viciantes
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Esta portanto a resenha que virou crônica, e depois pediu para virar um artigo. Algo que me pareceu melhor do que simplesmente deslumbrar-me com o livro "Homens Difíceis" e sonhar com a possibilidade um dia vir a ser um roteirista do calibre daqueles do livro.
Roteiristas que fazem estas histórias de séries se estenderem ad infinitum, enquanto paralelamente o storytelling abduz o fã da série para seu leque de mídias sedutoras, de modo a mante-los cativos por incontáveis temporadas.
Aqui nada mais verdadeiro do que o artigo de Ariana Ribolini - "coisas difíceis na vida de quem tem compulsão por uma série", dentre as quais destaco:
"Finalmente você vai assistir aquela série que todo mundo está sempre comentando: 1. Você assiste os primeiros episódios com moderação, tentando se controlar; 2. Você fracassa miseravelmente nisso! 3. Essa série não é a melhor coisa que já aconteceu na sua vida?; 4. Você assiste à série em vez de interagir com pessoas; 5.Você assiste à série no lugar de dormir; 6. Você assiste à série em vez de trabalhar; 7. Começa a pensar com as vozes do seus personagens preferidos; 8.Envolve-se mais na vida amorosa dos personagens do que na sua própria; 9.Você não quer se arriscar a comentar o assunto com seus amigos que não estão nessa, mesmo que seja a única coisa no mundo sobre a qual você queira falar; 10. Isto significa que ninguém partilha do seu choque e/ou revolta com as reviravoltas da história; 11. Você fica atrasado em todas as outras séries e começa a esquecer por que chegou a adorá-las; 12. Qualquer problema de conexão que interrompe a transmissão provoca em você uma ira desconhecida; 13. Quando a série sai do ar e você é forçado a encarar a dor existencial de saber que todas coisas têm um fim".
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Fazendo a Lição de Casa para o Projeto "Escola de Séries
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Texto este que escrevi ouvindo incontáveis vezes Amy Winehouse cantar "Valerie". Tempo em que a turma do storytelling já teria feito da letra desta música um seriado com várias temporadas: história onde o desafortunado namorado de Valerie toma um fora dela, e sai para encher a cara, quando é preso por dirigir bêbado, e ter atropelado dez pessoas no ponto do ônibus. Até que já enjaulado o infeliz come a comida azeda na quentinha, enquanto lamenta-se com um rato que passa de que Valerie nunca foi visitá-lo na prisão. Dia de visita que sempre é motivo de desespero para ele, e razão de brigas com aqueles detentos que zombam da sua amargura, o que só leva ao aumento e endurecimento da sua pena. Quando o gerente de storytelling da série já terá criado a história em quadrinhos, lançada semanalmente, no site ValerieDisgraziata.com. O drama do namorado de Valerie levado também para o palco e para os games: onde no jogo você escolhe se quer ser a ruiva insensível, ou o seu zicado ex namorado presidiário. Hora de dar boas vindas ao maravilhoso mundo do storytelling. E das séries que você ajudará a criar. Isso se a Maldição de Valerie não te fizer beber e bater o carro, ser preso em Bangu I. Sem que Valéria vá ao menos uma vez te visitar ali dentro. Uma tragédia! Uma desgraça!
Valéeeeeriaaaaaaaaa!!!
Abril 2014