NADA É ESTÁTICO
“A CRUZ DO SENTIR
Joaquim Moncks
Amor é sentimento fugaz
da natureza do vento
ora brisa amena, ora vendaval
no céu palatino dos amantes:
olhos olfato gosto do corpo
viver além de si mesmo
que é metade menor – fósforo
entre riso e lágrima.
Prata e ouro para os olhos
moldura de belezas concebida
mais que tudo para aguçar
curiosidade de descobertas
nos desafios do ter e o ser.
E ele – o amar – capital permanente
verdadeiro e único
à esteira de seu próprio rastro
posterga-se além de seu valor exato.
Muito além do ouro
e das pratarias
é cruz que move o mundo.
Pateticamente...
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4649489”
– Marilú Duarte, através de e-mail:
Muito significativo é o poema apresentado. Nas frases ressaltadas a seguir, está impresso o simbolismo de viver intensamente o aqui e o agora: "...viver além de si mesmo..."(JM). O ser humano realmente possui essa característica, a capacidade de "ir além de si mesmo". Alguns teóricos dizem que o amor é um encontro que supera a lógica individualista, reafirmando-se com uma postura de generosidade e acolhimento, onde os valores compartilhados vão sendo construídos na realização do bem comum. Segundo Viktor Frankl, a auto-transcendência: o ir além de si mesmo, é a radical abertura do ser humano ante a realidade. Significa transcender a si próprio e a essência do existir, reconhecendo a singularidade e a unicidade do ser. A transcendência vai além da nossa própria consciência. "... curiosidade de descobertas/ nos desafios do ter e o ser."(JM). No ser alguém para o outro há uma superação narcísica e real de entrega, a morte do eu individual a favor do eu a dois, e a castração na contramão da completude almejada pela pulsão de vida. Na curiosidade da expectativa está a descoberta do desafio significante, recosturado de metáforas que encantam e mistificam o irreal desse acontecer. É um andar sem um ponto de partida, um caminhar sem destino e um chegar sem endereço ou tempo certo. "Amor é sentimento fugaz/ da natureza do vento/ ora brisa amena, ora vendaval..." (JM). Para alguns, o amor é uma utopia, uma invenção do poeta, um jovem sentimento que rapidamente envelhece, e que por si só, fica esquecido no baú das lembranças, silenciadas pelo tédio de um não acontecer. "Muito além do ouro/ e das pratarias/ é cruz que move o mundo. /Pateticamente...//”. (JM). Na contemporaneidade, a forma como os vínculos amorosos se configuram é extremamente patética. O uso e o descarte vão além dos objetos, na maioria das vezes caracterizando o amor como um objeto de uso e desuso – insignificante e desqualificado. O Amor além de ser o poder mágico capaz de transformar o mundo, é uma arte que exige muita dedicação, além de uma atitude de preservação da vida para viver em possível estado de felicidade...
– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA II. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.
http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4731824