A Lenda do Pirarucu

A Amazônia é repleta de plantas e animais especiais e bastante raros, muitos dos quais se tornaram símbolos dessa majestosa floresta, pois não são encontrados em nenhum outro lugar do planeta Terra.

O pirarucu é um desses símbolos da Amazônia, pois tem uma enorme importância para os povos indígenas e ribeirinhos da floresta. Seu nome tem origem em duas palavras: “pira” que significa peixe; e urucum que é um fruto utilizado pelos índios para extrair uma tintura vermelha. Dessa forma, pirarucu significa “peixe vermelho”.

O pirarucu é um peixe gigante, que pode medir até 3 metros e pesar mais de 200 quilos. Suas escamas são grandes e rígidas o suficiente para serem usadas como lixas de unha, para confecção de artesanato (brincos, colares, chaveiros etc.), ou simplesmente vendidas como souvenires. Sua carne é extremamente saborosa e, por isso, é utilizada pelos moradores locais em diversos pratos típicos da região Norte.

Destaca-se, no entanto, que a relação do pirarucu com os moradores da floresta vai além de seu uso prático na alimentação e no artesanato, pois de acordo com o imaginário popular da Amazônia o pirarucu era um índio que foi transformado nesse peixe especial.

Assim diz a Lenda do Pirarucu: num passado longínquo, no meio da grande floresta das Amazonas havia um casal de índios que era admirado por todas as tribos. Eles eram bastante respeitados por sua vida de bondade e justiça.

Certo dia, esse casal de índios anunciou que estava esperando um filho, o que foi recebido com grande alegria pelas tribos da região. Antes que a criança nascesse, o pai fez um voto dizendo que seu filho seria uma benção para todos os índios, dedicando seu tempo e suas habilidades para ajudar e servir sua comunidade como ele e sua mãe sempre fizeram ao longo de suas vidas.

O bondoso casal cuidou daquela criança com enorme carinho, desde os primeiros dias de vida. Os anos foram passando e aquela frágil criancinha se tornou um adulto bonito, bem alto e extremamente forte. Ele era extremamente vaidoso, andava cheio de enfeites e gostava de pintar seu corpo com o vermelho vivo do urucum. De longe sua aparência chamava atenção. Mas, para tristeza de seus pais, ele se tornara um índio cheio de beleza por fora e com um interior ruim.

Ele era muito vaidoso, egoísta e sentia-se muito superior aos demais. Ele desrespeitava as regras da tribo e não atendia aos conselhos dos anciãos da tribo, nem mesmo de seus pais que o criaram com tanto amor e carinho. Achava uma bobagem aqueles conselhos que recebia sobre ajudar os mais fracos e necessitados.

Vivia se mostrando o tempo todo, gabava-se de sua força física, de seu tamanho e de seu poder. Ele começou a influenciar negativamente alguns jovens, que se uniram a ele em ações de maldade e desrespeito aos demais. Liderando um grupo de jovens rebeldes começaram a promover conflitos e desarmonia nas aldeias. Eles aprontaram muitas maldades, até que um dia os líderes da tribo baniram aquele índio, de modo que ele passou a viver no meio da floresta, sozinho.

Mesmo com aquela condenação, ele não se corrigiu. Continuava causar maldades sempre que via outro índio caminhando pela mata. O tempo foi passado e cada vez mais seu coração foi se enchendo de maldade. Todos da aldeia desejavam que alguém ou alguma coisa fosse capaz de enfrenta-lo para que ele sumisse de vez da vida deles. Entretanto, seus pais nunca perderam a esperança nele. Mesmo em silêncio, eles acreditavam em seus corações que um dia veriam seu filho cumprindo o voto de ajudar e servir sua comunidade.

Aconteceu que um dia Tupã resolveu pôr fim aquela situação. Ele enviou uma forte tempestade que causou uma grande inundação na floresta. Os relâmpagos caíam com estrondo nas árvores que começaram a se partir. Mesmo com a fúria dos céus, o malvado índio nem se importava. Ao contrario, debochava da tempestade e dos raios que cintilavam os céus. Enquanto a chuva caía, ele ria e caçoava com desprezo aos céus.

Até que Tupã se enfureceu demasiadamente e mandou um forte raio atingir a árvore que ele usava como abrigo. Assim, um pesado galho daquela árvore caiu em cima dele, achatando sua cabeça. Com a forte pancada ele caiu desmaiado no chão e foi levado pela correnteza até o rio Tocantins.

Tupã lhe perguntou se ele estava arrependido e ele, mesmo ferido, se recusou a mudar seu comportamento. Então Tupã aplicou-lhe outra punição, transformando em um peixe. Foi assim que surgiu o pirarucu - o maior e mais belo peixe da Amazônia - que tem a cabeça chata e as escamas vermelhas.

Com o surgimento do peixe pirarucu, os pais daquele índio viram seu desejo realizado. Eles nunca duvidaram que de alguma forma veriam acontecer uma mudança na vida de seu filho que estava trilhando um caminho bem diferente daquilo que eles planejaram. Eles haviam lhe abençoado antes de seu nascimento, e após aquela transformação tiveram seu sonho realizado. Na forma do peixe pirarucu aquele índio se tornou motivo de orgulho para seus pais passando a cumprir seu papel de servir as comunidades indígenas!!!

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Ilha de Marajó - PA, Março de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 14/03/2014
Reeditado em 28/06/2018
Código do texto: T4728727
Classificação de conteúdo: seguro