Coisas importantes que não se dá importancia
O TRAVESSEIRO
O Dicionário Michaelis o define: s.m. = almofada que se põe sobre o colchão, do lado da cabeceira, e serve para descansar a cabeça quando se está deitado.
Independente do descaso dos gramáticos ao dar uma definição bastante simplista para um objeto de tal importância física e psicológica na conduta dos seres racionais e irracionais como podemos observar até na cria do nosso antepassado símio, segundo a teoria do Darwin, ao aconchegar a cabecinha, escanchado no dorso da mãe como se fora um travesseiro, e também felinos e caninos adorarem recostar suas cabeças sobre os corpos das mães ou irmãos fazendo-os de travesseiros. Por outro lado, as mães humanas, protegem o corpinho dos bebês com travesseiros para eles não rolarem no berço; as amorosas, ao ver o filho chorar ou praticar algo que o faz doer, dizem cariciosamente: venha meu querido, deite sua cabecinha aqui, na perna de sua mãezinha, explicitando ocultamente que é um travesseiro; a mãe, cariciosa, acalanta o filho na hora de dormir, dizendo-lhe, tome meu amorzinho, sua pepeta e seu cheiroso (travesseiro) para sonhar com os anjos; os irmãos fazem arruaças nos quartos os jogando uns sobre os outros, sabendo que eles não lhes ferem; sonhos e pesadelos ocorrem quando estamos com a cabeça sobre eles. Há a beleza da cena amorosa representada pelo namorado deitado sobre as pernas da amada, fazendo-as de travesseiro, sendo alvo de afagos e cata-piolho. Viajantes e turistas quase sempre os mantém na bagagem. São usados nos bancos dos veículos para proteger a parte pudica e até a cabeça duma freada brusca. Caçadores e lenhadores adaptam os troncos das árvores como travesseiros; em aviões ou outros meios de transportes, as empresas oferecem travesseiros; é com a cabeça sobre eles que mentalizamos e planejamos o utópico futuro; os abraçamos amorosamente nos lembrando da amada ausente; até conversamos na sombra da noite com eles como se fosse alguém; somos tão dependentes deles que até uma parede nos serve de travesseiro. Até a escultura de O Pensador mantém uma pose como estivesse com o braço na vertical fazendo travesseiro. Na vida monástica, os travesseiros dos catres são de tijolos para assim os monges se manterem humildes perante o Senhor, daí a expressão: é sobre o travesseiro que se conhece a dura realidade. Nos cubículos das prisões, os detentos usam os braços ou camisas como travesseiros; é abraçado a eles que os casais agüentam rolar na cama em noite insones, quando estão discutindo os problemas conjugais; ou mesmo fuxicando sobre a vida do próximo, novelas e programas de TVs; É de se salientar que desde de criança nos apegamos egoisticamente a um tipo de travesseiro e tem "dono" que lhe coloca um apelido carinhoso, sendo incapaz de dormir sem o particular amigo e confidente; e há alguns que usam até dois, um sob a cabeça e outro entre as pernas, sendo que este último serve para equilibrar a Coluna Vertebral, viga mestra do nosso corpo que, por sinal, adora um travesseiro.
Há dois ditados que dizem, quando se pretende tomar uma decisão que requer boa análise: Consultar o travesseiro; na de censura; é tão egoístas que não ama nem o travesseiro.
Um certo compositor musical bem inspirado concedeu ao travesseiro, uma sonoridade e carinho na altura do seu valor sentimental ao poetar: deita tua cabecinha no meu ombro e chora, o que subentende ser o ombro um travesseiro que o pode consolar nos momentos de desamparo e desilusão amorosa. É sobre ele que visualizamos na mente a figura de um ente querido e até fantasiamos sonhos. Casais e amantes, nos momentos mais aconchegantes, se valem de travesseiros para posições amorosas alimentando suas fantasias sexuais. Pode parecer que eu desejo fazer maldar, porém os travesseiros dos casais os unem como se fora dois corpos (cabeças) numa só alma enquanto o amor viceja na primavera; no inverno, entediado e estafado, ambos se viram de costas um para o outro e se agarram ao travesseiro substituindo-o pela amada. As manequins se servem de travesseiros para fazerem poses sensuais para fotografias. As "donas de casa" ao procurarem os vestir de belas fronhas, deveriam igualmente mandar grafá-las com mensagem de amor ao próximo e oração a Deus, lembrando ao usuário de aproveitar a ocasião para proceder análise de consciência. Eu mesmo mandei estampar as fotos dos netos nas fronhas. Alguns donos (os defino como donos porque o travesseiro torna-se uma propriedade particular) exigem, os cubram com cetim para sentirem melhor seu afago pela maciez do tecido. Nos sofás, se colocam travesseiros para dar conforto a visitantes. Embora, por preconceito, por achá-los peças íntimas o definam como almofadas. São neles que a vovozinha descansa a cabeça para suportar o peso da idade. É sobre os travesseiros em espaldar de cadeira, em noites insones, que velamos doentes; também recostamos doentes queridos nos leitos das macas; ajoelhados sobre eles nas igrejas, imploramos humildemente à Deus a cura do doente amado e dos pecados; a parturiente, para gozar de melhor posição na hora do parto, é escorada com travesseiros. Eles também servem como escora para as costas dos doentes e deficientes, aliviando de dores pelas longas horas em cadeiras de rodas; serve até para acomodar a bandeja de comida que vai servir ao doente; no próprio caixão mortuário, se coloca um travesseiro sob a nuca do falecido para o espírito gozar de relativo conforto na longa viagem de volta ao etéreo...Ou sem volta ?
Os fabricantes se esmeram em fabricar modelos, tipos e tamanhos de travesseiros, exaltando suas qualidades, com enchimento dos mais diversos materiais, classificando-os como anti-morfo, anti-alérgico e sua maciez, etc. Mas, por incrível que possa parecer, não lhes dão o devido merecimento e desconhecem seu valor sentimental e psicológico. Tão somente lhe exploram a parte comercial, o que não deixa de ser uma afronta a um objeto que os serve desde do berço não só para as maiores e melhores decisões como para alguns planejarem as mais negras ações.
Alguns homens, principalmente políticos, financistas, empresários, construtores, especuladores da bolsa, etc. têm o péssimo costume de levarem assuntos profissionais para o leito e, abraçados ao travesseiro, narram às esposas ou amantes, suas aventuras políticas e financeiras, jactam-se de suas fortunas nos paraísos fiscais, hábito que os tem levado à rua da amargura e desmoralização, como demonstram os inúmeros e depreciativos acontecimentos publicados pela mídia. Os fatos tornaram-se tão habituais e escabrosos que o chavão: Todos são inocentes até prova em contrário, deveria passar a ter a seguinte conotação: Todos são culpados até prova em contrário.
Antigamente no âmbito das quatro paredes de uma alcova, se guardava segredos invioláveis e sacratíssimos, desvelados sob a luz tênue de lâmpada colorida, com os casais deitados com as cabeças sobre travesseiros. A liberalidade de éticas morais permitiu que juiz aceite depoimentos de foro íntimo do lar. Após isso, muitos estão pagando elevados tributos com o rompimento do elo amoroso. Nessa altura, o fiel amigo pode se metamorfosear num feroz pitt-bull na cabeça de uma testemunha para denunciar o parceiro na justiça, numa vingança amorosa.
É quando alguns, em momentos de raiva chegam ao absurdo de esmurrar o travesseiro, dando expansão ao instinto violento; outros chegam ao ponto de maculá-lo, usando-o como arma para sufocar a traidora vítima.
Alguns pessoas gostam de exaltar sua condição de colocar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Serão sinceras ?
Os travesseiros, portanto, são os únicos amigos, confidentes, que participam de segredos e ou pensamentos mais secretos, bons ou maus, com absoluta segurança. Sobre eles, podemos confessar nossos pecados à Deus sem ouvir nenhuma recriminação.
Só me resta conceder um preito de Amor e Fidelidade aos travesseiros, lhes exaltando as qualidades de leais amigos.
Após mentalizar esta crônica sobre o travesseiro e sobre ele revisar seu conteúdo, veio-me à mente um pensamento irônico: As crises financeiras que levaram ao desemprego milhões e a falta de oportunidade para os jovens ingressarem no mercado de trabalho não os obrigam a deitar as cabeças (modo subjetivo) nos travesseiros dos idosos pais ?
Eis também uma piada concebida sobre travesseiros: Cenário: Dois pestinhas na cama dos pais a pular e gritar justamente na hora de fazer amor e dormir.: Ela comenta para o marido: É amor, gerar filhos é sofrer no paraíso. Ele responde: É bem, gerar filhos é usar a cabeça sem juízo.
Aproveito a oportunidade e apelo à todas criaturas para, com as cabeças sobre os travesseiros, realmente traduzirem em realidade os sentimentos de PAZ e AMOR, porque, com certeza, Deus mantém sob os travesseiros, Gravadores e Câmaras invisíveis. E São Pedro é um Seu cioso Procurador.
Para encerrar, peço aos entendidos me responderem: Rios e Pontes tem Leitos e Cabeceiras. E os Travesseiros?