E se fossem azulejos da oficina de António de Oliveira Bernardes?
Para continuar a retirar informação aos treze (mais 51) fragmentos encontrados, vamos ver o que nos diz a pincelada da parte vidrada. O que se segue, resulta de duas conversas tidas vai fazer 14 anos: uma, com o pintor Tomás Borba Vieira, na Caloura, outra, com o especialista em azulejos, José Meco, na cidade de Lisboa.
Por um critério de relevância inicial, antes de limparmos a parte não vidrada dos fragmentos, numeramos quinze dos fragmentos de 1 a 15. Por um critério de pertinência temática, seleccionamos alguns dos 15.
N.º 1 - Rosto de jovem alado (?). Tomás Borba Vieira: ‘Sobrevive muito da expressão linear de quem sabe desenhar. Mais desenho do que pintura. Bastante rebuscado. Com um sorriso fechado. É muito barroco.’ N. º 4 – Rosto de jovem. Tomás: ‘Feito à mão levantada. Mais pintura do que desenho. Mais rebuscado.’ N.º 6 – Rosto de criança (putto?). Tomás: ‘Parece ter sido feito por mão muito segura. Bem feito. Lembra muito Rafael. Renascença. A base do sombreado. Madona. Renascença. Por aqui se pode pensar que quem o fez era alguém do nível dos Oliveira Bernardes.’
A meu ver, as figuras dos N.º 1 e n.º 4, têm o mesmo jeito de nariz, trejeito de lábios, rosto oval e cabelos ondulados. Podem figurar em partes distintas do mesmo painel ou em painéis diferentes.
N.º 5 Moldura: mão em folha de acanto. Tomás: ‘Desenho de quem sabe lançar um traço.’ N. º 8 (7 A e 7 B): Moldura: folhas de acanto estilizadas. Tomás: ‘Pelo tratamento e escala, devem ser elementos secundários. Pontilhados; Traço vulgar. Nada de Novo.’
N. º 11 e 12: Molduras: com folhas de acanto. Tomás: ‘Vulgares. Não existem elementos de destaque. Muito em série.’
Que nos pode dizer o traço? Tomás: ‘Vê-se, na globalidade, que foram feitos numa boa oficina. Prova do que se afirma, são os sombreados de tratamento espontâneo. O n.º 1 é menos espontâneo no tratamento, é mais trabalhado. Traços diferentes de diferentes mãos ou de mãos que pintam de maneira diferente? É mais fácil dizer que é da mesma mão, do que dizer o contrário. Pode até ser a mesma pessoa, que pode ter tido mais cuidado em momentos diferentes.’
Quanto a José Meco: ‘O N.º 1 tem todas as características da pintura, mancha de António de Oliveira Bernardes.’ No que diz respeito às molduras, ainda Meco: ‘Encontro paralelo em molduras do Martim Moniz, Lisboa, igreja de Nossa Senhora da Saúde, e em Cascais, Igreja de Nossa Senhora da Nazaré. São molduras de colaboradores desconhecidos destes painéis atribuídos a António de Oliveira Bernardes.’
E se os nossos fossem mesmo da oficina de António de Oliveira Bernardes? Não seria caso invulgar, pois, o mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, tem painéis de 1712 assinados por António de Oliveira Bernardes, um dos mais importantes pintores de azulejo de Portugal (Beja b.1662 – Lisboa f. 1732). Vamos, então, dar uma vista de olhos à Esperança no próximo Perfil?
Mário Moura
Ponte dos Oito Arcos. Vai para 18 anos, referindo um testemunho oral, lancei o nome de António Jorge como hipótese de mestre desta ponte, 18 anos depois, uma nota de jornal diz-me que ‘ (…) o mestre-de-obras [foi o] sr. António Joaquim (…).’ Será este mestre António Joaquim o mesmo que mestre António Jorge? (Memórias da Ponte dos Oito Arcos da Ribeira Grande, 1996, p. 292)
Que: ‘Está fechado o último arco da ponte em construção na Ribeira Grande do Paraíso (…).’ Apesar de só em 1895, os parapeitos se terem concluído?
Persuasão, Ponta Delgada, de 10 de Junho de 1891, p. 3.