A Lenda do Peixe-boi
Dizem os índios que o peixe-boi surgiu em um lindo lugar na Amazônia, numa aldeia às margens do rio Solimões.
Nessa aldeia, havia uma jovem que era admirada por todos pela sua grande beleza e simpatia. Desde criança seu jeito gracioso e doce chamava atenção.
O tempo foi passando, ela foi crescendo em tamanho e graça, sempre sendo amada e querida por todos. Até que se tornou uma jovem esbelta, inteligente e charmosa.
Agora ela já estava na idade de escolher um rapaz para se casar. E isso despertou a cobiça de um velho pajé, que desejava se casar com a bela jovem.
Esse desejo do velho pajé contrariava os costumes da tribo, pois só era permitido aos homens terem uma só mulher, e ele já era casado.
O velho pajé estava cego de paixão, e só pensava em conquistar a jovem índia a qualquer preço. Ele tentava usar seus poderes mágicos para enfeitiçá-la. Assim, preparava poções e amuletos para atrair atenção da garota.
Em algumas festividades o velho pajé preparava banquetes em sua casa e convidava muita gente para participar. Ele aproveitava aqueles momentos para oferecê-la comidas e bebidas encantadas. Às vezes ele presenteava a moça com colares ou pulseiras enfeitiçadas.
A jovem moça, em sua inocência, nem se dava conta do que se passava no coração daquele ancião. Ela comia e bebia sem se preocupar, e também usava os presentes sem desconfiar de nada. Entretanto, para surpresa do velho pajé nenhum de seus feitiços fazia efeito sobre o coração puro da jovem.
O velho pajé era casado, tinha filhos e netos, mas não se conformava. Ele estava totalmente cego por aquela louca paixão, e só pensava em ter a moça como sua segunda esposa, mesmo contrariando as leis da tribo. Ele acreditava que seus poderes seriam suficientes para conquistar à força o coração dela.
Em poucas semanas iria acontecer uma grande festa – o festival das colheitas – e o pajé planejava realizar uma grande demonstração de seus poderes, fazendo feitiços poderosos e assustadores, causando espanto e temor em todos da aldeia. Assim, ele usaria aquele momento para declarar suas intenções, acreditando que os índios por medo iriam aceitar sua escolha de ter a jovem como sua segunda mulher.
Assim que começou o festival, o pajé ficou aguardando no centro da aldeia para iniciar seus feitiços. Mas foi pego de surpresa quando a bela garota chegou acompanhada de um rapaz e anunciou que iria se casar com ele, pois já estavam apaixonados há tempos. O rapaz declarou emocionado que ele amava profundamente a bela moça e estava decidido a se casar com ela, para terem muitos filhos e viverem juntos até o fim de suas vidas!
Aquela notícia foi recebida com grande entusiasmo pela tribo. Os pais, irmãos e irmãs da jovem se alegraram com sua escolha, pois o rapaz também era bastante querido e respeitado por seus familiares e amigos. Aquela noite do festival foi realmente especial, pois aquela notícia foi mais um bom motivo para que os índios se alegrassem e comemorassem.
Contudo, nem todos estavam satisfeitos com aquela noticia inesperada. O velho pajé ficou furioso quando ouviu a bela garota anunciar seu amor por outra pessoa. Aquela declaração pública frustrou seus planos perversos.
Mas, os ciúmes que ele sentia iriam leva-lo a planejar uma cilada para o jovem casal. No dia seguinte, o pajé mandou que os noivos mergulhassem nas águas do Solimões, e procurassem no fundo do rio um presente precioso. Os índios sem desconfiarem da maldade do ancião, pularam n’água à procura do presente.
Na mesma hora, o pajé enfeitiçou duas talas de capim que cresce às margens do rio e jogou sobre o casal, transformando-os num bicho até então desconhecido pelos índios, o peixe-boi. Quando os outros índios viram aquilo ficaram revoltados e saíram em perseguição ao invejoso pajé, que fugira para o meio da mata.
Os índios não conseguiram capturar o fugitivo, e voltaram tristes para a aldeia. Todos ficaram surpresos quando voltaram à beira do rio Solimões e viram os dois peixes-boi apaixonados nadando alegremente.
O velho pajé mesmo estando bem escondido na mata foi encontrado por Tupã que o castigou por sua maldade, transformando-o no capim canarana, para que ele passasse o resto da vida na margem do grande rio, observando a felicidade do belo casal. Além de ser obrigado a ver a felicidade deles, o pajé dali me diante seria a principal comida dos peixes-boi.
Como diz o ditado: “o feitiço virou contra o feiticeiro”. O velho pajé que estava cheio de más intenções e não aceitava a alegria da moça com outro rapaz foi punido por sua inveja e maldade. Por outro lado, o belo casal continuou vivendo feliz mesmo tendo sofrido aquela transformação.
Naquele ambiente aquático do majestoso rio Solimões os jovens índios mantiveram acessa a chama de seu intenso amor e constituíram uma família feliz. Eles tiveram filhotes e passaram a ser ainda mais admirados por todos da tribo, que dali em diante elegeu o peixe-boi como um símbolo especial da cultura dos povos indígenas da Amazônia.
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Ilha de Marajó - PA, Março de 2014.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187
Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior