A LINGUAGEM METAFÓRICA

Bem, já que entendes que o poema apresentado “não é menos poesia por não conter metáfora”, pode-se ampliar o conceitual pelo viés genérico: sem figuras de linguagem não há como se constatar a Poética no textual. Porém, em verdade, só se consegue entrar nos escaninhos da linguagem em sentido conotativo – fugindo do usual e costumeiro (sentido) denotativo – através da linguagem metafórica. A metáfora é uma das espécies do gênero linguagem figurativa ou estilística, e a meu ver é a mais expressiva delas. Na intenção de instigar os novos e os novatos (e alguns recalcitrantes em atender aos preceitos da própria poética) é que ressalto que a ausência de metáforas não permitirá a entronização do autor (e/ou seu alter ego produtor do poema, que é a materialidade da Poesia) aos territórios oriundos do Mistério, o único que pode produzir a Poesia. Fora disto, teremos o poema sem o mágico e surpreendente condão de Dona Diferente... Aquela linguagem que não se fala em todo momento, nem se a constata em todos os conjuntos textuais que o autor pretende ou cataloga como fora Poesia. Fernando Pessoa, o português do universo, já se manifestava, há cerca de 100 anos, sobre tal questão. Poesia não é linguagem para todo momento, mas pode servir de consolo pra todo o dia...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

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