Escrever
O ato de escrever, segundo um escritor de relativo sucesso:
É um câncer, uma lepra voraz que destrói não só a quem a possui, como àqueles que são tocados por tal paciente terminal. Depois de ler e reler os maiores leprosos deste mundo sombrio da literatura, algum mal devia mesmo sobrevir aos incautos e curiosos leitores.
Todavia, não pode ser comparado o dano causado aos leitores como ao que sobrevém aos escritores, que buscam descobrir as mais recônditas anomalias das almas dos literatos.
Eu conheço crianças que já dominam os segredos mais perigosos desse universo das letras, que são postas em desordem por espíritos da literatura, para serem organizados por meia dúzia de pessoas capazes de tal feito.
Há, sem dúvida, alguns milhões de enigmas nos textos mais inocentes, e a prática da leitura com um vigor e com um temor salutar dos seus criadores, nos leva a descobrir tesouros escondidos de imensurável valor. Há, ainda quem diga que, ler de mais pode ser perigoso, desenvolve uma consciência alucinada e que muitos enlouqueceram simplesmente pelo fato de ler de mais.
Admito que louco não sou mais, pois a leitura me ensinou a dominar e equilibrar minha anterior personalidade, que hoje, a meu ver, era sim um estado de torpeza lunática. Hoje estou consciente de uma coisa: não posso mais viver sem ler, no mínimo 100 páginas por dia, e sem escrever no mínimo dez, seja em forma de poemas ou de textos avulsos, ou dentro de um projeto maior como um romance. Não importa. Se isso é loucura? Quero continuar louco por muito tempo.
Brasília evan do Carmo 03/12/2006