Ensaio sobre a moral do sexo.
Outro dia, lendo um jornal sem a menor expressão cultural, surpreendeu-me sobremaneira o que vi; um poema quase lascivo; para um leigo na métrica poética, diria mesmo se tratar de um poema erótico, ou de um poema proibido para menores. A maestria de Drumonnd, onde ele fazia um apontamento do que é o orgasmo para um senil. Então pensei comigo, por que não fazer algo semelhante, é claro que não quero que me confundam com um poeta vulgar, pois foi isso que pensei à primeira vista ao ler tal texto esquisito.
Ao poeta é concedido o direito de entrar e sair em qualquer labirinto, todavia, aos olhos dos homens comuns, dos que não sabem a caneta usar na medida certa, fica um tanto fácil criticar as agulhadas que saem como flechas certeiras no peito dos mortais. É isso que sente aquele que não tem coragem de dizer aquilo que as pessoas não querem ouvir. Falar de um modo grosseiro do ato profano de amar, de sentir prazer, só pode vir mesmo de quem não tem compromisso com a hipocrisia natural a todo homem. Animal sim, quem não admite que o homem seja? Não obstante, os mesmos que se permitem ser brutal, animalesco, procuram disfarçar suas atitudes grotescas e as suas barbáries, afirmando que também são criaturas quase divinas. Este senso comum de que todo homem traz dentro de sim o bem e o mal, assusta sobremodo que em seu modo livre de viver afirma ser apenas mal o tempo todo. Santo não são os homens, nem vocação possuem para tal heresia.
“Entre quatro paredes tudo é permitido”. Que axioma incomparável, visto que assim se desculpa toda e qualquer anomalia humana. O “amor” não tem nada de sacrossanto, de celestial. O amor é o ato mais profano que o homem concebeu à parte de Deus. Não foi Deus quem disse “sede fecundos e tornai-vos muitos?” Não era preciso ir tão longe para autorizar a bigamia. Diria Voltaire, em seu agudo discurso contra a moral divina, que é aí que mora toda virtude dos homens para celebrarem as núpcias carnais sobre um lençol sagrado. Imaginem, por exemplo, a percepção dessa moral: os homens que se casam, passam a ser donos e senhores absolutos de suas mulheres, e estas, não podem em hipóteses alguma abandonar seus senhores. Esta concepção de direito conjugal logo seria contradita por Deus pela boca de Moises. Se as mulheres se tornassem um estorvo para seus caros donos, os mesmos podiam lhes concederem altruistamente o certificado de divorcio. Aí, tudo acertado, podia o homem, apenas o homem se unir maritalmente à outra virgem, desde que a mesma fosse de família nobre.