O AFETO É UMA ATITUDE

“Que bom poder ter essa certeza de que Deus existe, se revela e nos cuida. Temos a mania de que é necessário alguém para nos guardar. Somos gatos – lassos – sempre esperando mimos: alguém que nos passe a mão no pelo. A sensação boa que a proteção nos dá remete à origem placentária. Verdade é que nunca nadamos sozinhos no aquário de viver. E os gatos sempre à espreita...” Joaquim Moncks, in O AQUÁRIO DE VIVER.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010/14.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/2645631

– Marilú Duarte, por e-mail, em 14/02/2014:

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; (...) E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”. John Donne, poeta inglês.

Somente a partir de uma visão holística é que se pode encontrar Deus. Há em cada um de nós noções de singularidade, de liberdade e de responsabilidade aliadas a uma necessidade urgente de acolhimento. A crença neste Deus idealizado nos encoraja na aventura da revelação e reconstrução. Nossas necessidades e desejos potencialmente criativos se alargam fazendo com que acreditemos que além de nós mesmos, existe o milagre, e este é infinito. E tal como a Fênix, a cada tropeço, apostamos sempre em um novo recomeço. Deus é a válvula de escape nos momentos mais inusitados e difíceis de todo o caminho. Inexistindo o ser absoluto, o todo é um emaranhado de fatores existenciais predominantemente impessoais, que costuram combinações transitórias; figuras holográficas superpostas, redundantes e tridimensionais: a parte no todo e o todo em cada parte.

"Somos gatos – lassos – sempre esperando mimos: alguém que nos passe a mão no pelo.". JM.

A metáfora “felina” caracteriza de certa forma a natureza instintiva e primitiva do homem. Esta, na exata medida em que vai sendo utilizada como caracterizadora de expressão e movimento, automaticamente vai incorporando o surgimento de experiências psíquicas em relação ao inconsciente. Para Hillman, a imaginação é um grande animal, movendo-se vivo e independente, nos mais diversos formatos. O texto poético em questão nos confirma que a fantasia é a atividade arquetípica da psique, permeada por emoções e sentimentos. É através do vínculo social que vamos estabelecendo as mais diversas relações ao longo da vida. O que vai nos diferenciar uns dos outros são as particularidades, os traumas e os conflitos iniciais ou em curso, e que fazem parte da história de cada um de nós. As emoções são expressões afetivas que se manifestam em reações intensas e breves do organismo, respondendo a um acontecimento inesperado. Já o afeto é uma atitude e não apenas um sentimento, e, sendo assim, precisa ser cultivado. Por esta razão ocorre a necessidade do toque, através da carícia e do abraço. Apesar de conceituarmos as emoções como uma forma de expressão afetiva, ela acontece inicialmente como uma experiência interna: “algo que intensamente sentimos”. Sempre que nos comparamos com um animal, estamos desenvolvendo a nossa subjetividade e desta forma descobrindo o que somos e o que nos estrutura mentalmente sob a influência da fantasia arquetípica. É através da imaginação e dos insights que surgem novos visuais em que as molduras reaparecem diferenciadas, afastando os obstáculos que separam ou minimizam a percepção, dando lugar a uma nova elaboração de conceitos, sonhos e projetos. Segundo Jung, o inconsciente não é apenas um fenômeno pessoal, mas também coletivo: sofremos influências de um conjunto de forças extremamente atuantes e imperceptíveis. É necessário, portanto, em todo momento reconstituir e reorganizar a trilha já percorrida para que possamos ter livre acesso a esse grande aquário chamado Vida. Marilú.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA II, 2014. Joaquim Moncks / Marilú Duarte.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4692648