MINHA PARCA CERTEZA DE MIM, EM BUSCA DE RESPOSTAS
Caro leitor, antes de lhe apresentar o que segue, não poderia, sob pena de me parecer leviano, deixar de lhe esclarecer que o se lerá, é apenas e tão somente uma breve, para não dizer, desimportante, contribuição do que entendo ser o quão da importância da filosofia. Também, com esse intuito, tento consignar, minha visão e compreensão, da minha pouca familiaridade com o estudo da ontologia. Porém, saibam, são minha impressões, e como tais, passíveis de falhas. Nesse sentido, conto com a benevolência de todos.
Aquilo que me escapa à compreensão de mim, empurra-me ao abismo da dúvida, porém, na busca pela superação, dotado de certa aparente certeza, não ignoro o quão me é movediço o solo. E assim, transito por caminhos que sei, antecipadamente, trazem no solo pavimentado por mãos alheias, ordens e desejos que me induzem à complacência. Nesse sentido, não tardo para, ao olhar ao espelho, o outro que se me mostra estranho, sem dizer nada, retira de mim tudo o que me imaginava saber.
A par e vítima da desilusão que se mostra irrefutável, a considerar, tomado de certa dose de ignorância patológica de quem sou, não posso ver aquele que o espelho me mostra como o outro eu, posto que, sendo o espelho e o que ele reflete outra imagem que, somente em aparência, se parece comigo, qualquer afirmação, por mais contundente possa parecer, nunca me será eu comigo mesmo. É que, sendo o espelho, apenas e tão somente, objeto, cuja única e não outra, função é de refletir imagem, posso deduzir que a imagem refletida é apenas um simulacro do que eu posso ou poderia ser.
Sou eu comigo mesmo somente se eu me tomar como ser dotado de elementos que me constituem filosoficamente. Dito de outra maneira, é como se eu dissesse que somente no instante em que eu tenha consciência da minha ontologia, portanto, da minha condição de ser, independente do como sou visto, posso eu extrair dessa assertiva que sou para além da matéria. Não sou espírito, nem tão pouco, somente massa. Sou uma entidade, não no sentido atribuído às divindades e ou à alma. Sou uma entidade na medida em que sendo eu constituído de ente, isto é, de um ser que me escapa à razão, mas que, reconheço como sendo eu, afinal, minha noção de minha própria existência, só se estabelece quando vejo o mundo e me sinto relacionado com ele. É mais ou menos com o que Heidegger define como ser-no-mundo, isto é, dotado de uma existência irremissível e adstrita a cada pessoa, portanto, alheia às definições e ou compreensões do que de mim possam fazer.
Mas ai vem outra dúvida, dentre tantas, que é se não tenho compreensão de mim, o que me resta? A isso chamo de abismo, pois, na medida em que nem seu tenho compreensão de mim, o abismo, o vazio, o infinito se abre sob meus pés. Resta, nesse sentido, a dor, a ignorância como únicos elementos nos quais tenho que me apoiar para que, ao ter essa certeza, eu possa, na luta pela superação desse estado, e não querendo nele continuar, garantir mínimos aparatos que me ajudarão no meu próprio salvamento.
Então, ao ter certeza do abismo que se apresenta, só me resta, como corda de salvamento, o apego à filosofia. Somente a filosofia, como ferramenta auxiliar nessa descoberta, somente ela poderá me salvar, posto que, a busca incessante de saber quem sou, é que me será a tábua que me manterá vivo no mar do conhecimento, no qual estando à deriva, a tábua que flutua à minha frente será ela a única possibilidade de sair existindo.
Assim, minha parca certeza é toda ela fruto de uma busca sem fim, um desejo incondicional e inegociável para com toda e qualquer tentativa de dar uma resposta cabal da finalidade das coisas.
O que me leva a poder afirmar que minha parca certeza é o combustível de que preciso para estar afinado, em parceria, com o que entendo ser o caminho dos bem aventurados.