POESIA NA INTERNET

Luciana Carrero

Eu ando pela Internet desde o final do século passado, mas, o computador, já possuía antes. Passei por todas as ferramentas, desde o início com uma máquina de escrever (locomotiva preta) Royal. O computador é o máximo. Há muitos anos que uso para compor, e agora para editar meus e-book simultaneamente, quero dizer imediatamente. Daqui meu poema vai ao Japão em fração de segundos. Tenho fãs na Malásia, vejam só. Mas nunca abandonei papel e caneta. Já conheço a mediunidade da minha Poesia. Às vezes requer papel, outras computador. O computador, para a cirurgia do poema, é o máximo. Imagine se Voltaire tivesse essa ferramenta! para escrever sua enciclopédia. Camões teria escrito dez Lusíadas e por aí imaginem. Mas tem o lado grotesco, que me incomoda, dos que defecam pseudo-poemas na Internet e desmoralizam a Poesia e os poetas verdadeiros. Eu preciso contar melhores histórias e experiências, memórias, seja lá, até. Mas tenho muita preguiça para escrever em prosa. Acho que ninguém é poeta o tempo todo, que a poesia aparece no meio das minhas alegorias, em maior ou menor grau. Está certo, não comemos camarão todos os dias. Vou remoendo meu feijão com arroz, tal uma vaca velha remoendo o pasto. E vou levando, já que não me considero capaz de uma missão nesta arte. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e um poeta Avatar também não. Depois do avatar Quintana, esperaremos mais quinhentos anos para surgir outro em nossa área. Na melhor das hipóteses, uns cem anos. Certo, não serei eu, graças a Deus, porque sou opiniática demais para ser poeta purista e essencial. Isto porque para o poeta, a única posição que cabe, a não ser em caso dos engajados, é a da nobre distância de posições, que só prejudicariam a sua Poesia e o afastariam dos seus leitores. Me debato muito nestes conceitos, como num pesadelo. Os poetas têm a sua missão, e eu rezo a minha missinha. A Internet me alivia e é um foguete onde voo melhor, nunca dispensando o papel e a caneta, lápis, o que for, quando necessário. Nunca tive a honra, a oportunidade e a emoção de Anchieta, que desvirginou a areia para escrever um poema à virgem, na praia. Nem a estupidez do dadaísmo de paredes. Mas dispenso o papel, quando acordo na madrugada e retenho o poema que recebera nesta hora. Até levantar e procurar uma ferramenta, papel, caneta, batom, Word. E meus dedos não têm esta sensação de escrever e fluir um poema sem teclado, que eu chamaria de "toque", aproveitando a figura da psiquiatria. (risos)

A Rede é a casa do mundo e também moro nela. Vou fazendo tudo online, muitas vezes, e corrijo ali mesmo. Transpiro pouco em cima do poema e não considero, para mim, necessário ficar maturando ou burilando, como preconiza o mestre Joaquim Moncks*, com o que transmite de conhecimento e experiência, mas não sou fanática. Meu poema é da hora, do cotidiano e toma o seu rumo. Se vou esperar maturar dois anos, perde-se a ocasião, pois todos os meus poemas têm a ver com o momento conjuntural do mundo. Porém, como disse, outros têm missão e eu a minha missinha. Vou rezando como posso, modestamente, poetisa marginal e indisciplinada. Certamente não vou ganhar o Prêmio Nobel.

* Lembro que Joaquim Moncks é autor riograndense com mais de 2.000 textos aqui no Recando. E somos parceiros na convivência fraterna e na troca de experiências em torno de atividades lítero-artístico-culturais.