Psicologia da Educação: o clima da aula
Historicamente a Psicologia da Educação tem tratado dos seguintes temas: "os processos de aprendizagem individual e de grupo, o clima de aula; a organização escolar, o currículo, a metodologia de ensino, os materiais didáticos, a medida das referências individuais, o desenvolvimento infantil, os instrumentos de avaliação das aprendizagens, os objetivos e finalidades da educação" (SALVADOR, 1999, et al).
Neste ensaio será tratado especificamente sobre Clima de Aula. Trata-se de um texto que está em processo de revisão e elaboração constantes.
1. Clima de Aula
Aprende-se mais sozinho ou em grupo? O aprendizado é importante individualmente e também em grupo. O grupo serve para socializar os saberes. No grupo as dúvidas são públicas, isto é, podem ser ditas para todos e por isso, podem são melhor interagidas. Nem tudo que acontece na aprendizagem em grupo é bom. Muitas vezes, os alunos se sentem motivados a competir. Se for no ensino médio, isso muitas vezes se acirra. A competição, seria evitada, se a aula fosse individual. No entanto, nas Escolas Públicas Brasileiras esse hábito não foi instituído.
O pertencimento ao grupo no Brasil ainda é algo confuso e cheio de armadilhas. Nós brasileiros temos uma tendência forte de nos mostrarmos demais. Somos motivados a sermos melhores que os outros. Na sala de aula, é muito comum haver uma competição dos alunos nesse sentido. Gera-se uma disputa, entre quem é o mais inteligente. Quem é o mais rico. Quem é mais 'garanhão' (no caso dos meninos), etc. Geralmente, os meninos ficam querendo ocupar esse posto. Acontece na educação básica, mas isso se repete no ensino superior.
Os motivos que levam a isso não são claros, pois não são verdadeiramente observados ali, diretamente na sala de aula. Mas se devem a fatores emocionais. Geralmente, a inveja acomete os estudantes. É comum meninas terem invejas das outras. A mais bonita da sala fica se exibindo. Quer mostrar às demais que é mais bonita, mais 'gostosa'. Nesse ínterim, muitas vezes, ela não se impõe na sala como inteligente; como 'nerd'; mas transparece que é melhor do que a outra, 'naquilo que interessa'. Ou seja: um jogo de poder é ali instalado e permanece disfarçado na sala. É disfarçado muitas vezes durante a aula, dado que o professor, se for sério e duro, manterá a turma em silêncio. Este silêncio impedirá os alunos de falarem, de participarem, e portanto de mostrarem seus conflitos pessoais. Ou seja: não comparecerá a inveja que um tem do outro.
Em algumas escolas públicas esse sentimento competitivo já comparece de maneira manifesta. Como os alunos de periferia costumam 'não ter papas na língua', quer a gente goste ou não, é o que acontece. O resultado, é que eles manifestam suas inquietações de maneira mais ampliada. Isso é ruim, pois gera um sentimento de pouca diplomacia em sala de aula. Geram mais conflitos!. Mais problemas são manifestados, e em geral ocorre baixaria. Como no Brasil disfarçamos as coisas, melhor dizendo: fingimos não ver, então encaramos como algo normal. Na verdade, hoje vivemos uma crise da banalização dos valores. Tudo torna-se normal. A aluna xinga a outra na frente da professora, e a professora finge não ser responsável por aquilo. Como é difícil impor limite, às vezes, até impossível em determinadas situações, deixa-se a coisa caminhar daquele jeito. Quem perde com isso? Todo mundo. Perde a turma, que ao se gerar um clima de que tudo pode, isto é, de permissividade, então o outro, que até então era quietinho passa a querer 'mostrar suas garras' também. O resultado é que logo, logo o desrespeito vai para cima da professora. Ela, indiretamente foi afetada na sua autoridade, e no longo prazo será desautorizada pela turma.
Em síntese, em grupo, várias emoções se manifestam. Vários sentimentos são ali apresentados. Uma turma pode ter um comportamento X com o professor de matemática e ter outro totalmente diferente com a professora de letras. Podem ficar sérios e observadores na aula de física, e se sentirem intimidados na aula de matemática. Podem ficar relaxados na aula de português, e podem achar a aula de artes uma bagunça. Enfim, o comportamento em grupo se manifesta de diferentes formas e tudo depende do contexto e principalmente da autoridade dos professores. Evidentemente que 'andorinha sozinha não faz verão'. Ou seja: se o professor tem autoridade mas a escola não, o resultado será um fracasso em sala. O professor não conseguirá impor sua autoridade como deseja, dado que os estudantes já percebem no contexto como a Instituição funciona.
Chamo a atenção para esses diferentes comportamentos da turma em função dos diferentes professores. Na verdade, esse comportamento não acontece somente na escola. Acontece fora também. Assim são nos grupos sociais que participamos. Na Igreja nos comportamos de uma forma. Numa boate de outra. Numa fila de banco somos de uma maneira. Ao chegarmos numa cidade nova, evitamos sair à noite e assim por diante. Ou seja: as regras do grupo só depois de serem conhecidas é que são testadas. Na sala de aula, é também assim.
O aluno entende que está ali submetido às regras da escola. E em sala de aula, a regra é imposta pelo professor. Ele detém as regras e o comando do grupo depende dele. É claro, que isso não torna o professor um carrasco. Só ele tiver essa conduta. E isso também não significa que o professor deva ser um 'fora da lei'. Ao contrário, o fato de ele ter o 'lugar' para mandar na turma, e o aluno, sabe disso, torna o professor mais confortável. Porque, ali o contrato está estabelecido. É claro que um espertinho ou espertinha vai querer testar a autoridade do professor, o que é muito comum.
Na verdade, os alunos percebem certas fragilidades dos docentes. Percebem quando o docente tem certo receio de falar; quando determinado conteúdo não está bem explicado. Percebem quando o docente opta por ministrar uma aula mais participativa, podendo servir para mascarar seu medo de enfrentar a turma com uma aula expositiva. Isso não significa que o professor não saiba ou não queira ministrar a aula em formato expositivo. Mas, no imaginário do aluno, às vezes comparece que o professor não tem domínio de conteúdo.
A própria feição do professor; ficar nervoso com uma pergunta teórica. Fingir que não viu o aluno querendo perguntar. Não saber responder diretamente, sem rodeios uma pergunta. Isso, afeta diretamente o professor em sua emoção. E, com certeza, vai despertar no espertinho a vontade de testar a autoridade do docente.
Enfim, o clima da aula é influenciado por diferentes fatores subjetivos. E a maior partes destes fatores é de origem individual. Advém da neurose de cada estudante, assim como da neurose do docente. Se o professor for mais interessante, isto é, mais carismático, certamente essa distância entre o docente e aluno diminuirá. Todas às vezes que o docente quer impor uma autoridade, a chance dele ser confrontado é muito grande. Na Educação Infantil isso é disfarçado pela gracinha da tia, que diante dos meninos, ameniza seus conflitos. Como ela é 'substituta da mãe', torna mais familiar amá-la. No entanto, se ela se tornar autoritária, aí 'nós meninos nos revoltamos'. Assim, funciona na escola. As criancinhas não são aquele berço de santidade, como pensam alguns adultos. Apenas, sua aura está presente pelo fato dos conflitos estarem encobertos. É só pisar no calo da criança, que ela se rebela.
No mundo adulto, onde a neurose já está pronta, a coisa é pior. Ali, o aluno dos seus 15 anos já se sente no direito de enfrentar a professora. Quer mostrar que sabe mais. Quer dizer para os demais meninos que ele 'é o cara'. Aí, fica querendo subir encima dos outros. Isso vai acontecer se houver da parte dele essa tendência. Se a professora lhe chamar pelo nome; se brincar com suas perguntas. Se ele for tratado de maneira mais espontânea, aquilo que é de pior nele poderá não se manifestar. Se ele, de repente se interessa por uma garota da turma, certamente esse ódio também diminuirá. Ou seja: é o professor que deve ter a simpatia para saber lidar com os diferentes problemas que afetam o clima da aula. O professor deve ter, acima de tudo, sabedoria.