Todo silêncio é frágil
“Todo silêncio é frágil”
“Toda palavra é uma gaiola de ouro”
“Toda unanimidade é burra”
Vou começar este ensaio com uma frase do jornalista Luiz Caversan, “O duro é deixar a borboleta ir”. Quando eu li esta frase no contexto do artigo “A gaiola e a borboleta”, senti um calafrio, daqueles de dar medo. E talvez por isso resolvi escrever, não só por isso, mas pelo momento em que vivo e muito porque eu encontrei uma razão (de viver) para mim, razão esta, que não está somente em mim, mas que se estende ao território estrangeiro onde não se pisa.
A beleza da borboleta me encanta. Sua fragilidade, suas cores, sua liberdade, sua metamorfose, sua capacidade de se diluir no tempo, se dissolver e se refazer em coisas que se confundem entre ambiente e ser, estar e querer.
Eu quis pegá-la com as mãos, mas tal fragilidade não se segura. Construí uma gaiola de ouro, com todo o carinho e amor que pude lá colocar, mas não vou prendê-la, pois nem todo ouro, nem todo carinho ou amor, poderão segurar seu fugaz temperamento. Como agir então?
Eu continuo aprendendo e minha ciência é empirista. Resolvi abrir a mão, deixar a palma como repouso, porto seguro, abrigo de céu de estrelas, observatório próprio para admirar o alheio, a beleza da borboleta que ali pousou. Como eu desejei fechar os dedos, segurar, reter, tomar, agarrar, fixar, estabilizar, aprisionar em minha gaiola... “Eu quero, eu adoro, eu venero, portanto vou construir uma gaiola de ouro para a minha borboleta”.
E essa gaiola estava pronta, eu não sou uma pessoa perfeita, queria mostrar um lado que você não conhecia e decidi destruir minha gaiola de ouro. Não, não posso aprisionar o que mais amo, preciso deixá-la livre, mesmo que distante. “Não importa, o fato é que saber apreciar a liberdade é uma arte, diga-se das mais difíceis”.
Então, estou do ponto de vista do observador. Quero apreciar suas cores, sua vibração, o bater de suas asas, a silhueta que se forma com o roçar dos raios de sol, a sinuosa trajetória dos seus vôos... Há lágrimas em meus olhos, como um imenso amor na palma das mãos. Há sorriso, mas também incertezas. Há complacência, mas também discordância. Há compreensão, e sobretudo, há liberdade.
“Amar pensando em oferecer gaiolas de ouro não tem segredo: basta dedicar-se com afinco à ourivesaria da possessividade. Mas saber apreciar desapegadamente o vôo delicado da borboleta, isso é para poucos e bons”.
*As citações foram retiradas do artigo do jornalista Luiz Caversan.