A VOZ DA HUMANIDADE

O leitor procura desesperadamente se identificar no texto lírico-amoroso – especialmente os afetos que esperam atenções – porém isto só ocorrerá quando a peça lhes disser algo mais do realmente é: um alinhavo de palavras com algum sentido e imanente beleza. Falamos deste fetiche quando dizemos que a Poesia é a voz do Mistério, o único que a faz fluir, efetivamente, como obra de arte, na qual o espiritual inusitado conflui-se numa sensação de estranhamento. De qualquer modo, no rigor estético, nunca interessa a quem o escrito se destina, qual foi o motivo originário, ou quem é o personagem, e sim o estabelecimento da relação literária, que se dá pela conexão com outro polo desta. Aquele em que o receptor se apossa do texto como se a proposta tenha sido criada para a sua pessoa ou, enfim, para o aficionado que entrega a afetividade decorrente ao autor do texto, o qual mexeu com o seu substrato emocional. A isto chamamos empatia, que é a identificação de um sujeito com outro ou quando alguém, através de suas próprias especulações ou sensações, se coloca no lugar de outra pessoa, tentando entendê-la. Ou seja, uma eficaz sintonia para com a proposta que o texto contém. E que fala por si ao receptor, como a inteira voz de sua humana condição...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

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