BREVÍSSIMO ENSAIO SOBRE O EU SÓ
Ser o vasto eu só: o momento sublime do entregar-se consigo mesmo. Momento único, um privilégio mesmo em dar-se ao tempo de conhecer-se a ti mesmo, sem as amarras, as máscaras construídas e impulsionadas para o bem viver segundo regras e normas que aprisionam a espontaneidade.
Um ser assim constituído não é ele em si mesmo; é um arquétipo, uma idealidade despossuída de si mesma, um projeto de representação com papel e script determinado por parâmetros, em sua grande maioria, prescritos para atenderem estruturas que o oprimirão em nome da boa e saudável convivência.
Um sujeito assim constituído, enquadrado e vigiado, nada mais será que um resquício do que um dia poderia ter sido. A inconstante saciedade com que o sistema lhe sugará, feito sanguessuga, nunca será finda, pois que, a certeza com que lhe terão às mãos, lhe fará dócil e impassivo. O cão alimentado e adestrado, nada mais, além disso, serás aquele que assim se entrega.
Um vasto eu só, o grito de independência, o brado, o relâmpago em forma de gente, o relâmpago a romper os céus plúmbeos do venerado sistema. Assim deve ser. Assim sempre deve ser todo aquele que se quer seu. Um sujeito predicado e objeto do seu destino; um sujeito vasto como a floresta e seus habitantes, uma sujeito natureza, um sujeito sol, lua e estrelas. Um sujeito divino em si mesmo.
Um vasto eu só, um Big Bang cósmico como nunca imaginado. Um vasto eu sujeito, ação e consequência, sem medo, sem pudor e sem desculpas.
Ser o vasto eu só, sujeito e escravo de mim mesmo. Sujeito do meu destino e escravos dos meus desejos, um sujeito aristotélico, dialético, sem preocupação com assertivas e pensamentos certeiros, Um sujeito puro, simples e despretensioso.
Ser o vasto eu só; temos esse dever; lutemos por ele.