NO AMAR, A ABSURDA ENTREGA

“Muito inspirador esse texto “POR E PARA ALGUÉM”, que aparece em http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/4557076 . Por vezes a rotina, os desentendimentos, etc., acabam com o encantamento. Para mim, este capaz de produzir o poema parece coisa de um mundo inexistente. Esse amor pleno e constante fica sempre por conta da imaginação sonhadora, no qual os poetas e compositores vivem a idealizar, em suas mentes sonhadoras, o par perfeito, puro de coração e sentimentos. Exatamente aquilo que a rotina e a constância modificam, no mundo real. Fósforo, o amar? Adorei a metáfora!”

– Marisa Dias, em privado, pelo Facebook, em 06Jan2014.

O feminino, em sua maioria, não aprecia o que me parece uma constante: o poeta, em regra, canta em seus versos a mulher que ele só consegue possuir em seus arroubos líricos, aquela da qual ele não consegue dispor, por esta ou aquela razão, no mundo dos fatos... E quando canta a mulher de seu dia a dia, é por pouco tempo, só enquanto dura o encantamento... Esta, usualmente, continua envolvida por aquele que lhe dedicou os versos, elevada à condição de “musa”, capaz de integral permanência no coração e nos versos do seu vate predileto. Veja-se Vinicius: “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure”. Enfim, esse é o sentimento do amar, que como comumente se diz, é cego, por não se reconhecer lucidez total naqueles lapsos de envolvimento, no exercício amoroso. Enfim, creio que nos jogos do amar, sempre um dos polos ama com mais profundidade e se dá ao outro com uma entrega tão profunda que não tem capacidade para aferir se o outro polo também ama em igual patamar, e nem quer, no fundo de sua psique, imaginar a possibilidade de não vir a ser a dona deste amor... No mais, quem AMA ou IMAGINA QUE AMA – em absurda entrega possessiva e egocêntrica sobre o seu par – só consegue ver o que lhe é favorável, e tenta construir e/ou consolidar a qualquer preço a relação de convivência que lhe completa no plano afetivo... O alumbramento que o amar proporciona e as descobertas dele decorrentes podem produzir tudo, especialmente o desaguar lírico-amoroso traduzido em poemas de gozo e louvação. Porém, o doce sentimento amoroso em regra não é de exercício constante, no entanto, pode ser intermitente e/ou sazonal entre os parceiros, reativando-se a chama... Quando este envolvimento ocorre durante todo o período de convivência, de conúbio matrimonial, aí se constatará a excepcionalidade. Porque, por natureza, o amar é fósforo...

– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4645535