Ocultar A Própria Dor

Carrego em meu peito algumas dores da alma; algumas cicatrizes deixadas pela vida. Não obstante o não ignorar as minhas dores, pois afinal elas são minhas, eu disfarço esse sentir, para não entristecer as pessoas que me amam. É óbvio, porque também as amo, e não desejo vê-las sofrendo por mim.

Ocultar a própria dor com o propósito de não causar mais dor a quem amamos, é um sentimento nobre. E afinal, pode haver sentimento mais nobre que o amor?

O amor é indulgente, e quando percebe as imperfeições morais do próximo, procura não colocá-las em evidência. O amor é paciente e também solidário, seja nos momentos de alegria ou de tristeza, porque é muito fácil amar alguém saudável e que está o tempo todo nos agradando com seus mimos. No entanto, amar e ser grato a quem se encontra enfermo em um leito de hospital, nos obrigando muitas vezes a passar noites em claro, assistindo-o em suas necessidades, é tarefa para poucos. Afirmo que: os primeiros têm um amor egoísta e, portanto, condicionado. Já os segundos, amam verdadeiramente.

Às vezes, porque sou humano repleto de carências, escolho alguém, que julgue capaz de poder compreender-me, para compartilhar minha dor; mas apenas com o intuito de receber uma injeção de ânimo. Do fundo do meu coração, não desejo que ninguém experimente dor semelhante à minha, embora reconheça consternado, que milhares de pessoas carregam em seu cerne, sentimentos mais lancinantes que os meus. Um verme é de maior utilidade do que eu, pois atua na decomposição dos corpos orgânicos. E eu, o que faço? Só sei escrever, escrever...

O que estou tentando dizer é que a minha dor constitui apenas mais uma, no imenso mar de sofrimento em que a humanidade se encontra imersa, graças ao seu orgulho, egoísmo, apego, cobiça e atitudes extremistas, próprias de mentes recalcitrantes.

Não pretendo tornar minha dor um fato público, pois que importância ela tem, além das fronteiras da minha alma? Não é este o propósito que me anima aqui.

Aos poucos o amor vai tomando conta do meu ser, fazendo com que a dor que, hoje ainda fustiga-me, vá desaparecendo, porque se não tiver amor, não serei melhor que um verme comedor de cadáver.

NOTA: o presente ensaio foi inspirado no texto “Ignorar A Própria Dor” de autoria da poetisa e amiga, Maria Mendes.