O ‘Ideal Velho’ da Ribeira Grande
A Álvaro Moura
Onde é que foram buscar o dia 2 de Fevereiro e o ano de 1931 para o dia e o ano da fundação do Ideal? Aos Estatutos de 1951. Não há Estatutos para 1931? Não. Nem sequer uma Acta de fundação de 1931? Não. Nem um artigo ou crónica de jornal de 1931? Não. O que se aproxima da década de trinta, são ofícios da década de quarenta. Aí temos cabeçalhos onde figura aquela data. Mas já são do tempo do ‘Ideal Novo’. E não mencionam a origem da informação.
E agora? O que temos, então? Tanto quanto sei: uma notícia escrita de 1933 e entrevistas de 1997. As entrevistas foram realizadas com o propósito de apresentar um trabalho em homenagem ao Ideal pela subida à 3.ª Divisão Nacional [Série Açores]. E uma nota a lápis que ninguém sabe como foi lá parar escrita num projecto de estatuto, salvo erro da década de sessenta, que diz: 2 de Fevereiro de 1931.
Não pondo de parte a hipótese de uma pesquisa sistemática encontrar outras notícias, a primeira notícia conhecida e confirmada é um ofício do dia 21 de Abril de 1933. É da direcção da Liga Desportiva da Ribeira Grande. Nele dá-se conhecimento da existência do Ideal à Associação de Futebol de S. Miguel. Declara-se que: ‘[...] António Furtado (é representante), pelo Ideal Sport Club.’ Repita-se: até ao momento, é o primeiro documento oficial conhecido e confirmado.
Segundo: fontes dos intervenientes. Os testemunhos de dois dos fundadores: Hermano Ferreira Grota, half back esquerdo da primeira equipa do Ideal, e Manuel do Rego que, por oposição dos pais, não jogou o primeiro jogo. Os depoimentos foram recolhidos mais de sessenta anos após a fundação do Ideal. Quando os entrevistamos, Hermano, nascido em Junho de 1914, fizera 83 anos e Manuel do Rego, nascido em Maio de 1916, fizera 81. Eram os únicos ainda vivos.
Assim por alto, diga-se que nenhum dos dois confirmou o dia 2 de Fevereiro nem o ano de 1931. A data da fundação do Ideal está intimamente ligada à idade que tinham na altura. Para Hermano Ferreira Grota, foi em 1929 ou 1930: tinha 15 para 16 anos. Para Manuel Rego, foi em 1931 ou em 1932.
Um alerta: com os dados que se dispõe, a existir um Ideal em 1931, seria um Ideal sem expressão. Seria mais um grupo de rapazes que jogava futebol entre si e pouco mais. O salto deu-se, deliberadamente, quando os primos Manuel da Costa e Hermano Grota e os irmãos Manuel e Guilherme do Rego, foram pedir ao Sr. Gildo Paiva que os organizasse. Que, ao aceitar, rodeou-se de dois cunhados: António Furtado e Manuel de Sousa Pereira. Além destes, veio Arsénio Bravo. Era a passagem da fase do Ideal a brincar para o Ideal a sério: assim nascia o ‘Ideal Velho’.
Se houver interesse por parte do leitor, não me importaria nada em tentar explicar o local onde nasceu o Ideal, a razão da escolha do nome Ideal, a razão do verde e branco das camisolas, o que é o Ideal Velho e o Ideal Novo.
Dá-me até jeito: faço uma pausa nas biografias de Nunes da Ponte e de Raposo Marques.
Da terra em o que o Natal vai da Conceição às Estrelas
Continuação de um Bom Natal
Mário Moura