O SEXO SEGUNDO A BÍBLIA

Num dia desses, eu tive a oportunidade de escutar um trecho de um debate entre uma agnóstica e uma evangélica. No meio do calor da discussão, surgiu o tema que inseriu consequentemente uma das duas em uma inevitável contradição. Tratava-se do sexo. A agnóstica dizia que não podia haver pecado no ato sexual, pois o instinto humano leva a tal prática. A evangélica, por outro lado, se apoiava na Bíblia para se utilizar de argumentos como o estoicismo e autonegação.

O pecado do sexo é algo bastante discutido desde o início dos tempos. Claramente, ficou estigmatizado como sendo pecado. Mas, em contrapartida, o mandamento segundo o qual o homem deve abster-se de certas ações, dentre as quais se pode incluir o sexo (coisa que não está explícita na Bíblia), levaria inevitavelmente a um dos maiores paradoxos dos preceitos de Deus. Maria, a mãe de Jesus Cristo, foi a mulher escolhida para carregar o filho do Pai. A concepção imaculada é uma expressão que, por si só, faz existir a pressuposição de que a reprodução é maculada, isto é, contem o mal, e, portanto, o pecado. Porém, sob a alegação de que a mácula difundida nesse trecho reflete unicamente o prazer sexual, muitos teólogos podem recorrer ao conceito da subtração do orgasmo. Mas então de que modo um homem e uma mulher poderiam conceber uma criança sem sentir orgasmo? Não há possibilidade, absolutamente. O organismo responderá, com fluidos ou reações, ao toque e às ações nele aplicadas assim como reagiria ao choque elétrico e um machucado. De modo cientificamente provado, este argumento é imbatível; do que se conclui que é impossível ao homem reproduzir sem a efêmera passagem pelas sensações concernentes ao sexo. Assim, a ele não se pode atribuir qualquer concepção imaculada.

Entretanto, a Bíblia ainda acusa o homem de sentir o prazer sexual. Eu não quero dizer que, com a palavra “acusação”, seja claramente expressa no livro de Deus que o homem não deva sentir prazer. Mas certas expressões nos levam a determinadas conclusões. O pecado da carne é outro conceito que me leva a supor que a sensação do prazer sexual é um ato pecaminoso.

Assim, segundo alguns apócrifos estrategicamente retirados da Bíblia por Constantino no Concílio de Nicéia, com objetivo único de adequar as práticas pagãs com as monoteístas, tornando, no entanto, Jesus Cristo santificado; alguns desses livros confirmam a existência do filho de Madalena, concebida pelo homem crucificado. A ideia de Jesus como homem que teve um unigênito pode causar transtorno, pois, mais uma vez, a concepção pode ser interpretada como algo pecaminoso e o Senhor veio sem pecados e foi crucificado sem pecados. A posse de um filho só diminuiria a afirmação empregada pela cristandade de que o Senhor era desprovido de males, uma vez que o sexo é sinônimo de fornicação, para muitos. Tanto que, atualmente, em diversas igrejas, só se pode dar curso à prática da multiplicação a partir do casamento. Antes disso, será fornicação. Todavia, mesmo depois do casamento, ainda é considerada um pecado. Afinal, “todos nós somos nascidos do pecado”. E que pecado é esse? O da sensação do prazer altamente condenada pela Bíblia.

No início dos tempos, foi posto um homem na Terra. Ele se chamava Adão e sentiu a necessidade de ter uma esposa, pois se achava só. Deus então fez pra ele uma mulher. E suas primeiras palavras depois disso foram: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra...”, segundo o famoso Gênesis.

Sabe-se que a intenção de Deus ao colocar o homem no jardim era para que este tivesse vida eterna, sem pecados, e governasse a Terra sob o Seu Nome. Entretanto, ainda sob a difusa interpretação do sexo como pecado, de que modo o Senhor Deus poderia incentivar a Adão a praticar atos mal vistos por Ele mesmo, já que o sexo era um ato que implicaria diretamente na sensação de prazer, que é equivalente à fornicação, condenada pelo Criador? Não há modos para uma explicação respaldada na lógica. Por um lado, temos a o sexo como pecado e, por outro, como objetivo de multiplicação. E ambos os conceitos se complementam, causando tumulto e confronto entre verdades expostas no livro de Deus.

Há ainda o pensamento de que uma vida sem pecados, ou seja, sem a prática do sexo, dirigiria o homem ao caminho da extinção. Já que o seu mundo particular seria ausentado de mácula, a conseqüência era a morte sem herdeiros, sem alguém que ficasse no seu lugar. Então não podemos tomar a teoria de que o homem sem sexo e sem a multiplicação viveria eternamente através da hereditariedade, pois é absolutamente infundada. E uma vida sem a funcionalidade reprodutora injetaria na cabeça a pergunta “qual é a função do órgão reprodutor? Serve unicamente para satisfazer as necessidades fisiológicas?” Claro que não, uma vez que canais e órgãos como o epidídimo trazem a verdadeira utilidade do macho, num processo que, talvez, não mereceria ser dito aqui, mais conhecido como seleção natural.

Portanto, tal complexidade de entendimento apenas espelha a falta de sentido de muitos trechos bíblicos, seja por alguns deles terem sido esdruxulamente adulterados, com o passar de traduções (foram desde o aramaico, hebraico, grego, latim e demais línguas) com direito a inúmeras interpretações diferentes por milhares de tradutores quer muito radicais ou influenciados por um período histórico tirânico, como na Idade Média, seja por certas questões serem de nível tão elevado que escape à compreensão simplista de gente sem o conhecimento necessário que abarque toda uma divindade.

T Alves
Enviado por T Alves em 31/12/2013
Reeditado em 31/12/2013
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