A GRANDE FOME ATRAVÉS DOS TEMPOS - Breve Ensaio 

O Apocalipse na ¹“ Bíblia Pauperum” é representado por uma iluminura feita em ²Erfurt - em torno da época da Grande Fome. A iluminura tinha por escopo preceituar a morte avassaladora, em massa, ao lado de um leão, animal muito aclamado em brasões medievais – pela sua ferocidade - cuja longa cauda termina em um caldeirão flamejante (Inferno). A fome aponta para a boca faminta do grande felino.

¹Bíblia Pauperum – Expressão em latim que significa Bíblia dos Pobres. É uma coleção de imagens que representam cenas da vida de Jesus entre outras passagens imaginativas da história bíblica

²Erfurt é a capital do Estado (Bundesland) da Turíngia, na Alemanha. É uma cidade independente (Kreisfreie Städte) ou distrito urbano (Stadtkreis), ou seja, possui estatuto de distrito (kreis).

    A Grande fome de 1315-1317 na Europa (ocasionalmente datada como 1315-1322) foi a primeira de uma série de crises em larga escala que atingiram a Europa no inicio do século XIV, causando milhões de mortes por um grande número de anos, marcando assim o fim de um período anterior de prosperidade durante o século XIII. Iniciando com um tempo ruim na primavera de 1315, quebras universais de colheitas passaram por 1316 até ao verão de 1317. A Europa não se recuperou totalmente até 1322.
    Foi um período marcado por níveis extremos de crimes, doenças, mortes em massa e infanticídio. Houve consequências para a Igreja Católica, Estados, sociedade europeia e as futuras calamidades acontecidas no despontar do século XX.
    A fome, ou mais propriamente carestia, uma crise social e econômica acompanhada de desnutrição em massa, epidemias e aumento da mortalidade. Apesar de muitos casos de fome em massa coincidir com falta de suprimento alimentício regional ou nacional, fome também tem ocorrido por atos econômicos ou política de privar certas populações de alimentos o suficiente para garantir a sobrevivência.
    Historicamente, fomes têm ocorrido por causa de secas, falha de colheitas e pestes, e também por fatores criados pelo homem como guerras ou políticas econômicas mal planejadas. Durante o século XX, num estimado número, morreram 70 milhões de pessoas de fome em todo o globo, dos quais em outro cálculo, morreram 30 milhões durante a fome de 1958-1961 na China.
    Outros casos terríveis de fome ocorridos durante o século XX foram o desastre de 1942-1945 em Bengala e vários casos de fome durante a União Soviética, incluindo o Holodomor, o caso de fome-genocidária. (Genocídio – do gr. Genos, raça, povo + lat. Caedere, matar – Extermínio sistemático de um grupo humano nacional, étnico ou religioso).
    Holodomor em ucraniano: é o nome atribuído ao caráter genocidário, que devastou principalmente o território da República Socialista Soviética da Ucrânia (integrada na URSS), durante os anos de 1932 -1933. Este acontecimento — também conhecido por Grande Fome da Ucrânia — representou um dos mais trágicos capítulos da História daquele país , devido ao enorme custo em vidas humanas. Em resumo, o Holodomor foi um horrível, bárbaro e demoníaco genocídio que dizimou milhões de inocentes, vítimados pela fome, cujo mecanismo constou em suprimir a alimentação do povo ucraniano para deliberadamente matá-los pela fome.   Quem ordenou e orquestrou tal monstruosidade foi Stalin e o Partido Comunista da União Soviética.                 O partido comunista agiu direta e pessoalmente no genocídio, conscientemente assistindo mulheres, jovens, crianças, adultos e velhos morrerem quais esqueletos, literalmente pele sobre ossos amontoando-se pelas ruas, catados como lixo e amontoados em carroças e vagonetes ferroviários.
    Ao morrerem, aqueles esqueletos suplicavam por comida.
    Ao tentarem fugir para outros países eram barrados pela polícia soviética que os forçava a voltar para morrer ou no campo ou nas cidades.
   Os intelectuais, escritores - chamados burgueses, contrários ao genocídio também foram capturados e enviados para os campos de concentração russos. Foram registrados diversos suicídios desses intelectuais perseguidos.
   Não vou publicar fotos porque o horror em certas cenas superam as imagens do Holocauto. Tal horror atingiu psiquicamente a segunda mulher de Stalin (a qual fora cooperadora de Lenin) e passou a confrontar o ditador, seu marido, que segundo o Partido Comunista cometera suicídio.
    Contrariamente o laudo apontava um assassinato, cujo maior suspeito era o próprio Stalin, visto que o calibre que causou a morte da mulher era bem maior que o da arma encontrada em sua mão.
   Os dois médicos que recusaram assinar o falso laudo (suicídio) foram executados por ordem de Stalin. Os fatos e fotos foram retidos e impedidos de serem divulgados, pelo Partido Comunista e por Stalin. Só foram divulgados após a falência do comunismo, que deixou em seu rastro milhões de mortos, de todas as formas.                 Também com a independência da Ucrania foram facilitados o acesso aos dados por escritores e intelectuais.
    Em publicação aqui mesmo no Recanto das Letras, registrarei uma Resenha, a Sinópse do livro português, lusófono – HOLODOMOR - A Desconhecida Tragédia da Ucrania, foi realmente um genocídio desconhecido da História.
    Apesar de esta fome igualmente ter afetado outras regiões da URSS, o termo Holodomor é aplicado especificamente aos fatos ocorridos nos territórios com população de etnia ucraniana: a Ucrânia e a região de Kuban, no Cáucaso do Norte.
    Como tal, é por vezes designado de "Genocídio Ucraniano" ou "Holocausto Ucraniano", significando que essa tragédia seria resultante de uma ação deliberada de extermínio, desencadeada pelo regime soviético sob o comando de Stalin visando especificamente o povo ucraniano, enquanto entidade socio-étnica.
    Tendo como referência o conceito de genocídio e a sua definição jurídica, verifica-se um crescente consenso dos historiadores, relativamente à natureza genocidária do Holodomor.
    Há um número cada vez maior de países que o reconhecem oficialmente como um ato de genocídio. O termo Holodomor deriva da expressão ucraniana (moryty gholodom), tendo como raíz etimológica as palavras holod (fome) emoryty (matar através de privações, esfaimar), significando por isso "matar pela fome".
O termo teria sido utilizado pela primeira vez pelo escritor Oleksa Musienko, num relatório apresentado à União dos Escritores Ucranianos de Kiev, em 1988.

    No quarto Sábado do mês de Novembro a Ucrânia e as comunidades ucranianas implantadas em diversos países de acolhimento prestam homenagem às vítimas do Holomodor.

A GRANDE FOME NO POEMA DO REI EDUARDO II DA INGLATERRA

When God saw that the world was so over proud, He sent a dearth on earth, and made it full hard. A bushel of wheat was at four shillings or more,
Of which men might have had a quarter before.... And then they turned pale who had laughed so loud, And they became all docile who before were so proud. A man's heart might bleed for to hear the cry Of poor men who called out, "Alas! For hunger I die ...!"
- Poema de Eduardo II, c. 1321. -


TRADUÇÃO:
Quando Deus viu que o mundo era demasiado orgulhoso, Ele enviou uma escassez à Terra e a tornou áspera. Um alqueire de trigo foi à quatro xelins ou mais, Do que os homens possam ter tido um quarto antes .... E então pálido ficou quem ria tão alto, E dóceis se tornaram quem antes era tão orgulhoso. O coração de um homem pode sangrar por ouvir o choro Dos pobres homens que gritavam, "Ai! Para a fome eu morro ...!"

*Livre tradução - Poema de Eduardo II, c.1321

 


           No contexto medieval europeu significava que as pessoas morriam de fome em larga escala. Apesar de brutais, fomes eram ocorrências familiares na Europa medieval. Por exemplo, fomes localizadas ocorreram grandemente na França durante o século XIV.
    Na Inglaterra, o mais próspero reino afetado pela Grande Fome, houve fomes em 1315-1317, 1321, 1351, 1369 e além dessas décadas. Para a maioria das pessoas não havia o suficiente para comer e a vida era relativamente curta. De acordo com os registros da Família Real Britânica, a melhor e mais abonada da sociedade, a expectativa de vida média em 1276 era de 35, 28 anos. Entre 1301 e 1325, durante a Grande Fome, era de 29, 84 anos, enquanto que durante a Peste Negra ela caiu para 17, 33 anos.
   A Grande Fome foi restrita ao norte da Europa, incluindo as ilhas Britânicas, norte da França, os Países Baixos, Escandinávia, Alemanha e Polônia ocidental. Ela também afetou alguns Países bálticos, exceto o extremo leste, que foi afetado apenas indiretamente. A fome foi fazer fronteira com os Alpes e Pirenéus.
   Durante o período quente medieval (período antes de 1350) houve uma explosão demográfica na Europa, atingindo níveis que em alguns locais não se repetiriam até o século XIX (partes da França hoje são menos populosas que no inicio do século XIV). Porém, as taxas de produção de trigo (o número de sementes que uma pessoa poderia consumir por semente plantada) estavam em queda desde 1280 e os preços dos alimentos subindo.
   Houve uma piora catastrófica no tempo durante o período medieval que coincidiu com inicio da Grande Fome. Entre 1310 e 1330, o norte europeu viu um dos mais longos períodos de tempo ruim de toda Idade Média, caracterizado por invernos severos e verão frio e chuvoso.
   Padrões de tempo instáveis, o desvirtuamento moral, a inaptidão dos governos medievais em lidar com as crises e a população paupérrima sobrecarregadas de impostos e doenças, manietados sem pudor nem piedade, conforme registros históricos. Faziam uma época com pouca margem para erros. Não obstante cometidos seguidamente.
   Os alimentos para os animais não podiam ser curados, então não existia ração para o gado. Os preços dos alimentos começaram a subir. Os preços na Inglaterra dobraram entre a primavera e o meio do verão. O sal, a única maneira de curar e preservar carne, era difícil de se obter, porque a água não evaporava no tempo úmido. Ele pulou de 30 para 40 xelins. Na província de Lorena, o trigo subiu 340% e os camponeses não podiam mais pagar por pão. Estoques de grãos para emergências de longo prazo eram limitadas apenas para nobres e lordes.      Graças às pressões populacionais, mesmo colheitas acima da média significavam que alguns passariam fome.    Pessoas começaram a comer e guardar raízes comestíveis, plantas e castanhas, entre outros alimentos, nas florestas.
   Existe um número de incidentes documentados que mostram a extensão da fome. Num deles, Eduardo II, parou em ³St Albans em 10 de agosto de 1315 e não havia pão para ele nem para sua corte. Foi uma das raras ocasiões que o Rei da Inglaterra ficou sem comer.
   Nessa era os franceses, sob o comando de Luís X, tentaram invadir Flandres, mas sendo um dos Países Baixos, os campos estavam tão ensopados que seu exército atolou e foi obrigado a bater em retirada, queimando suas provisões, porque não a conseguiam carregar.

³SAINT Albans é uma cidade situada no sul do condado de Hertfordshire, Inglaterra, cerca de 35 km ao norte do centro de Londres. Cidade histórica preserva ainda as feiras desde a época medieval. Hoje considerada “cidade-dormitório”, com imóveis muito valorizados. O atual nome St Albans é em homenagem à Santo Albano, o primeiro cristão britânico a morrer decapitado por sua fé religiosa.



FONTES DE PESQUISA:
Wikipédia – Internet
A História das Civilizações – Abril Cultural, 1975
A Grande Aventura do Homem – Abril Cultural, 1988
Enciclopédia do Advogado, Leib Soibelman (Versão impressa e eletrônica) 1980/2009
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 28/12/2013
Reeditado em 28/12/2013
Código do texto: T4627994
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.