BREVE ENSAIO SOBRE O NOVO HOMEM
A essencialidade da vida consiste em viver em preto e branco, isto é, sem as cores produzidas e artificializadas para o convívio social. Este, tão logo não se configure o desejável, se corrói e vem a tristeza.
Talvez, e sem querer fazer um diagnóstico final das variáveis condizentes aos desejos e anseios humanos, a tristeza seja o resultado visível do quão afetado está esse convívio. Não quer dizer que o mesmo tenha um ou outro culpado, mas, ao contrário, será preciso identificar donde está. Ele é múltiplo, é camaleônico, pois, traveste-se ora de novas modas, novas maneiras, novas etiquetas. Identifica-se e projeta-se nas escolas, na televisão, na linguagem. Não reluta em chamar "especialistas" que lhe darão configuração de verdade.
Viver em preto e branco não pressupõe negar as cores naturais; essas a natureza nos oferece lindamente. As cores aqui negadas, encontram-se difundidas no tecido social como as mais eficazes ferramentas para o sucesso. Noutras palavras, trata-se de uma ideologia caracterizada pela sobrevalorização do ter em detrimento do ser. É tão eficaz que não encontra obstáculos, pois, sendo a busca pelo prazer de ter a medida de todas as coisas, não faz sentido pensar a igualdade e, consequentemente, a fraternidade como elementos e práticas constituintes do bem viver.
Viver em preto e branco, sintética e objetivamente, consiste em lançar-se na contramão; ser uma espécie de out sider, um outro no sentido ontológico. Trata-se de uma redescoberta das potencialidades e possibilidades da vivência comungada no apreço e solidariedade. Romper as amarras impostas e renovadas. Viver em preto e branco, nada mais que um viver despossuído dos arquétipos instituídos como modelos a serem seguidos.
Trata-se de decretar o crepúsculo dos ídolos, de viver demasiadamente humano. Trata-se de demolir a martelada a gaiola de ouro.Trata-se de decretar a falência das aparências. Trata-se de remontar o edifício colocado à baixo quando a busca do conhecimento, em oposição não emancipou o homem, ao contrário, deter o saber significou sacrificar o resto em nome do poder.
Buscar no cotidiano sentidos esquecidos e reforçados pela técnica, pela alta valorização do conhecimento compartimentado e fragmentado das disciplinas subpostas nas escolas e universidades. Tirar desses sentidos razões que reaparelham o homem como elemento fundante dos novos tempos.
Transformar o amor líquido em vivências esquecidas para que, ao chegar da aurora, o mundo na casca de nozes chegue às mãos do Homem singela e poeticamente.
Viver um preto e branco, uma síntese do Homem e para ele.