Decidi !
Decidi: vou eliminar o relógio de minha vida, não posso mais viver sob seu jugo. Já fui dele prisioneiro demais.
Marquei nele muito tempo para as coisas materiais, e pouco, muito pouco para as do amor e da alma, e nem dei conta da passagem célere do tempo.
Mas me dou conta agora, somente agora que ele não volta mais, e que somente me resta bem cumprir o tempo que o relógio não mais imporá à minha vida.
Vou viver cada momento como se fosse o último.
Vou observar mais as pessoas que me rodeiam, dar abraços e beijos, dizendo-lhes mais palavras de carinho, encanto e o quanto as amo !
Mas vou fazer isto comedidamente, sem pretender recuperar o passado, mas vivendo intensamente o presente e o futuro, mais atento para as coisas simples, pois nelas estão as belezas da vida.
Vou observar um beija-flor em voo e na delicada coleta do néctar, o louva-a-deus com seus gestos lentos e harmônicos, louvando a Deus.
Vou deixar que me chamem a atenção o choro ou o sorriso de um bebê, pois ambos representam a vida !
Um menino-neto fazendo mil perguntas ao avô, um jovem conversando e caminhando de mãos dadas com a mãe, e um senhor ao banco do jardim em animada conversa com seu idoso pai, de forma que ele não se sinta carente e abandonado.
Quero perceber as badaladas dos sinos da matriz anunciando, se forem rápidas, o nascimento de uma criança, e se forem lentas, o início de permanente saudade pela ausência de quem se foi, e que estes dois momentos incutam em mim a certeza de que há um princípio e um fim, de modo que possa fazer em minha vida, neste espaço que os separa seja preenchidos com paz, harmonia e felicidade !
Está decidido: 'O relógio está eliminado de minha vida'.
Estes são meus planos !
Termino aqui sem saber que horas são, pois já não tenho mais relógio para reger minha vida, e meu tempo da daqui para frente será contado simplesmente pelo ‘tempo da felicidade’.
Nada mais.