A IMENSA ESTRUTURA DO UNIVERSO NÃO SUBSISTE SEM UMA MENTE
ENSAIO
Mauro Martins Santos
///@//r0 ///@rti//s S@//tos
Qualquer ideia ou concepção sua – como início de uma obra – já começa com um grande valor, só pelo fato de ter origem em você, de ser um registro de algo pensado pela sua própria mente e registrado e organizado pelas suas palavras. Essas ideias, pensamentos, frases, prosa, poesia ou outra arte, passam a constituir-se em imagens, ganham vida própria. Levem momentos ou séculos, um dia eclodirão e passarão a fazer parte da história de sua vida. – Mauro Martins Santos
RACIOCÍNIO SOBRE CITAÇÃO FILOSÓFICA DE GEORGE BERKELEY:
1. SE UMA ÁRVORE CAIR NA FLORESTA E NÃO EXISTIR NINGUÉM POR PERTO, HAVERÁ BARULHO?
2. * SE UMA ARVORE CAIR, NUMA FLORESTA DE UM MUNDO DESABITADO, PRODUZIRÁ BARULHO?
* Uma das muitas variações sobre a citação.
A) Um pensamento a respeito de um raciocínio do filósofo ¹ George Berkeley em “Tratado sobre o Princípio dos conhecimentos humanos”, como exemplos acima (1 e 2) originaram uma série de outras variações sobre o mesmo raciocínio: - Se, uma gigantesca árvore, cair na floresta, não havendo ninguém para ouvir existiu barulho?; - **Se uma sequoia milenar, após o mundo ter sua humanidade extinta, cair haverá estrondo na floresta? E nesse diapasão seguem dezenas, centenas de variações da original citação de Berkeley, sem contudo deslustrar ou desmerecer seu pensamento. A mais simples, é a referida ao grande filósofo irlandês: “Se uma árvore cai na floresta e não há ninguém por perto para ouvir, a queda faz barulho?”. O que há e em grandiosa proporção são os críticos e demais colegas filósofos, céticos ou materialistas, contra a sua filosofia imaterialista, sensorial não individualista, empirista, e ditada por uma Inteligência Superior. Dá um exemplo do poder superior quanto ao cérebro que se evoluiu, foi à custa de adições de conhecimento, anatomicamente o cérebro do homem sempre foi o mesmo, não há para ele a lei evolucionista, não se foi criado um novo tipo de cérebro, e não haverá modificações evolutivas anatômicas e sim de aumento ou adição de conhecimentos. Mas não é essa somente sua visão. Este é apenas um aspecto.
B) Em se tratando de pensamento filosófico, ou ainda mais quando contido em um tratado, uma obra, do qual esse pensamento – embora central seja apenas parte - torna-se grande a dificuldade em ser econômico nas palavras, estrito e conciso, sem deixar de ser preciso.
Para isso vou me esforçar ao máximo, sem perder o fio da mensagem.
Partindo da pergunta filosófica de Berkeley, filósofo irlandês e grande cientista do pensamento, da matemática, da medicina, línguas grega e hebraica além de sua materna irlandesa, com dialetos celtas e outras variantes, o inglês puro e clássico, a teologia – foi padre até chegar a bispo anglicano em toda sua vida, deixando o cargo na doença e na velhice. Era um filósofo de amplo espectro, com as variantes a mais do empirismo pragmático e imaterialismo, distanciando-se aí dos colegas do seu tempo (1685-1753). A partir de sua citação indagatória, ramificaram-se as linhas de raciocínio, o que foi uma causa especialíssima para o desenvolvimento pragmático imaterialista, levando os cientistas do corpo e da alma a repensarem suas teorias petrificadas.
O principio básico do raciocínio - racional e imaterial é: - como vamos saber que algo existe se ninguém ali esteve para conferir (provar), que é o mesmo que dizer testemunhar?
George Berkeley disse: - “Toda ordem dos céus e todas as coisas que preenchem a terra – em suma, todos aqueles corpos que compõem a enorme estrutura do mundo – não possuem nenhuma subsistência sem uma mente.”
Dentro das variações linguísticas, que só enriquecem este ensaio, temos um eufemismo paralelo ao pensamento de Berkeley muito sério, sonoro sem deixar o objetivo, dito pelo Papa Francisco: “UMA ÁRVORE QUE CAI FAZ MAIS BARULHO DO QUE UMA FLORESTA QUE CRESCE” – em resposta aos escândalos pelos quais passa o Vaticano, segundo uma entrevista com o pontífice transmitida na noite de 28 de julho, visita do papa ao Brasil, pela Rede Globo. Parece-me que Francisco em sua grande cultura, usou o pensamento do filosofo de forma sutil e inteligentemente.
Nessa esteira: Eu digo: - UMA ÁRVORE QUE CRESCE FAZ MAIS BARULHO DO QUE UMA FLORESTA QUE TOMBA – no sentido do “barulho da importância da conscientização ecológica para os sentidos” – se contrapondo à continuidade do desmatamento, autorizado pelo poder, criminoso ou juntos, que estão devastando a Floresta Amazônica.
Acho melhor antes de prosseguir, já que estamos falando de barulho, entendermos o que é som.
Som é um fenômeno acústico, que consiste na propagação de ondas sonoras produzidas por um corpo que vibra, em meio a material elástico. No caso da árvore, ela ao cair na floresta provocou esse fenômeno. Porém o barulho só aconteceu para quem o ouviu pois se trata de uma percepção.
Ainda no campo da acústica, o barulho é uma sensação auditiva, percebido pela intensidade e timbre. Este conceito e outros que serão inseridos recordam-me ainda, das aulas de Ciências Naturais do bom e velho Professor Ariosto, lá dos tempos de colégio. Um tempo em que se levava o ensino muito a sério. Era ministrado para a vida...
Quando nos deparamos com essa pergunta, torna-se estranha para a maioria e filosófica para quem sabe de sua origem: uma árvore que cai na floresta sem a presença de ninguém, FAZ BARULHO? Existe O SOM, acontece o BARULHO? – No caso a resposta da maioria é imediata: “Certamente que existirá o barulho, imagine uma sequoia caindo...!”
Voltando ao Mestre Ariosto de saudosa memória, ele diria: “O barulho é a compressão do ar ou ondas de propagação chamadas de vibração, que o aparelho auditivo (um Sistema) capta como sensação, percepção das ondas sonoras (poderíamos folhear os antigos livros e cadernos de Ciências Naturais e didaticamente detalhar o sistema auditivo, de fora para dentro, até o cérebro), mas não precisamos alongar. Basta lembrarmos :
O ouvido humano é o responsável pelo nosso sentido auditivo.
A maior parte do aparelho auditivo está concentrada no interior da cabeça. Nossos ouvidos são subdivididos em três partes:
• Ouvido externo – onde está o canal auditivo.
• Ouvido médio ou cavidade timpânica – onde se encontram o tímpano, a bigorna, o martelo e o estribo.
• Ouvido interno – onde se concentram o estribo, o nervo auditivo e o caracol (também conhecido por cóclea).
Ao atingirem nossos ouvidos externos, as ondas sonoras percorrem o canal auditivo até chegar no tímpano. Este, por sua vez, vibra quando identifica variações de pressões mesmo muito pequenas, causadas pelas ondas sonoras.
As vibrações do tímpano avisam a dois ossos da cavidade timpânica (martelo e bigorna) que existe um som e estes, então, acionam outro osso (o estribo) que repassa essa informação ao ouvido interno.
Ao passarem por cada um desses obstáculos, as ondas sonoras são amplificadas e chegam ao caracol do ouvido.
O ouvido interno é composto pela cóclea que apresenta forma de caracol. Esta contém pequenos pelos que vibram quando há uma propagação do som. Essa propagação ocorre de forma fácil em virtude de um líquido existente dentro do ouvido interno, que estimula as células nervosas do nervo auditivo enviando esses sinais ao cérebro, fazendo com que tenhamos a percepção do som.
No caso da nossa árvore, posso afirmar que ela ao cair não produz barulho, mas vibrações sonoras no ar atmosférico, ocorrendo a interveniência do aparelho auditivo conforme resumo acima, que produz vibrações a partir do tímpano e os componentes do ouvido médio. Poderíamos fazer analogias, exemplificando a sensação da DOR, esta é uma sensação dos receptores sensoriais do TATO, se derrubarmos algo pesado sobre o pé, mas estivermos com uma bota de segurança, não existirá a DOR, o peso caiu, atingiu o pé, mas não produziu o efeito da dor, não foram acionados os dispositivos cerebrais que o tato emitiria. Por essa lógica percebemos que o barulho também não existiu.
O olfato: o perfume, ODOR, de nossa amada, exala as moléculas de perfume no ar, as moléculas odorantes vão atingir nossos receptores olfatórios que emitem a mensagem da sensação ao córtex cerebral no lugar exato da decodificação do odor. A VISÃO a GUSTAÇÃO, a DOR, o ODOR ou o citado BARULHO, racionalmente sabemos que elas não são suficientes para existirem por si só. Um emissor sem um receptor é coisa inexistente. São coisas físicas, mas inexistem sem a presença de uma MENTE. Então cabe a pergunta: essas entidades físicas existem ou inexistem. Existem se houver uma mente decodificadora. Inexistindo a presença de um receptor, inexistirá a decodificação e consequente a inexistência. Acrescentando: sem a MENTE as entidades físicas existirão para quê e para quem?
Concluímos, portanto, que o BARULHO não é por si só uma causa e um efeito, um início com um fim nele enfeixado. Faz uma viagem para encontrar um receptor que o decodifique e o interprete de forma empírica e a razão conclui que na absoluta falta de uma alma vivente portadora de um aparato decodificador, uma MENTE, o BARULHO não existirá.
A palavra testemunha, entre outros conceitos diz: “Pessoa que assiste ou presencia a um ato ou fato; pessoa que viu ou ouviu; pessoa que assiste ou presencia um acontecimento; pessoa que presencia um ato ou fato e dele têm ciência ou conhecimento” ou ainda: “Pessoa que de um ato tem conhecimento, assiste ou presencia para sensorial e materialmente dar-lhe validade legal. Prova ocular, auditiva, presencial, sensorial que é capaz e testemunha o que viu ou ouviu sinal exterior; prova.”
Na proposição de Berkeley, como foi dito, “não havia ninguém”, qualquer alma viva, qualquer pessoa que pudesse ser chamada de testemunha; é de lógica, neste caso, se dizer que o fato não existiu, visto não contemplar nenhum desiderato sensorial dos humanos. Portanto não existiu, não está no mundo transmissível.
Supondo que neste mundo deserto de vida sensorial e humana, séculos depois, viajantes espaciais alienígenas, do alto, em suas naves julguem ser o esqueleto decomposto de uma grande árvore que teria caído, e em seu entorno derriçara outras árvores, que estando em menor porte denotavam segunda geração vegetal;
venham a propósito de hipótese – suposição que se faz acerca de uma coisa possível ou não, destituída de axioma, por conjectura – venham eles a supor por comparação com vivência anterior, ter havido no local algo que entendem por barulho.
Barulho. Mas para quem? Uma emissão só se concretiza se houver um receptor. E, com a prova de alguma forma testemunhal de seu retorno: o som. Fora disso, arquivam-se os autos por absoluta falta de provas de sua substancialidade. Concluindo-se pela inexistência do fato.
Referência:
¹. Berkeley, George – Além de teólogo e bispo, Berkeley (1685-1753) foi acima de tudo um brilhante filósofo, cujas preocupações incluem questões epistemológicas , metafísicas, de filosofia da ciência, psicologia da visão, além de física, matemática, economia, medicina, política e moral. Suas principais obras: Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano; Três Diálogos entre Hylas e Philonous; Sobre o Movimento; Correspondência com Johnson e Comentários Filosóficos.
** Uma variação da pergunta filosófica de Berkeley feita pelo autor deste ensaio.