Sobre palavras, confusões e lucros

Antigamente era comum ficar-se triste, havia inúmeras causas para isso: a perda de pessoa querida, de amores, as insatisfações em geral.

As curas para esse estado eram igualmente variadas e, normalmente, dependentes da causa. Assim, a perda de entes queridos, fato inexorável, sem solução possível, exigia tempo, outras exigiam a alteração no estado de coisas e a solução do problema causador da tristeza.

Atualmente, no entanto, não ficamos mais tristes, agora ficamos deprimidos.

Uma consequência interessante dessa alteração é a seguinte: imagine encontrar uma pessoa triste. Você provavelmente tentará consolá-la, resolver a causa da tristeza, se possível, amenizar o fato; ou se mostrar solidário e amigo, caso se depare com uma tristeza das sem solução.

Caso, no entanto, encontre uma pessoa deprimida, provavelmente recomendará a ela buscar um profissional habilitado para tratá-la, algum psi que a medique, que lhe prescreva uma droga que a tire daquele estado. As palavras têm efeitos curiosos.

Na verdade, a depressão de hoje é a antiga tristeza, mas medicalizada. Tendo sido inventados remédios capazes de alterar momentaneamente esse estado, vislumbrando-se a possibilidade de angariar lucros milionários, difundiu-se o uso da palavra “depressão”, em substituição à antiga, “tristeza”.

Todos sabemos e admitimos que pessoas deprimidas devem ser medicadas, tomar drogas que as curem. Estivessem tristes e deveriam reagir, não se deixar abater, tomar as rédeas de seu próprio destino. Assim, os que se entristecem reagem ante as vissicitudes. Os deprimidos se deixam levar, esperando, como crianças, que allguém os cure daquele estado; que seus problemas sejam resolvidos magicamente por uma droga prescrita por um profissional. A ideia não me parece boa, parece infantilizadora; mas sem dúvida é lucrativa, imensamente, e proporciona lucros bilionários para os laboratórios, imensos para as farmácias, e paga os salários dos médicos.

Pareceria fora de propósito curar tristeza com medicamento, muito mais sensato tentar atacar as causas do sentimento, resolver o problema que o causasse. A medicalização da depressão mascara o problema, e o eterniza, eternizando assim, também, os lucros. Uma tristeza.