Nietzsche reduziu-se

1) Alguém que morre aos 55 anos, adoecido mentalmente, não me convencerá a ser o übermensch (superar-se a si mesmo) ao qual se referiu: ele mesmo não se superou! A busca do übermensch foi a sua mais nobre e honrosa intenção, mas não a sua conquista! Na busca desta utopia, o que ele conseguiu fazer de fato foi reduzir-se até o átomo da solidão. Sua mais engenhosa busca o levara às limitações de sua natureza. Teus rios se secaram, tua mente se cauterizou! Isto porque viveu regredindo: Nietzsche substituiu Deus por Dionísio; em seguida passou da adoração dos deuses para seres humanos e suas artes (Wagner e Shopenhauer) e, como era de costume, regrediu ainda mais: chegando a si mesmo, a sua autossuficiência filosófica. Como se não bastasse chegou ainda a regredir seu ser para uma parte do seu ser: às suas emoções, à sua mais austera solidão. Por fim, ele mesmo cansou-se de sua sabedoria, pois não havia quem o escutasse: Zaratustra era um profeta sem discípulos! E ele gabou-se disso... Ora, aquele que desce a montanha, adornado de uma cultura montanhesa, não pode esperar que as pessoas da cidade o escutem de imediato! Assim como Nietzsche, um presidiário também sofre ao tentar se adaptar à realidade quando é liberto de sua solidão. A única diferença é que o presidiário não cria sua própria filosofia...

2) Além do mais Nietzsche esteve longe de ser um profeta! O que Nietzsche fizera com rara maestria fora observar o movimento das estações do ano e dos astros celestes, de modo a fazer uma leitura histórica e perceber que, a efeito da moda, os eventos sociais voltariam a se repetir, tão certo quanto os cometas que voltam de tempo em tempo... Estudando a história humana vemos tão bem que Deus sempre teve espaço e falta de espaço na humanidade, sempre demos vida a Ele e sempre O matamos. O primeiro abandono de Deus aconteceu com a descoberta das leis naturais pelos povos antigos; o segundo abandono acontece na Idade Média com a cisão do rebanho e a igreja católica. A grande sacada de Nietzsche foi perceber que estava por vir o terceiro abandono, cuja Ciência voltaria a ser o substituto de Deus. Contudo, o verdadeiro profeta transcende o tempo, e não se apoia no passado para prever o futuro!

Por sua capacidade arguta em ler os movimentos sociais e traçar uma lógica histórica, - vendo seus desdobramentos e prevendo sua consequência pós-futura, - Nietzsche é um homem do seu tempo, e está mais para sociólogo bem sucedido do que para profeta...