Fêmeas humanas e cio
O que nos torna humanos e diferente de outros animais? Em outros tempos buscávamos a resposta na bíblia, encontrando-a logo em seu início: Deus teria criado o Homem para dominar sobre a Terra e sobre os animais. Mas a resposta tornou-se insatisfatória, e mesmo antes de se tornar nefasta, espíritos mais iluminados construíram outras, hoje mais convincentes.
Consoante o espírito otimista e humanista do século XIX, trataram de atentar para a enorme cabeça humana, para a inteligência e o tamanho de nosso cérebro, escolhendo tais características como as verdadeiramente distintivas do humano. Notemos que a pudicícia desses tempos impedia que nos ativéssemos a características, talvez, mais ímpares e marcantes que essas. De fato, o cérebro de baleias é bem maior que o nosso.
Talvez a característica humana mais estranha e surpreendente, possivelmente definitória de nossa espécie, seja o fato de que nossas fêmeas encontram-se em um cio constante. Todas as outras fêmeas vivem um curto periodo de intensa sexualidade, durante o qual engravidam, para, em seguida, sossegar o facho, e se abster de todo e qualquer empenho sexual. Em todas as fêmeas, a distinção das fases é absolutamente marcante, sendo a sexualidade a tônica central de suas atenções durante o cio, mas irrelevante, inexistente em outros períodos.
As fêmeas humanas, no entanto, mantêm-se receptivas ao sexo durante todo o tempo, sem uma distinção nítida em suas vidas de períodos de cio e de, digamos, fastio sexual. Note que o cio animal corresponde ao período fértil da fêmea, sendo o único momento no qual podem engravidar.
Durante o cio, uma fêmea, seja ela uma leoa, uma loba, ou uma zebra, procurará ativamente os machos, seduzindo-os intensamente, entregando-se por inteiro a uma sexualidade desenfreada. Terminado esse curto período, no entanto, todas elas retornam à vida comum, negando peremptoriamente qualquer assédio dos machos, evitando toda atitude que eventualmente estimule o desejo de algum macho. Assim, para todas as outras fêmeas, a sexualidade permanece cincunscrita a um breve cio, sejam elas peixes, pássaros, ou até mesmo insetos e vermes. Apenas as mulheres, essas fêmeas insaciáveis, sedutoras compulsivas, permanecem ligadas durante toda a vida, atentas e receptivas às estocadas dos machos em qualquer tempo, vivendo um cio constante, interminável, e que perpassa até sua longa gravidez.
Creio ser essa a característica distintiva humana por excelência: a lubricidade de nossas fêmeas. Teria sido possível o desenvolvimento da linguagem sem que as mulheres nos atraíssem para perto de si com seus corpos e olhares? Que interesse teriam tido os homens em se manter perto de fêmeas que só raramente lhes dessem bola? Como, então, esses brutos teriam aprendido a falar? Distantes das fêmeas, nossos urros e grunhidos eventuais nunca teriam adquirido a musicalidade necessária para o encantamento das mulheres. Penso que só começamos a falar para seduzir, para encantar nossas fêmeas, sempre atraentes e dispostas a receber nossos convites. Se é assim, e se a fala corresponde precipuamente a uma arma de nosso arsenal de corte, teremos nos tornado humanos, racionais e falantes, apenas graças à lascívia, à sensualidade de nossas fêmeas.
Assim como todas as ideias novas, essa parecerá absurda, talvez até insana. Se somará a tal estranheza a referência, frequentemente reprovável, talvez proibida, à sexualidade. Sugiro aos céticos uma breve digressão: pensem em como seriam nossas vidas se as mulheres se abstivessem por completo de toda a sexualidade, exceto durante uns 3 dias anuais de lascívia desenfreada. Apostaria na ocorrência de uma fortíssima segregação; excluída a atração sexual, macho e fêmeas humanos quase não teriam interesse recíproco, vivendo, provavelmente, em bandos desconexos. Mais provavelmente, os homens se embrenhariam solitários pelo mundo, imersos em seus próprios pensamentos, distantes das mulheres, até o novo cio das fêmeas.
(Também não dá para imaginar, é certo, a festa durante esses 3 dias!)
Fosse como fosse, seríamos outros, e ainda mais brutos, suponho.