CONTEMPORANEIDADE NA POESIA

Recebo da autora, em 17/07/2013, 13h25min, através de mensagem via e-mail:

“Eu, sim, devo agradecer. Gosto de interagir com poetas, escritores, pois sempre aprendo muito. Tenho uma novidade. Publiquei o meu livro – SEGREDOS EM POESIAS – no site Biblioteca 24 horas. Em relação a ser concisa nos meus escritos, provavelmente isto tenha influenciado a criação do TRITOFES. Aproveito o espaço e mando outros dois de minha autoria que só postarei amanhã. Ei-los:

“NAMORADOR

Eu

Soube

Agora

Que

fostes

embora

pois

muito namoras

(Zemary)

POSTURA

Nos olhos

ternura

No rosto

Candura

Tens

Muita

Postura

(Zemary)

Amadinha Zemary! Falando sério e direto, sem tergiversações, nem enrolações, como se espera que um amigo faça, certo? E eu já me considero como tal, mesmo que tu me queiras "comer o fígado", por vir a falar algo que não te seja favorável... Peço prestes boa atenção... Todos os pretensos poemas apresentados (versos brancos, o cânone livre da contemporaneidade) são precários como expressão estética do gênero Poesia, visto que estes não contêm nenhuma figura de linguagem, especialmente a METÁFORA, que é, por alto e bom dizer, a princesa da linguagem... São elas que dão codificação e permutam do sentido denotativo (comum, usual) para o novo: o CONOTATIVO. O sentido conotativo da linguagem abre e conduz ao Poético, devido à metaforização verbal. Denuncia, também, que o receptor entrou em "estado de Poesia", permitindo que surja o espécime textual da materialidade poética: o POEMA. E, sem figuras de linguagem no texto, não há como se falar em POESIA, porque ela não se faz presente no escrito (versos), ou seja, não se vislumbram signos que depreendem a Poesia como expressão de comunicação estética. Desta forma, não há como se identificar o gênero Poesia no conjunto verbal em exame. Consequentemente, aqui se encontram VERSOS, apenas versos SEM POESIA. Sim, porque estes são comumente encontráveis, e na maioria das vezes é o que se encontra, na criação poética dos autores novos e novatos, ou seja, os que acreditam somente na dita "inspiração"... Não leem ou estudam os poetas consagrados e memoriais em nosso idioma. Lembro-me de certa feita, quando ouvi, em Pelotas/SC, numa das promoções da Academia Sul-Brasileira de Letras, de um dos meus mestres da poesia clássica, o grande sonetista Miguel Russowsky, gaúcho residente em Joaçaba/SC, e falecido em 03/10/2009, que disse à poetisa pelotense Vilma Farias Guerra, ao ser interpelado intempestivamente por ela, com um pretenso poema nas mãos: professor, peço, dê uma olhada neste poema, e mostrou o escrito a ele, em minha presença. Miguel, impassível e meio contrariado, diz-lhe: continue fazendo versos. Um dia você chegará à Poesia... No teu texto "namorador", no segundo verso, "... que foste(s) ..." está incorreta a flexão verbal. O correto é "foste", conjugado na 2ª pessoa do singular (tu) e não como está, na 2ª pessoa do plural (vós). O teu (pretenso) poema livre VESTÍGIOS DE MIM é, também, uma peça muito precária, por muito pessoalizada, expressão clara do individualismo, eis que tudo está na primeira pessoa, visto a colocação de pronomes pessoais retos, claros ou ocultos; pronomes possessivos pessoalizados na figura da autora. Ainda mais: em tempos de fuga às regras formais, a experimentadora (cujos versos estão em exame) retorna ao uso das rimas de final de verso, as quais, na contemporaneidade, estão totalmente ultrapassadas como expressão formal, em Poesia... E não se trata de meu gosto pessoal, mas, sim porque o mundo mudou e o andamento poético da vida atual não compactua com a placidez do andamento rítmico do verso clássico. O verso da contemporaneidade é absolutamente LIVRE, não está sujeito a estas limitações estéticas, sob pena de, como criadores, olharmos e agirmos com a cabeça voltada para o passado... Observa as anotações no texto que pretendes seja um poema:

VESTÍGIOS DE MIM

Busco em minha imagem

Um pouco de mim

(Eu) Sou apenas uma miragem

Não era assim

(Eu) Tirei a tatuagem

(Eu) Fiquei amarga e ruim

Só fiz bobagem

(Eu) Não quero meu fim

(Eu) Busco muita coragem

Prá viver, enfim

(Eu) Vou fazer viagem

Encontrar vestígios de mim

Parabéns pela perseverança, que a sinto bem presente... É o que posso contribuir contigo. E assim o fiz, desejando dizer algo diferente, com mais aplausos, mas os textos não me autorizaram a mais, nas sendas da Poesia...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4511741