Ave Maria

A mais bonita que ouvi - de fita também - foi na igrejinha do Glória. Era um meiodia e eu dois chopes me haviam feito subir lépido o outeiro. No elevador, claro. Mas

o certo é que tava alto, lá no alto.

Nem olhava pro mar, ou proutro lugar. Bastava a sensação do ali estar. Mas afinal:

Gounod, Schubert, ou Bach? Quase apostaria que era a de Gounod, tão bonita, sim

sinhô. Mas pouco importa agora.

As Ave-Marias me acompanharam desde a meninice, tocadas no alto falante da

igreja matriz da Velha Serrana. E raramente me pegavam na rua, sinal claro de que

estaria atrasado para a aula que começava pontualmente ao meio-dia. E o maior

risco, sem riso, era ser devolvido a partir daqueles portões de aroeira, pintados de

azul, do meu grupo escolar, que ainda lá estão pra não me

deixar calar.

Já a ave, Maria, voou, aquela cotovia.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 24/09/2013
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