Eu não consegui cuidar dos meus filhos
"Eu não consegui cuidar dos meus filhos", essa foi a frase encontrada no cenário de morte em Cotia. Um pai em desespero, impotente diante das demandas do custo da manutenção da vida de sua família, fez o que fez. Ficamos chocados e suspensos por algum tempo diante de tamanha tragédia. Não demora e talvez possamos concluir que foi fraquesa, Darwin apregoou essa ideia em sua teoria da evolução quando afirmou que só os mais fortes sobrevivem. Será mesmo que é só isso?
Infelizmente essa ideia está implícita em todos os setores dessa insana sociedade, ela se encontra até mesmo dentro dos lugares sagrados de culto. Em nenhuma instituição pela qual passamos, seja escolas, empresas ou igrejas encontramos uma ideia antagônica, antes vemos reforçada e reproduzida a ideia de sobrevivência do mais forte sobre o mais fraco. Na maioria das vezes a ideia é escancarada, em outras está velada, mas não menos perceptível uma vez que o discurso discorre sobre outras formas de ver o mundo, sobre bem-aventuranças, sobre o amor, muito embora não haja mudança de atitudes por parte dos discursores e seus ouvintes fiéis. Não, de forma nenhuma, todos caminham conforme os ditames e as regras desse sistema tirano criado e diuturnamente alimentado por todos nós. Então simplesmente desligamos nossas televisões com o sentimento de piedade, talvez de impotência diante dos fatos, e até mesmo conformados com o pré-julgamento que fizemos reduzindo tudo em alguma frase curta: é obra do inimigo, coitado foi um fraco, andava distante de Deus, e blá, blá, blá.
Amanhã será outro dia e tudo isso será esquecido e assim continuamos nossas vidas anesteziados, insensíveis, seguindo as regras do jogo. Quando vamos acordar e parar de dar desculpas esfarrapadas sobre a realidade ao nosso redor? Quando vamos romper com a tirania da exclusão, da discriminação, das classes, das demandas infundadas da mídia, da selvageria do consumo? Quando vamos assumir que todos nós criamos essa dura realidade?
Não inventamos o sistema em que vivemos, mas temos obrigação de entendê-lo e combatê-lo. Temos o exemplo da maior autoridade que por aqui andou. O Mestre do amor e da vida andou na contramão do sistema que aqui encontrou. Alguém pode dizer que ele tinha que cumprir sua missão e por isso não construiu casa, não plantou vinhas, não comprou e nem vendeu. Será mesmo? E o que dizer de suas palavras "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6:19). Essas palavras deveriam ser suficientes para mudarmos toda uma construção de tirania econômica que temos retroalimentado com nossas ansiedades infundadas e falsas necessidades criadas a partir das também falsas ilusões de segurança, de qualidade de vida e etc e tal veiculadas pela grande mídia cujo único propósito é não deixar a máquina econômica parar. Das duas uma, ou estamos cegos para as lições do Mestre ou achamos mais fácil nos enganar achando que a salvação de nossas almas nada tem haver com nossa vida aqui. Afinal o que viemos fazer aqui mesmo? Ops! Acho que perdi alguma coisa.