Fora da arte não há salvação
Acabo de perceber a realidade última da vida. A vida não foi feita para sermos felizes, nem para que busquemos o conforto material. Evolução, nem se fala. Disse-o o próprio papa. A vida foi feita para que ocorra o milagre dela mesma. Ou, em outras palavras, para a maior glória do seu criador. Aos poucos a ideologia vai se reconstruindo e, brevemente, chegaremos ao estágio medieval. Sim, retornaremos a uma era medieval, só que desta vez será uma era medieval global, eletrônica e digital, coroando o trabalho incansável de demolição dos paradigmas da era moderna, iluminismo, revolução francesa, separação entre o Estado e a Igreja, ateísmo, cientificismo, materialismo-dialético, socialismo científico, marxismo, tudo coisa de um passado vergonhoso que apenas trouxe guerra e destruição.
Aos cientistas arrogantes do passado, aqueles que diziam poder dispensar Deus como hipótese de trabalho, que se achavam tão poderosos a ponto de poder desvendar todos os segredos do universo, o nosso escárnio. Onde estão eles? Como todos os mortais, enterrados. Sua obra inteiramente superada não consegue explicar o universo. Trás, no máximo, algum conforto material, boas geladeiras, boas máquinas de lavar roupas, bons aviões, reatores atômicos, bombas H, foguetes, satélites de comunicação, microscópios e telescópios...
Mas, espera... Por que é necessário proibir as pesquisas com células-tronco? Por que tanta celeuma no que diz respeito à clonagem, à criação de órgãos para transplante? Estaria a ciência esbarrando alguma parede imaginária que limita o conhecimento, indo muito fundo na digestão do fruto da árvore da vida e do conhecimento do bem e do mal?
Lembro-me aqui de um filme de Fellini, o “Oito e meio”, do encontro fantasioso entre o artista e o cardeal, no interior de uma espécie de sauna, que em tudo lembrava um banho público romano. O artista diz: “Padre, eu não sou feliz...” E o sacerdote responde: “Meu filho, quem te disse que viemos ao mundo para sermos felizes? Fora da Igreja não há salvação...”.
O mesmo diz o papa. Para os simples mortais, os cidadãos comuns a quem foi prometida a terra da fartura, do leite e do mel, da paz e da felicidade, que é o que almejam todos os países civilizados fica a esperança. Não estamos na terra para sermos felizes, mas seria bom que nossa passagem não tivesse muito desconforto, pois, no final das contas pode ser que não haja salvação alguma, com crença ou sem.
Para os que crêem, tudo está resolvido. Para os demais, um universo absurdo, um futuro de mistério e de incertezas, a perspectiva de enfrentamento do Nada por Ninguém.
A alternativa: fora da Arte não há salvação.
PS: O papa está lançando um livro. “Jesus de Nazaré”. Deverá estar nas livrarias daqui a dois dias. É claro que ainda não o li. Estou baseando minhas idéias em alguns artigos divulgados pela imprensa.