Conhece-te
Ao longo da vida são muitos os desafios que, dependendo das circunstancias, o homem tem de enfrentar. Em cada um deles, se souber aproveitar, há sempre uma boa lição, um bom aprendizado.
O maior de todos esses desafios, sem dúvida é o autoconhecimento. Alguns iluminados da humanidade tentam nos ensinar isso há milhares de anos.
Sócrates pregava: conhece-te a ti mesmo e conhecerás a verdade de todas as coisas. O mestre Jesus, milênios adiante, com outras palavras, ratificou o que o grego disse ao proclamar: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Desde que o homem apareceu sobre a terra que este se deparou com o desafio do autoconhecimento, tem buscado a verdade.
Está presente no DNA da humanidade; em todas as nações, tribos, castas, esse indicativo do Ser, humano: saber quem é. Uma necessidade, que embora congênita, é desprezada por quase todos.
Assim como temos a necessidade de conhecer e entender o mundo à nossa volta, a lidar, a aprender e compreende-lo; a conviver com ele e seus desafios, há também a necessidade de se conhecer, aprender, compreender e lidar com o mundo interior, de nos interpretar. Precisamos de um conceito, de um significado. Seria esse o começo do caminho?
O sábio indiano Jiddu Crisnamurti, nascido em 1895, que me foi apresentado, por meio de seus escritos, pelo filósofo imperatrizense, Tasso Assunção, diz que sim.
Para ele o reconhecimento e a percepção do que somos já é o começo da sabedoria, o começo da compreensão, que nos liberta do tempo.
Sobre o autoconhecimento Krishnamurti diz que “enquanto eu não compreender a mim mesmo, em minhas relações convosco, sou eu a causa do caos, da miséria, da destruição, do medo, da brutalidade”.
Sobre o mesmo tema ele ainda escreve “se vós e eu não nos compreendemos a nós mesmos, como podemos, com nossa ação, promover uma mudança na sociedade, na vida, na vida de relação, em qualquer coisa que fazemos? Quanto mais uma pessoa se conhece, tanto mais clareza existe. O autoconhecimento é infinito; nunca se chega a um remate, nunca se chega a uma conclusão”.
Como bem diz Assunção “Krishnamurti não proporciona uma leitura convencional, visto que não constitui ficção para entreter nem informação para assimilar, mas um exercício de reflexão, de autoconhecimento”.
Diria eu que é uma leitura que inquieta e que provoca a alma já que o que se lê é o resultado de profundas reflexões sobre a existência, e a presença do homem sobre a Terra.
Sobre o tema do autoconhecimento o filósofo brasileiro Huberto Rohden (1893- 1981), portanto contemporâneo do mestre Krishnamurti, em sua obra O Pensamento Filosófico da Antiguidade escreve sobre o que ele chama a alma de toda filosofia e religião:
“Não pode o homem conhecer o mundo ao redor dele, nem o mundo acima dele, sem primeiro conhecer o mundo dentro dele, uma vez que o instrumento-chave que ele emprega para qualquer conhecimento é o seu próprio Eu”.
Para Rohden o “ser do homem é eterno, o seu existir é temporário. Como ser divino, o homem é eterno e imortal; como um fenômeno humano, o homem é temporário e mortal.
Concordo com o filosofo brasileiro. Acredito na imortalidade da essência humana e que na verdade somos a soma de tudo que há no universo. Um tudo que muitas vezes se resume num nada ou um tudo e um nada ao mesmo tempo. Por essência somos um milagre, a soma de vários deles.
Os gregos há cinco mil anos A.C já se preocupavam com autoconhecimento. Desconfio que na verdade desde o momento em que o homem se tornou um ser pensante que ele começou a se questionar: “Quem sou, de onde vim, pra onde vou?”
Perguntas que permanecem em aberto esperando por quem tenha a ousadia de tentar buscar as respostas.