A Lenda do Uirapuru

A Amazônia é considerada a maior floresta tropical do mundo e é muito famosa por sua riqueza natural e por sua diversidade cultural.

Quem visita essa grande floresta tem a oportunidade de viver experiências únicas, sentindo sensações extraordinárias no contato com a natureza selvagem e com os inúmeros povos indígenas que nela habitam.

Em cada um dos cantos desse magnífico lugar existem inúmeras lendas curiosas e fascinantes que a pessoa ouve e carrega por toda vida. Uma dessas estórias é a que fala do surgimento do pássaro mais famoso da Amazônia: o Uirapuru.

Assim diz a Lenda do Uirapuru: Um fato raro aconteceu em uma distante tribo da Amazônia, algo que mudaria a vida daquele povo. No meio da exuberante floresta um fato diferente seria o início de uma estória de amor, que no seu final acabou com resultado dando origem do belo pássaro Uirapuru.

Certo dia, a mulher do cacique, que estava grávida, começou a sentir fortes dores, e logo entrou em trabalho de parto. O cacique chamou a parteira mais experiente da tribo para ajudar sua mulher. Depois de um tempo, o cacique que estava esperando do lado de fora ouviu um choro vindo do interior da oca. Aquele choro foi motivo de grande alegria, mas quando ele entrou para acolher nos braços a criancinha recém-nascida o velho cacique teve um grande susto, pois daquela gravidez frutificaram duas belas menininhas. A sua mulher havia dado a luz a filhas gêmeas, algo difícil de acontecer entre os povos indígenas.

Quando a índia mãe viu pela primeira vez o fruto de sua gestação sentiu um forte aperto no peito. O olhar da mãe era de tristeza, pois como era tradição da tribo uma das duas crianças deveria ser sacrificada.

Contudo, contrariando as tradições milenares da tribo o cacique decide que as duas crianças deveriam viver. Ele quebra a tradição de seu povo em favor da vida das filhas gêmeas.

Dessa forma, as duas irmãs cresceram juntas, e eram admiradas por sua grande união. Além da semelhança física, aquelas belas irmãs tinham pensamentos e ideias iguais. Essas semelhanças na aparência e igualdade de comportamentos das duas irmãs era algo que todos se orgulhavam. Elas passavam o dia juntas, brincando, nadando nos rios, coletando frutos ... e ao final do dia dormiam juntas na mesma rede. Todos os locais que frequentam e tudo que faziam era sempre uma em companhia da outra. A sincronia com que as duas irmãs viviam era motivo de grande alegria para a tribo. Assim, elas foram crescendo e se tornaram as jovens mais belas e admiradas da tribo.

Entretanto ninguém imaginava que estava para acontecer algo que mudaria essa história de união entre as irmãs. Num determinado dia, as gêmeas estavam passeando pela aldeia e encontraram um jovem índio muito charmoso e forte e as duas logo se apaixonaram profundamente por ele. Foi um sentimento intenso que tomou conta ao mesmo tempo dos corações das gêmeas. Mesmo sendo uma paixão tão forte, elas mantiveram segredo.

Apesar de terem vivido e partilhado tudo em suas vidas, a irmãs gêmeas não trocaram confidências sobre a paixão instantânea que elas tiveram pelo charmoso rapaz. Até aquele momento não havia ocorrido nenhum tipo de conflito entre as duas por causa de seus pensamentos e ideias iguais, mas aquela paixão pelo mesmo homem tinha chegado para dividir o coração das belas gêmeas.

Elas guardaram aquele segredo por longo período, esperando o tempo da idade em que elas pudessem se casar. Elas eram as mais belas e atraentes jovens da tribo, e não faltavam pretendes. Todas as famílias desejavam que um de seus filhos escolhesse uma delas para casar. Elas eram cortejadas por diversos rapazes, que não mediam esforços na tentativa de conquistar a simpatia do velho cacique e das belas gêmeas. Durante todo esse tempo elas mantinham em segredo sua paixão. Até que um dia ficou impossível uma esconder da outra que estava amando o mesmo rapaz. A revelação daquela paixão secreta pelo mesmo rapaz foi um choque para elas, e para todos os demais índios da aldeia.

Os mais velhos da tribo, ao saberem o que estava acontecendo, chamaram o jovem índio e sugeriram que ele fizesse a escolha de uma das irmãs para por fim naquela situação de desconforto na tribo.

Aquela estória já tinha mexido com toda tribo, e ficou ainda pior quando o jovem rapaz confessou para toda tribo que ele amava as duas irmãs com a mesma intensidade. Para ele, seria muito difícil ter que escolher uma delas.

O pajé da tribo fez uma sugestão para resolver aquela situação constrangedora. Ele orientou que as irmãs gêmeas deveriam disputar o amor do rapaz através de uma prova de habilidade. Elas deveriam demonstrar sua destreza para conquistar o direito de se casar com o rapaz.

A prova sugerida pelo pajé era a seguinte: em um dia especial, no limiar de duas estações do ano, quando o sol estivesse se pondo no horizonte, as índias gêmeas deveria caminhar ao interior da floresta carregando consigo seus arcos e flechas para competirem entre si. A escolhida para se casar com o rapaz seria aquela que conseguisse ferir uma ave em pleno voo. O próprio pai delas, o velho cacique, era quem deveria apontar a ave que deveria ser flechada pelas moças.

Todos os habitantes da tribo foram à floresta para assistirem ao resultado da competição. Lá no meio da mata, o pai das moças apontou as aves que elas deveriam atingir certeiramente com suas flechas, assim como o pajé havia orientado aconteceu. Infelizmente, apenas uma das irmãs teve a sorte de concluir a prova. A vencedora foi homenageada por todos e realizou o seu sonho de amor casando-se com o belo moço. Foi uma grande festa, em que todos se alegraram, com exceção de uma única pessoa, a irmã gêmea da noiva que perdera o desafio.

A perdedora, a princípio, parecia conformada com o resultado da competição, mas, à medida que o tempo foi passando, ela ficava mais triste e desiludida. Desde sua derrota na competição no meio da floresta ela nunca mais se alegrou como antes, só andava de cabeça baixa, lamentando-se e chorando.

Um dia, incomodado com a tristeza da jovem índia, Tupã perguntou-lhe o que havia acontecido. Ela, então, confessou que jamais voltaria a sorrir novamente, porque não se conformava em ter perdido seu grande amor. Era doloroso demais para ela saber que não poderia nunca mais ter o homem amado ao seu lado. Às vezes ela pensava em partir para bem longe, mas também não queria se afastar de sua tribo, que era o local aonde ela havia nascido e crescido ao lado de seus familiares e amigos.

A jovem índia queria se aproximar do rapaz, mas sabia que se fizesse isso ela poderia causar ciúmes na sua irmã gêmea, o que também poderia causar tristezas e problemas ao rapaz. Ela pediu a Tupã para ser transformada numa pequena ave, pois assim poderia chegar discretamente perto de seu amado.

Tupã atendeu ao seu desejo, mas providenciou algo além do pedido da jovem índia. Além de ser transformada numa ave belíssima a jovem índia ganhou um dom especial: um lindo canto, o mais melodioso da floresta.

Desde essa época até hoje o Uirapuru encanta a todos com o seu canto maravilhoso. Quem entra na floresta, especialmente no entardecer, tem a oportunidade de ouvir a bela melodia do Uirapuru. Dizem que quem tem o privilégio de ouvir seu canto nunca mais esquece.

A beleza de seu canto é insuperável; nenhuma outra ave da floresta canta tão bem como ele. Dizem que quando o Uirapuru está cantando um silêncio profundo toma conta da floresta, o vento para de soprar, os galhos dos arbustos deixam de balançar, as folhas das árvores deixam de cair e todos os bichos da mata se calam para ouvir seu canto majestoso.

Para muita gente, o canto do Uirapuru representa o amor eterno da jovem índia que não pôde realizar o seu desejo de se casar com seu amado !!!

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Ilha de Marajó - PA, Setembro de 2013.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 15/09/2013
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