A FUGA DE NÓS

A loucura chega sem mostrar identidade.

Apodera-se da mente e monta residência.

O mundo se limita a um quarto sem privacidade.

A grade sombria desenha a faceta da demência.

Ela sentiu que algo não ia bem quando se pegou

olhando fixo, com o rosto a menos de um palmo da parede.

No dia seguinte, despertou sem saber que quarto era aquele,

incapaz de dizer o que fizera na vida, muito menos

em que dia da semana estava.

Pensou no mês e no ano... Um imenso vazio.

O tempo vivido havia se apagado da memória.

O susto maior veio quando tentou lembrar o seu nome.

Chorou sem se reconhecer diante do espelho.

Atrás de si uma escuridão a impedia de reviver

o menor fragmento do passado.

Como um lampejo de saída salvadora, notou

o computador ligado à sua frente.

Lembrou-se que parando o mouse sobre a hora, aparecia

a data completa. Correu para ele como quem

vê o carteiro trazendo uma mensagem

que é aguardada com aflição. A mão trêmula demorou

a ajustar o cursor no local que marcava as 17:00 horas exatas.

Um alívio. Uma luz se fez presente.

Todos os ansiosos dados do tempo estavam ali.

Sua dúvida buscou mais longe: “meus arquivos...!”

Seu temor a preveniu: - “E se um dia eu nem me lembrar que isso é um computador...?...Vou viver vagando sem lembrança... Deus meu...?!”

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