O MUNDO REAL E SUAS ROUPAGENS

Nos redutos verbais de aparente ficção sobre a realidade, o poeta não é um "fingidor": é o espinho que dói sob a unha, com uma permanência de fazer dó. Mas a palavra poética não vive solitária, necessita da companhia do outro polo da criação. Sem este acaba não estabelecida a relação literária. Não que necessite obrigatoriamente de aplausos (o que também é bom e estimulador), porém – como registrador da temática – eu me sinto sempre um Guilherme Tell: cuidando pra não errar na maçã. E, acaso possível, ainda vir a compartilhar um pedaço da fruta, depois da ação da certeira seta... Os poemas sobre a realidade nua e crua têm de vestir uma roupagem com muitas alegorias. Caso contrário, como a peça artística louvará o arqueiro e libertará a Poesia para além da maçã degustada?

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4471962