SONETO: FEITIO E PONTOS DE VISTA

Eloah: Caro amigo poeta Joaquim Moncks, bom dia! Embora a palavra "poesia" seja também usada para definir, de modo geral, todo tipo de poemas, e longe de contestar suas palavras, eu, particularmente, não vejo a poesia, em seu sentido mais amplo, engessada em um gênero literário, exatamente por ela ser imaterial em seu estado puro, ela está mais para o observador (o poeta) que para o observado que é o mundo ao nosso redor, com sua multiplicidade de aspectos quer concretos ou abstratos, por isso é que dizem que “a poesia está nos olhos do poeta”, assim como ”a beleza está nos olhos de quem vê” Portanto, essa imaterialidade só pode ser materializada, e transmitida, em palavras, quer em forma de poemas, (versos livres ou metrificados,) ou em forma de prosa (prosa poética ou poesia em prosa), isso em se tratando de literatura, porque também pode ser materializada em música, pintura, etc. Esse texto que escrevi, chamado POEMA, não se propõe a definir poesia, é apenas uma síntese do que é poema no meu modo de sentir. Quanto a figuras de linguagem, em especial metáforas, sou de opinião que não devermos exagerar, sob pena de um poema perder a leveza, a plasticidade – é apenas o meu ponto de vista, respeitando opiniões contrárias, sempre. A propósito deixarei aqui um soneto que bem expressa esse meu modo de pensar. Bom domingo, amigo poeta, abraço.

PARTO SEM DOR - DE UM SONETO...

Eloah Borda

Eu não escrevo versos rebuscados,

ou exageradamente metafóricos

- prefiro os simples, densos ou eufóricos,

com alma e coração escancarados!...

Com sentimentos fortes, palpitantes.

do útero d’alma vindos, e paridos

ao natural, ou a fórceps, trazidos

à luz do poema, vivos e pulsantes!

Que sejam versos quentes de paixão,

suaves, ternos, ao falar de amor,

que gritem alto a alegria ou a dor,

e vertam lágrimas de solidão...

...e agora, ao terminar este quarteto,

sem dor, eu trago à luz mais um soneto...

– Direitos autorais reservados.

JM: Amiga Eloah Borda! Agradeço a tua interlocução e respeito tuas bem postas concepções. Temos posturas diversas, a tua é concessiva, ao gosto do que contemporaneamente vem à tona nos espaços internéticos... Bem posto, também, o "Parto Sem Dor", um belo poema, ao rigor técnico-formal, não chegando a ser um exemplar sonetístico clássico, por não contar com os 14 versos típicos – dois quartetos e dois tercetos. Temos, sim, os 14 versos na peça ora em exame, mas capengueia no formato. Não se o pode, sequer, considerá-lo como um exemplar do chamado soneto moderno, que é uma concessão da modernidade, porém, em verdade, é apenas um apelido dado a um poema que se assemelha ao soneto clássico apenas na apresentação dos versos constitutivos da peça artística em Poesia. Parece-me que pretendeste que o exemplar ora em exame se constituísse num espécime extravagante dotado de estrambote, aos moldes shakespearianos... Só que, na peça em exame, faltam dois versos para vir a se constituir num soneto estrambótico... Dois pés metrificados além dos 14 versos, lembras? Quanto ao mérito, padece também da falta de linguagem em sentido CONOTATIVO, visto a rarefação de figuras de linguagem e, consequentemente, não ocorre a codificação... E, à ausência dela, não se constitui a POESIA, a meu ver. Estou grato e lisonjeado. Como fiz a análise acima, e procuro registrar tudo o que faço através de publicação no site do Recanto das Letras, no qual tenho toda a minha obra registrada, informo que pretendo publicar a abordagem como peça autônoma, e, pela importância de tua resposta, gostaria que a inserisses ao pé do texto, se te aprouver. Abraços e beijos do poetinha JM.

Eloah: Caro poeta Joaquim Moncks, causa-me surpresa você não ter percebido que no soneto em questão, não há nenhum estrambote, o que, na verdade, é uma radícula espécie de cola (cauda), aumentando número de versos, e que na realidade nem "pegou", como se costuma dizer, e acho horrível. O que aqui postei trata-se de um soneto inglês, com os 14 versos (decassílabos) que devem compor um soneto, mas em vez de distribuídos em 2 quartetos e dois tercetos, tem as mesmas 4 estrofes, distribuídas em 3 quartetos e um dístico, ou parelha, como se desejar chamar, conforme o clássico soneto inglês. Outra coisa, meu amigo, eu estou na internet, como tantos outros bons poetas, sonetistas ou não, mas não sou poeta de espaços "internéticos", apenas para esclarecer, pois comecei a escrever sonetos (e também versos livres) aos 16 aos de idade, e isso já faz muito tempo, nem havia internet (risos), apenas me adaptei a ela, por simples prazer de trocar ideias, porque o mundo anda e não podemos estagnar – do moderno, assimilei o que é bom, o que soma, e do antigo, mantenho também o que é bom, num "mix" bem dosado, sem, no caso dos sonetos, "quebrar" suas regras básicas, sua sonoridade especial, sem o quê, não será um soneto. Componho, às vezes, também sonetilhos, ou sonetinhos como dizem alguns, com setissílabos, mas uso mais os versos decassílabos, dodecassílabos e alexandrinos, especifiquei estes últimos, porque embora todo verso alexandrino seja dodecassílabo, como você deve saber, mas muitas pessoas não sabem, nem todo verso dodecassílabo é alexandrino. Desculpe-me, estendi-me demais, é que é um assunto que gosto e quando começo a escrever, esqueço de parar – risos. Uma boa noite, amigo, abraço.

JM: estimada conterrânea! Realmente eu não havia me apercebido de que se trata de um soneto inglês, espécime muito pouco cultivado pelos atuais sonetistas e absolutamente em desuso... Mas, enfim, tu tens razão quanto ao arcabouço formal. No mérito, divirjo, mas respeito a tua opinião. Agradeço a tua atenção e a aula que deixas aos leitores e a mim. É ótimo falar com quem sabe. Abraços do poetinha JM.

Eloah: Pois é, meu amigo poeta, são pontos de vista, opiniões divergentes que devem ser respeitadas, sempre, desde que não desmereçam o fato. Só para encerrar, o soneto inglês clássico, não caiu em desuso, pois tem sido muito usado por ótimos sonetistas – e existem muito bons sonetistas atualmente, citando apenas alguns: Patricia Neme, Edir Pina de Barros, Nathan de Castro, Sá de Freitas, e fico por aqui porque seria longo nomear todos. Uma boa noite, amigo e conterrâneo Joaquim Moncks. Abraço.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4464207