A CONSTRUÇÃO DAS REALIDADES

“Sou apenas um condenado ao pensar que ainda sonha em mudar o mundo a partir da Palavra. E fico a dizer bobagens, pensando que efetivamente mudo algo no que está posto. No dia seguinte, vejo que o mundo é grande e eu um grão de areia. E tudo está reposto, na mesma. Eu é que mudei, para assimilar o que em nada mudou... O Novo é líquido como água. E a palavra flui no seu andar de peixe.” Joaquim Moncks, In NO ANDAR DE PEIXE.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4440557

– Marilú Duarte, através de e-mail datado de 19/08/2013.

No entender do professor e pesquisador Vygotsky, que baseou sua teoria no desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, o nosso cérebro é dotado de duas atividades: uma atividade conservadora – a memória; e uma atividade combinatória, criativa, construtiva – a imaginação. A imaginação ou fantasia é a base para toda atividade criadora que se manifesta nas áreas artística, científica e técnica. E é exatamente essa atividade que vejo impregnar teu espírito e te fazer o excelente intelectual que és, bem como muito bem expressas: "Sou apenas um condenado ao pensar que ainda sonha em mudar o mundo a partir da Palavra". Segundo o pesquisador russo acima citado, a imaginação se utiliza da memória para as suas formulações e atividades, não só reproduzindo acontecimentos, como também criando e combinando novas visões e projeções do já apreendido. Assim sendo, o homem sempre estará voltado para o futuro, questionando, investigando e elaborando novas realizações e descobertas. Já dizia Jean P. Sartre "Porque, paradoxalmente, se o homem é livre de todas as escolhas possíveis, não pode furtar-se à necessidade de escolher: ele é 'obrigado a ser livre', assim como é condenado à responsabilidade eterna". Essa liberdade nos faz responsáveis pela mudança do roteiro que traçamos no dia a dia da nossa história. Mudar o roteiro é mudar como sentimos e vivemos as situações do dia a dia. Para isso, se faz necessário um longo e paciencioso trajeto, muitas vezes tempestuoso, frustrante e bizarro, com alguns momentos difíceis, ora enfrentados corajosamente, ora submetidos e impostos ao sujeito. Exatamente como dizes: "No dia seguinte, vejo que o mundo é grande e eu um grão de areia". Infelizmente não há como fugir do aqui e do agora, mesmo porque o nosso cérebro, que é o responsável por armazenar todas as experiências vividas, não fica limitado às condições que lhe forem estabelecidas, pois tem uma missão mais criativa: a de combinar e criar. É através desse processo, utilizando-se de experiências anteriores, que ele se torna capacitado a reelaborar, reconstituir ou mesmo criar uma nova iniciativa, ideia ou visão de mundo. Felizmente não somos condenados a repetir o passado. Concordo plenamente quando dizes: "Eu é que mudei, para assimilar o que em nada mudou..." Exatamente porque a mudança é subjetiva e, portanto, ocorre dentro de cada um de nós. Sendo assim, para que a mágica aconteça, nos utilizamos da imaginação e de sua função positiva, construtiva, desenvolvimentista e libertadora. É através dela que se realizam os processos da reconstituição e o da construção de novas realidades. Todos nós somos fruto de nosso próprio tempo, sem um átimo específico para recriar, renovar e reconstruir. Marilú.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

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