O SENSO DE IDENTIDADE

“Estimada poeta-original! Não sei se isto importa, mas não me agrada, como analista, o título da plaqueta: "Pétalas de Poesia". A titulação está urdida num lirismo convencional, muito derramado para um conjunto textual que não é todo no gênero poético, e que contém modalidades formais em PROSA e VERSO. Teria sido a autora de quatorze anos quem teria denominado o conjunto como tal? Não teria a proposta textual – como se fora um apetitoso bolo de aniversário – o dedo poético materno fincado no glacê, como fazíamos em nosso tempo de criança? Intuo que uma autora adolescente dificilmente ornaria o conjunto textual com estas “Pétalas”, no entanto, neste nosso mundo de invenção, tudo é inusitado... E o novato sofre a influência dos seus afetos de convivência cotidiana. Não é menos verdade que os espíritos dos poetas, em qualquer idade, são antigos e sábios por ancestral instinto, daí a INTUIÇÃO do Belo... Conheci, nos últimos quarenta anos, autores juvenis que parecem já haverem nascidos velhos, visto o conteúdo e apresentação formal de seus poemas, mesmo que inexperientes na aparência física. Dificilmente sabem explicar qual a energia qualitativa e quantitativa que se os assenhora na hora do nascimento dos versos... Portanto, no conjunto ora apresentado, nem tudo são poemas e, sim, seguindo a sugestão do título, só pra te instigar e à autora: o que temos são "Pétalas de Poesia e alguma Prosa"... Peço escusas pela intromissão, mas, a rigor, o texto proposto pelo autor só se reproduz como relação literária após a recepção pelo leitor. É neste que o poema (ou texto) vai se completar, estabelecer comunicação e produzir beleza, estranheza, alumbramento ou não, como peça estética...” Joaquim Moncks, in O DEDO POÉTICO MATERNO.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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Bion nos ensina que é preciso fugir do "princípio da certeza" quando vamos analisar o pensamento, a linguagem, o conhecimento, as descobertas, e principalmente os interrelacionamentos. Nessa afirmativa ele tem o apoio de filósofos e cientistas, já que todos eles não cansam de dizer que "a verdade é sempre relativa" e que sempre irá depender da época vivida, dos valores culturais, emocionais, etc. O tema hoje proposto, nos fala de "um dedo poético materno, fincado no glacê, como fazíamos em nosso tempo de criança". O ser humano tem uma capacidade incrível de integrar aspectos opostos e, às vezes, contraditórios: consciente e inconsciente; mente e corpo; presente, passado e futuro, e assim por diante. Nossos pensamentos são indissociáveis das emoções, portanto quando falamos ou escrevemos, há todo um sentido e significado de experiências emocionais vivenciadas. Perfeita tua colocação: "Não é menos verdade que os espíritos dos poetas, em qualquer idade, são antigos e sábios por ancestral instinto, daí a INTUIÇÃO do Belo...". O psiquiatra Jung dizia sobre o conhecimento intuitivo: “Cada um de nós tem a sabedoria e o conhecimento que necessita em seu próprio interior”. É importante destacar que o raciocínio utilizado na ‘intuição’ para chegar à conclusão do que estamos dizendo ou escrevendo é puramente inconsciente. Talvez por isso, nosso comportamento tenha uma interrelação entre o conhecimento e a verdade. Interessante quando dizes: "neste nosso mundo de invenção tudo é inusitado..." A famosa frase: "ser ou não ser, eis a questão", de William Shakespeare nos faz refletir sobre a determinante que fundamenta o senso de identidade de uma pessoa nos planos individual, social e grupal. Portanto, a busca da verdadeira identidade impõe a necessidade de estabelecer confrontos e correlações entre fatos passados e presentes, realidades e fantasias, e, em especial a diferença entre o que o sujeito diz, faz e o que, realmente, ele é como pessoa. Marilú.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

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