A Lenda do Guaraná

O folclore brasileiro é extremamente rico em lendas, que geralmente estão relacionadas à nossa exuberante natureza. Algumas dessas narrativas têm origem nas tradições portuguesas, outras foram trazidas e incorporadas a nossa cultura pelos escravos africanos, mas boa parte delas nasceu aqui mesmo entre os numerosos povos indígenas que habitavam essas terras séculos antes do descobrimento.

As lendas são contos populares passados das gerações mais velhas para as mais novas através de relatos orais ou escritos. Elas tratam de muitos temas que vão desde a origem de elementos do cosmos (lua, sol, estrelas, arco-íris, trovão etc.), passando pelo surgimento de seres mágicos (Curupira, Iara, Boitatá, Saci-pererê etc.) até o aparecimento de animais e plantas.

Uma das mais belas e conhecidas é a Lenda que fala da origem do Guaraná: um fruto típico da Amazônia brasileira que se tornou um símbolo nacional.

Assim diz a Lenda do Guaraná: Foi numa tribo distante encravada no meio da imensidão verde da Amazônia que esse fruto especial surgiu. Numa época de muita prosperidade e riqueza para os índios Maués nasceu essa planta especial: o Guaraná.

Naquela época perdida no tempo tudo parecia perfeito para a grande tribo dos índios Maués. Todos estavam muito felizes, ou melhor, quase todos, pois um casal estava extremamente triste. A tristeza desse casal era uma exceção naquela tribo, pois eles eram os únicos que não podiam ter filhos. Enquanto todas as demais famílias cresciam e se multiplicavam apenas aquele casal de índios Maués não tinha a alegria de gerar um filho.

Tentando resolver aquela situação, eles foram buscar conselho com o pajé da tribo, que lhes orientou a buscar ajuda com o deus-trovão: o poderoso Tupã. E foi assim que eles fizeram, pediram auxílio aos Céus para poderem gerar um filho.

Várias semanas depois, a índia engravidou. À medida que sua barriga foi crescendo uma grande expectativa tomou conta da tribo. Todos estavam maravilhados com aquela benção, pois eles eram o único casal sem filhos.

Completados os 9 meses de gravidez toda a tribo estava num clima de euforia e entusiasmo. No dia em que aquela bela criança nasceu houve uma grande comemoração na aldeia. Todos comemoram bastante, cantando e dançando o dia todo, e a comemoração entrou noite adentro. O nascimento do menino foi a razão da maior comemoração em toda a história da aldeia.

O pequeno índio crescia com saúde e recebia atenção de todos à sua volta. Ele era uma criança esperta e graciosa, querida por todos os índios Maués.

Aquele curumim se tornou um símbolo de alegria e união da tribo. Todos admiravam a história de seus pais, que muito esperaram por sua chegada. Aquele casal venceu a esterilidade e foi agraciado com a chegada de uma criança especial: um belo garotinho, muito inteligente e cativante.

Mas nada era tão perfeito, pois ao mesmo tempo em que toda aldeia admirava aquele indiozinho, um sentimento de inveja tomou conta de alguns seres mágicos da floresta. A fama do curumim se espalhou pela floresta e chegou ao conhecimento de Jurupari, um espírito maligno.

Jurupari ficou incomodado com aquela alegria que tomou conta da tribo dos Maués após a chegada do curumim. Jurupari cheio de inveja assumiu a forma de uma vespa para poder chegar perto da criança, tentando encontrar uma oportunidade para feri-lo e acabar com a alegria da tribo. Mas como o curumim era muito querido e amado por todos sempre havia alguém por perto para cuidar e protegê-lo.

Certo dia, o curumim entrou sozinho no meio da floresta, caminhando por uma trilha estreita para colher frutos da estação. Jurupari aproveitou essa oportunidade e transformou-se numa cobra venenosa.

O menino estava distraído colhendo e colocando os frutos num cesto de palha que nem percebeu a serpente se aproximando para mordê-lo. A cobra foi se aproximando sorrateiramente, rastejando entre as folhas, e ao chegar perto da criança abriu sua boca assustadora com as presas cheias de peçonha.

Sem se dar conta do que estava prestes a acontecer o pequeno índio continuava tranquilamente sua tarefa de colher frutos, até que sentiu uma dor horrível na perna quando a cobra lhe picou. O pequeno índio deu um grande grito e caiu desmaiado no chão frio da floresta. O veneno da serpente era muito poderoso para o seu frágil corpinho, e ele morreu quase que instantaneamente.

Preocupados com a demora do curumim, vários índios da aldeia partiram pela floresta em sua busca. Quando acharam o menino caído no meio da trilha, ao lado do cesto cheio de frutos, todos choraram intensamente.

Naquele dia o céu ficou nublado e diversos raios e trovões caíram anunciando para todos os animais e seres da floresta que uma tragédia havia acontecido. Os índios diziam que era o próprio Tupã lamentando a morte do menino.

Uma profunda tristeza tomou conta de todas as tribos daquela região. Não havia ninguém que conseguia conter as lágrimas e o pranto. Jovens, adultos e velhos lamentavam intensamente a perda da amada criança. Todos estavam inconsolados e ficaram vários dias chorando.

Para surpresa de todos, num sonho a mãe do curumim morto recebeu uma mensagem de Tupã dizendo que ela devia plantar os olhos da criança como se fossem duas sementes. Aquilo parecia algo bem estanho. Mesmo assim, os pais do curumim obedeceram a orientação de Tupã e plantaram os olhos dele perto do rio.

Poucas semanas depois no mesmo lugar em que o casal enterrou os olhos do indiozinho, nasceu uma linda planta, o Guaraná. Eles ficaram admirados com aquilo, pois perceberam que a planta tinha frutos vermelhos que por dentro pareciam os olhos do menino.

A perda da criança foi motivo de profunda tristeza para toda tribo dos Maués. Seus pais esperaram muito pela sua chegada e os poucos anos que aquela criança esteve entre eles trouxe grande alegria e orgulho.

Com o surgimento daquela planta misteriosa eles se sentiram confortados. Pela segunda vez os índios Maués receberam um presente especial. Aquela planta maravilhosa nasceu para preencher o coração dos índios de esperança. Daquele momento em diante aqueles frutinhos vermelhos passaram a ser motivo de felicidade para essa grande tribo indígena.

Essa estória aconteceu num passado muito distante, mas até hoje, muitas gerações depois, aquele belo indiozinho continua presente através dos frutos do Guaraná, sendo motivo de alegria e orgulho para todos os índios da Amazônia e para todos nós brasileiros !!!

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Ilha de Marajó - PA, Agosto de 2013.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 22/08/2013
Reeditado em 22/08/2013
Código do texto: T4446327
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