AUTOACEITAÇÃO

“O ciúme só vale positivamente para hora do “vamos ver”: a paixão faz com que cada um possa vir a render bem e dê o melhor de si para o gozo de si mesmo e não do outro. Este último atinge o ápice num sobregozo, em cima da entrega havida. E se lambuza como uma mosca na colmeia. Ao prazeroso terminar-se, sente que à ausência do outro, pode vir a perder o gozo tido e havido. – Nossa! Aprendemos juntos, sem mais nem menos... Estes os detalhes do mistério nunca dantes sabido antes do ato íntimo, agora fato em conjunção... E é o que consome – o jogo insólito de ir e ficar – quando da hipótese de permanecer somente na memória. A novidade, em sua exatidão, é que o corpo fala e blasfema...”. Joaquim Moncks, in CIÚME E GOZO.

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4430314

– Marilú Duarte, por e-mail, em 13/08/2013:

O ciúme surge como um mecanismo inconsciente que procura controlar e reter o outro só para si está ligado a influências culturais, sociais e a história de vida de cada um. Sempre que uma cena de ciúmes acontece, uma pergunta fica no ar: – quais foram os seus modelos na infância? É exatamente aí que o ciúme tem a sua iniciação. É no momento em que a criança percebe que não é única, nem o centro do universo e que o amor do pai ou da mãe não é só dela. É uma expressão da emoção, por isso o ser humano o sentirá em algum momento da vida. Quando o ciúme é exagerado, não necessita nem motivos, a pessoa não consegue dominar e os danos são irreversíveis. É certo que a maioria concorda que um pouquinho de ciúmes dá mais sabor à relação e não deixa de ser saudável e, além disso, pode ser uma excelente ferramenta para detectar o perigo, tendo a eficiente função de preservar o relacionamento. Porém quando se torna patológico e se apresenta com agressões físicas ou verbais, o risco de danos maiores é inevitável. A desconfiança é um dos sentimentos que mais motiva o ciúme, além da necessidade de posse, por isso a ameaça a terceiros se torna insuportável e muitas vezes, insustentável. Outro fator que predispõe a esse sentimento devassador é a baixa autoestima, o sentimento de menor valia e de não se gostar, sentindo-se sempre inferior aos outros. A maioria das pessoas ciumentas é um verdadeiro vulcão em erupção. Algumas são depressivas, vivem os relacionamentos de forma distorcida, não se acham merecedores de amor e por isto imaginam-se eternamente traídos. Quando isso ocorre, utiliza da impulsividade como mecanismo de defesa, e sem poder se policiar, fala e faz o que não deve, sem pensar. O ciúme é prejudicial quando doentio e excessivo, podendo ocasionar a raiva incontrolada, revelando-se como sintoma de alguns transtornos. O caminho para a cura é amar-se, conhecer-se e valorizar-se. Infelizmente, “aprendemos juntos, sem mais nem menos...". Mas, infelizmente esse aprendizado às vezes é bem tardio, e só acontece com o passar do tempo, quando então percebemos que nossa atitude agressiva de nada adiantou para salvar um relacionamento. O ciúme não evita os contratempos nem as separações, nem tampouco aumenta o sentimento de amor, muito pelo contrário, pode até desencantar e fazer com que todos os castelos desmoronem. "A novidade, em sua exatidão, é que o corpo fala e blasfema...", dizes, e bem... Quantas palavras e atitudes descabidas perdidas no tempo, sem nenhum efeito ou mudança. Quanto mais se é inseguro, maior é o prejuízo... As coisas e os fatos da vida não são bons nem ruins, e, sim, o que nossa percepção interpreta, e principalmente a forma como aceitamos ser parte de um todo em constante mutação. Nada é para sempre... O amor começa dentro de cada um. Desta forma, amar-se é um exercício paciencioso e contínuo que exige a autoaceitação e o perdoar-se. E, a par da aceitação em plenitude, o que dizer-se ao outro? Marilú Duarte.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DE SI PRÓPRIO. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4444970