ALEPH, O NOME INEFÁVEL DE DEUS
Existe uma tradição, muito comum entre os adeptos da Cabala, de representar Deus através da letra Aleph(אּ). Essa letra, aliás, tem um papel fundamental no entendimento da cosmogonia cabalística, pois ela simboliza o começo de algo. Muito próprio, portanto, para dar veículo á uma idéia que está assente em todas as tradições cosmogônicas, em todos os tempos, tradição essa que diz que o universo teve um começo. Para a ciência, esse começo foi o Big-Bang, para a religião, Deus.
Por isso é que o desenho dessa letra, é, na verdade, feito de três letras diferentes, ou seja, dois yods, um embaixo, outro em cima e um vav, que é a barra transversal.
Segundo os estudiosos da Cabala, a letra yod ( י)simboliza a presença manifesta de Deus no mundo das realidades fenomênicas. E a letra vav (ו), simboliza o mundo manifesto. Dessa forma, um yod acima significa Deus em cima e o yod abaixo significa a humanidade, na qual ele se manifesta. Assim, o Aleph comporta uma idéia de Deus na terra ( o Yod abaixo) e Deus no céu( o yod abaixo).
Há outras interpretações do significado dessa letra, que não cabem no contexto deste estudo, mas no geral é através do Aleph que a Cabala representa a integração de Deus com a sua criação. Uma dessas interpretações é a misterioso nome que Jesus pronunciou em sua oração no Horto de Getsêmani, quando pediu a Deus para afastar dele aquele cálice. (Abba, Pai, todas as coisas te são possíveis, afasta de mim esse cálice... Marcos 14:36). Aqui essa letra aparece com o significado de cabeça, chefe, pai, etc. concepções essas que eram muitos comuns entre os povos antigos, de figurar a Divindade como sendo uma emulação do próprio rei, ou do patriarca tribal, ou daquele que, em sua tribo, estivesse no topo da hierarquia.
Por outro lado, sabe-se também que toda letra do alfabeto hebraico, além de representar um significado, também representa um som e um valor numérico. O valor numérico é obtido pela técnica da guematria. Assim, temos que o valor numérico do Aleph é um, que simboliza a unidade de Deus. Sendo ele formado por três letras (dois yods e um vav), seu número, final é 26, já que um yod é igual a 10 e um vav é igual a 6 (10+10+6= 26), que corresponde, na grafia alfabética, ao Tetragramaton, ou seja, o Inefável Nome de Deus, que é composto pelas quatro letras Y-H-V-H( em portugês JEOVÁ). Pela aplicação da técnica da guematria, esse nome (YHVH- JEOVÁ) aos numeraisYod (=10), Hei (=5), Vav (=6) Hei (=5), que totalizam 26. Assim, verifica-se a correspondência que esse símbolo tem com aquele representado pelo Aleph.
Segundo o Rebe[1], o Aleph tem três significados diferentes. Um é deles é aluf, que significa mestre ou chefe. O segundo é ulfana, definido como uma escola de aprendizado, ou doutrina. O terceiro significado é obtido quando se lêem as letras da palavra Aleph (alef, alep) de trás para a frente ( pronuncia-se pelê), cujo significado é "maravilhosa". A definição de Aluf como sendo "mestre", significa que Deus é o Mestre do universo, ou seja, um Olho que tudo vê, um Ouvido que tudo ouve, uma Boca que tudo fala, uma Sensibilidade que tudo sente.Daí a definição que dele dá a Shepher Dtzniouta(O Livro do Mistério Oculto), que o chama de O Vasto Semblante[2].
Tudo isso significa que o universo não emergiu simplesmente por si mesmo, mas que há um Princípio Energético onipotente que o forjou a partir do nada cósmico. Por isso Deus é Aluf, o Mestre do universo.
Assim, o Aleph seria o ponto único, primeiro e fundamental, no qual tudo que existe, existiu e existirá está contido. Por isso, no sistema numeral hebraico, ele é representado pelo número 1, ou seja a expressão numérica da divindade. É nele que passado, presente e futuro, em todas suas manifestações, se apresentam concomitantemente, na mais ínfima fração de tempo e espaço, noção essa que só pode ser representada pela unidade. Em física, o chamado Bósson de Higs seria, talvez uma boa analogia para termos uma idéia desse conceito. Em literatura, a melhor definição foi dada por Jorge Luis Borges, em um famoso conto que leva esse nome. [3]
o bósson de Higs Representação da criação- Michelangêlo
Capela Sixtina. Vaticano
Analogias
Essa visão da Cabala sobre as origens do universo encontra correspondência nas idéias dos filósofos panteístas e também nos cultores da teosofia e na cosmogonia védica, para quem, no início “Vixinu-Xiva estava em plena latência, prenhe de todas as suas vidas futuras”. Nessa concepção, o poeta descreve o momento em que Deus se manifesta no território das realidades positivas, figurando-o através da relação masculino-feminino, representado pelos deuses Vixinu-Xiva, que na tradição vedanta, são os responsáveis pelo surgimento do universo físico.
Na filosofia chinesa do taoísmo também iremos encontrar um conceito análogo. No verso primeiro do Tao Te King, livro básico dessa antiga filosofia, Lao Tsé, escreve: “ Uma via que pode ser traçada não é a Via Eterna, o Tao. Um nome que pode ser pronunciado, não é o Nome Eterno. Sem Nome está na origem do Ceú e da Terra. Com Nome é a mãe dos dez mil seres. Assim, um Não-desejo eterno exprime sua essência, e por meio de um desejo eterno manifesta um limite. Ambos os estados coexistem inseparáveis e diferem apenas no nome. Pensados juntos, Mistério. Mistérios dos mistérios, É o Portal de todas as essências”.[4]
O Sem Nome é o Tao, princípio ativo que deu origem ao universo. Com Nome é o universo material que resultou da manifestação desse princípio. Os dez mil seres são a humanidade em sua totalidade. Em todas essas concepções cosmológicas o “espírito” de Deus é pura energia e sua manifestação no mundo das realidades sensíveis se dá em forma de luz. Luz é o princípio básico de tudo que existe no universo.
Esse é um ponto que todos os sábios da antiguidade concordam e a ciência moderna não refuta: o mundo é feito de energia que se condensa em massa quando esta é acelerada na velocidade da luz. Daí a equação de Einsten, enunciando a equivalência massa-energia, conhecida como teoria da relatividade:e=mc².
Como dizem Pawels e Bergier ( O Despertar dos Mágicos, 1968), existe um ponto no tempo onde todos os tempos se reencontram. Na alma humana também. Quando se fala de um começo, e de quem (ou o que) deu início a tudo isso, a linguagem pode ser diferente, e as formas de imaginá-lo também, mas seja qual for essa forma, sempre se estará falando da mesma coisa.
Existe uma tradição, muito comum entre os adeptos da Cabala, de representar Deus através da letra Aleph(אּ). Essa letra, aliás, tem um papel fundamental no entendimento da cosmogonia cabalística, pois ela simboliza o começo de algo. Muito próprio, portanto, para dar veículo á uma idéia que está assente em todas as tradições cosmogônicas, em todos os tempos, tradição essa que diz que o universo teve um começo. Para a ciência, esse começo foi o Big-Bang, para a religião, Deus.
Por isso é que o desenho dessa letra, é, na verdade, feito de três letras diferentes, ou seja, dois yods, um embaixo, outro em cima e um vav, que é a barra transversal.
Segundo os estudiosos da Cabala, a letra yod ( י)simboliza a presença manifesta de Deus no mundo das realidades fenomênicas. E a letra vav (ו), simboliza o mundo manifesto. Dessa forma, um yod acima significa Deus em cima e o yod abaixo significa a humanidade, na qual ele se manifesta. Assim, o Aleph comporta uma idéia de Deus na terra ( o Yod abaixo) e Deus no céu( o yod abaixo).
Há outras interpretações do significado dessa letra, que não cabem no contexto deste estudo, mas no geral é através do Aleph que a Cabala representa a integração de Deus com a sua criação. Uma dessas interpretações é a misterioso nome que Jesus pronunciou em sua oração no Horto de Getsêmani, quando pediu a Deus para afastar dele aquele cálice. (Abba, Pai, todas as coisas te são possíveis, afasta de mim esse cálice... Marcos 14:36). Aqui essa letra aparece com o significado de cabeça, chefe, pai, etc. concepções essas que eram muitos comuns entre os povos antigos, de figurar a Divindade como sendo uma emulação do próprio rei, ou do patriarca tribal, ou daquele que, em sua tribo, estivesse no topo da hierarquia.
Por outro lado, sabe-se também que toda letra do alfabeto hebraico, além de representar um significado, também representa um som e um valor numérico. O valor numérico é obtido pela técnica da guematria. Assim, temos que o valor numérico do Aleph é um, que simboliza a unidade de Deus. Sendo ele formado por três letras (dois yods e um vav), seu número, final é 26, já que um yod é igual a 10 e um vav é igual a 6 (10+10+6= 26), que corresponde, na grafia alfabética, ao Tetragramaton, ou seja, o Inefável Nome de Deus, que é composto pelas quatro letras Y-H-V-H( em portugês JEOVÁ). Pela aplicação da técnica da guematria, esse nome (YHVH- JEOVÁ) aos numeraisYod (=10), Hei (=5), Vav (=6) Hei (=5), que totalizam 26. Assim, verifica-se a correspondência que esse símbolo tem com aquele representado pelo Aleph.
Segundo o Rebe[1], o Aleph tem três significados diferentes. Um é deles é aluf, que significa mestre ou chefe. O segundo é ulfana, definido como uma escola de aprendizado, ou doutrina. O terceiro significado é obtido quando se lêem as letras da palavra Aleph (alef, alep) de trás para a frente ( pronuncia-se pelê), cujo significado é "maravilhosa". A definição de Aluf como sendo "mestre", significa que Deus é o Mestre do universo, ou seja, um Olho que tudo vê, um Ouvido que tudo ouve, uma Boca que tudo fala, uma Sensibilidade que tudo sente.Daí a definição que dele dá a Shepher Dtzniouta(O Livro do Mistério Oculto), que o chama de O Vasto Semblante[2].
Tudo isso significa que o universo não emergiu simplesmente por si mesmo, mas que há um Princípio Energético onipotente que o forjou a partir do nada cósmico. Por isso Deus é Aluf, o Mestre do universo.
Assim, o Aleph seria o ponto único, primeiro e fundamental, no qual tudo que existe, existiu e existirá está contido. Por isso, no sistema numeral hebraico, ele é representado pelo número 1, ou seja a expressão numérica da divindade. É nele que passado, presente e futuro, em todas suas manifestações, se apresentam concomitantemente, na mais ínfima fração de tempo e espaço, noção essa que só pode ser representada pela unidade. Em física, o chamado Bósson de Higs seria, talvez uma boa analogia para termos uma idéia desse conceito. Em literatura, a melhor definição foi dada por Jorge Luis Borges, em um famoso conto que leva esse nome. [3]
o bósson de Higs Representação da criação- Michelangêlo
Capela Sixtina. Vaticano
Analogias
Essa visão da Cabala sobre as origens do universo encontra correspondência nas idéias dos filósofos panteístas e também nos cultores da teosofia e na cosmogonia védica, para quem, no início “Vixinu-Xiva estava em plena latência, prenhe de todas as suas vidas futuras”. Nessa concepção, o poeta descreve o momento em que Deus se manifesta no território das realidades positivas, figurando-o através da relação masculino-feminino, representado pelos deuses Vixinu-Xiva, que na tradição vedanta, são os responsáveis pelo surgimento do universo físico.
Na filosofia chinesa do taoísmo também iremos encontrar um conceito análogo. No verso primeiro do Tao Te King, livro básico dessa antiga filosofia, Lao Tsé, escreve: “ Uma via que pode ser traçada não é a Via Eterna, o Tao. Um nome que pode ser pronunciado, não é o Nome Eterno. Sem Nome está na origem do Ceú e da Terra. Com Nome é a mãe dos dez mil seres. Assim, um Não-desejo eterno exprime sua essência, e por meio de um desejo eterno manifesta um limite. Ambos os estados coexistem inseparáveis e diferem apenas no nome. Pensados juntos, Mistério. Mistérios dos mistérios, É o Portal de todas as essências”.[4]
O Sem Nome é o Tao, princípio ativo que deu origem ao universo. Com Nome é o universo material que resultou da manifestação desse princípio. Os dez mil seres são a humanidade em sua totalidade. Em todas essas concepções cosmológicas o “espírito” de Deus é pura energia e sua manifestação no mundo das realidades sensíveis se dá em forma de luz. Luz é o princípio básico de tudo que existe no universo.
Esse é um ponto que todos os sábios da antiguidade concordam e a ciência moderna não refuta: o mundo é feito de energia que se condensa em massa quando esta é acelerada na velocidade da luz. Daí a equação de Einsten, enunciando a equivalência massa-energia, conhecida como teoria da relatividade:e=mc².
Como dizem Pawels e Bergier ( O Despertar dos Mágicos, 1968), existe um ponto no tempo onde todos os tempos se reencontram. Na alma humana também. Quando se fala de um começo, e de quem (ou o que) deu início a tudo isso, a linguagem pode ser diferente, e as formas de imaginá-lo também, mas seja qual for essa forma, sempre se estará falando da mesma coisa.
[1] Rabi Shneur Zalman de Liadi. Rebe é a denominação de uma escola rabínica de estudos cabalísticos.
[2] Knorr Von Rosentoth- A Kabballah Revelada- Madras, 2005
[3]Jorge Luis Borges- O Aleph- Ed. Globo, 1993. O Bósson de Higs, conhecida figurativamente como a “partícula de Deus”, seria, de acordo com moderna física atômica, o DNA do universo, ou seja, o grão de energia fundamental, que permite que a matéria universal se converta em massa.
[3]Jorge Luis Borges- O Aleph- Ed. Globo, 1993. O Bósson de Higs, conhecida figurativamente como a “partícula de Deus”, seria, de acordo com moderna física atômica, o DNA do universo, ou seja, o grão de energia fundamental, que permite que a matéria universal se converta em massa.
[4] Lao Tsé- Tao Te King- tradução de Marcos Marinho dos Santos-Attar Editorial- são Paulo 1995