As Estações (parte 3): Outono
Em meio a mortos, feridos, sangue, lágrimas, egos reescritos e perdidos, eis que surge o Sentimento. O saldo de uma árdua batalha num deserto de incompreensão, obtido após tempestades de ilusões cortadas, mágoas e utópicas aspirações perdidas na areia. O Sentimento que rompeu os limites da decepção e conseguiu tornar-se inteiro e exato, sem preciso ser. E que se apresenta aos olhos numa proporção real e sem enganações, sincero. É possível dizer: "Eu vejo, em partes podres e sãs, o todo genuíno, real. Eu não mais sigo as ilusões da minha vontade. Eu vejo. Eu compreendo, condeno, e apesar de tudo... eu amo." É o outono. Sem excessos, sem esforços, sem brigas. Apenas o ameno frescor de uma batalha vencida. Não há cores brilhantes ou luzes que cegam, e sim os tons pastéis criados por folhas mortas, caídas, simbolizando o aborto dos equívocos acalentados. Surge agora uma realidade que não se imaginava existir. É o verdadeiro amor cheio de lindas sensações oníricas que se materializam em forma de frutos, fortes, suculentos. São devidas recompensas por tantas penosas e espinhosas lições. O que se aprendeu em meio ao fogo ficará para sempre marcado na memória, como uma pira a iluminar o caminho prestes a ser trilhado. O caminho das almas gêmeas que em breve, terão que enfrentar um último obstáculo - o inverno- e sobreviver a ele.
"Delicious autumn! My very soul is wedded to it,
and if I were a bird I would fly about the earth
seeking the successive autumns. "
- George Eliot
(Outono delicioso! Minha alma está unida a ele, e se eu fosse um pássaro, eu voaria pela terra em busca de sucessivos outonos)