As Estações (parte 2): Verão
... a realidade então cai, pesada, desajeitada. Em que momento o cego pôde ver novamente? Que mãos benditas (ou malditas?) retiraram dele o câncer plantado, semeado com tantos sonhos e fantasias? Ele vê. Pupilas dilatam-se. É o réquiem de um sonho. Que triste cena contemplar os destroços e finalmente constatar: os pedaços não mais formam o todo. Em meio às brigas, desencontros, desentendimentos surge a raiva. A brisa suave da primavera vira um vendaval de discussões infundadas. A luz que antes cegava, agora consome, maltrata, força a enxergar e a prantear a mágica perdida. Faz cobiçar o ideal. O que era perfeito. Utópico.... Distante... Mas impossível? Talvez. É difícil reunir forças, resumir sentimentos, comunicar, combinar e então resgatar uma relação em chamas. O que se pode aprender em meio ao fogo? Que lições são ensinadas por queimaduras de amor? Dessa mistura de suor, lágrimas, fumaça e cinzas talvez renasça a esperança. Tal como fênix ressurgindo das cinzas, eis que então brota a compreensão mútua. A admissão das culpas e erros. O aprender a perdoar e esquecer. A perda do orgulho e vaidade que abre portas para um espaço novo, inexplorado. Uma folha em branco. Uma visão totalmente desprovida de máscaras e devaneios. Os olhos veem o que ali está....nu e cru, desprovido de maquiagem: um ser humano frágil e imperfeito, um esboço de eternidade à procura de sua própria verdade. Uma imperfeição cativante, que instiga e não impede o fluxo das emoções. Uma imperfeição que desafia o raciocínio lógico, semeando infinitas e inexplicadas razões para que, mesmo em árido solo, brote o amor...
"Ah summer, what power you have to make us suffer and like it" Russel Baker "Ah verão, que poder você tem de fazer-nos sofrer e gostar disso"