As Estações (parte 1): Primavera

Dizem que tudo começa na primavera.... Será verdade? O amor, a amizade, a vida... É um tempo de esperanças, expectativas, sementes que florescem e paixões que se inflamam. Corações que se abrem como pétalas de flores entre promessas feitas, ilusões, cores. Tudo brilha, tudo é tão claro... Claro demais. Todo o brilho ofusca uma escuridão inerente, ali à margem da sensação, na tangente da emoção, à espreita. Fica difícil discernir a realidade, desvencilhar a verdade do sonho, o sonho da desilusão que é certa, iminente... Não acreditem na primavera, ela mente, ela engana, acalenta falsidades, e em um dado momento, se torna tão febril que é impossível o simples e racional pensar. É o calor sutil que lentamente vai tomando conta, ganhando terreno, chegando ao extremo.... Os sentimentos magnificados são tão novos e imaculados... "Eu te amo" parece simples e não há como escapar... É uma rota de colisão. Aos olhos cegos, tudo parece a mesma coisa, tudo tem a mesma forma, invocando o mesmo nome. Todas as músicas têm o mesmo tema. A perfeição surge do nada, sem partida, sem chegada, simplesmente indefinida. A perfeição chega do nada. E num nada se transforma. Nessa trajetória incerta, às vezes longa, muitas vezes curta e amargamente dolorida, surge o conflito. Surge o verão.

Aproveitem a primavera dos seus sentimentos. Os momentos mais belos, apesar de efêmeros, acontecem aí. Momentos bobos e singelos afloram. Ela não muda... jamais. A única mudança que ocorre, reside em algum plano entre a inocência e a consciência de que mesmo sendo o mais belo dos sonhos, ele terá um fim. Mesmo sendo o mais suave dos perfumes, logo se tornará forte ou fraco demais. Mesmo sendo o mais forte dos sentimentos primaveris, ele vai desidratar, murchar e, talvez, derreter sob o calor do verão.

Nascida no mês da primavera - Setembro- Eu entendo de primaveras! Sou rainha das quimeras, metáforas e indefinidas esperas... Eu espero o fim da minha primavera. Espero o calor e as brasas. De mim vão restar apenas cinzas... cinzas... ao mar.