A Lenda da Vitória Régia

A Vitória Régia é uma planta aquática gigante que vive na maior floresta do mundo: a Amazônia, e por causa de suas características realmente impressionantes ela é considerada a “Rainha de todas as plantas”. O tamanho e o peso da Vitória Régia verdadeiramente impressionam. A folha da Vitória Régia pode crescer até mais de 2 metros de diâmetro e tem as suas margens levantadas até 15 centímetros acima da água. Seu peso pode ultrapassar 45 kg, e sua resistência é enorme. Suas raízes fixam-se no fundo das águas e suas folhas e flores são revestidas de espinhos na parte inferior, que são uma forma de defesa natural contra a ação de predadores. É comum ver aves usando essas grandes folhas como local de descanso ou como ponto de apoio para pegar os peixes que nadam distraídos a sua volta. Essas exóticas “bandejas verdes” podem ser encontradas flutuando em locais de água calma e pouco profunda, em certos casos às dezenas ou centenas, formando assim um belíssimo tapete verde. As flores da Vitória Régia são brancas, e possuem um ciclo peculiar, pois desabrocham no início da noite e fecham ao nascer do dia, sempre exalando seu perfume doce. É cultivada como raridade nos Jardins Botânicos de todo o mundo, devido ao tamanho descomunal de suas folhas e flores. A Vitória Régia é conhecida pelos moradores do Norte do Brasil por muitos nomes: bandejas d’água, uapé, forno d’água, jaçanã, entre outros.

Na Amazônia existem muitas lendas e mitos bastante interessantes. Por meio dessas narrativas, os índios procuram entender e explicar o surgimento dos seres vivos (homens, animais, plantas etc.), corpos celestes (sol, lua, estrelas e cometas), fenômenos da natureza (vento, chuva, arco-íris, eclipse etc.), e as relações físicas e espirituais que envolvem os componentes do universo. Quem estuda a cultura da Amazônia sabe que existem lendas e mitos para praticamente tudo. Por isso mesmo, conhecendo essa realidade dos povos da floresta é fácil entender que não poderia faltar uma bela lenda falando da “Rainha das plantas da Amazônia”: a Vitória Régia !!!

Assim diz a “Lenda da Vitória Régia”: no começo do mundo, a Lua era um deus sedutor, que gostava de conquistar as mais lindas índias. Esse ser celeste passeava por todos os cantos, visitando as mais remotas tribos da Amazônia, sempre a procura de jovens virgens para namorar. Assim, sempre ao cair da noite ele escolhia e levava uma bela moça para viver consigo nas alturas. Essa estória era contava por antigos pajés, que narravam com detalhes essas buscas que o deus Lua realizava para encantar e escolher suas amantes.

Em uma distante aldeia indígena encravada no meio da floresta havia uma linda jovem, a guerreira Naiá, que sonhava todas as noites com a Lua. Essa bela índia estava tão intensamente apaixonada que não pensava em outra coisa, a não ser no seu amor pela Lua. Assim, todas as noites ela esperava pelo momento em que seria escolhida para viverem juntos nos Céus.

Os índios mais experientes alertavam Naiá dizendo que quando a Lua levava uma moça, essa jovem deixava a forma humana e tornava-se um corpo celeste. Cada moça que era escolhida pelo deus Lua transformava-se numa estrela no Céu. Quando isso acontecia, a vida da moça escolhida mudava drasticamente, pois ela deixava para sempre a companhia de seus pais, avós, irmãos e amigos, partindo para viver bem distante de sua terra natal. Eles alertavam a jovem Naiá dizendo que se ela continuasse aqui na Terra ela poderia encontrar um rapaz que iria amá-la e, juntos, eles constituiriam família, tendo filhos, netos e bisnetos. Ficando aqui, ela poderia ter um amor exclusivo, pois esse índio poderia dedicar todo seu amor só para ela, enquanto que para o deus Lua a jovem índia seria só mais uma entre milhares de estrelas que cintilam todas as noites na escuridão do Céu. No entanto, a jovem não se importava com esses argumentos, já que estava totalmente apaixonada pela Lua.

E para piorar tudo, à medida que os meses se passavam essa paixão foi se tornando uma grande obsessão a ponto de que a jovem Naiá perder o gosto pelas coisas. Ela não queria mais cuidar de casa, não queira mais gastar seu tempo na companhia de familiares e amigos, até mesmo deixava de comer e beber só para ficar contemplando seu astro noturno. Nada mais parecia fazer sentido para a jovem, pois a única coisa que ela queria fazer era passar as noites do lado de fora de sua morada, no relento da noite, solitária, olhando para o alto, admirando intensamente o seu amado, que sempre se mostrava no brilho da Lua.

Os índios mais velhos alertavam a jovem moça para que deixasse de lado aquele desejo. Mas, por mais que eles falassem Naiá não dava atenção, e todas as noites o mesmo ritual se repetia. Enquanto os demais índios dormiam profundamente e a Lua cruzava os céus escuros, a jovem índia, no seu desejo obcecado de se transformar numa estrela, subia nas colinas e montanhas perseguindo a Lua na esperança de chamar sua atenção e conseguir seu objetivo. E assim fazia todas as noites, durante muito tempo, sempre perseguindo seu amado. Infelizmente, a Lua parecia não notar todo seu esforço, nem se dava conta mesmo quando a bela índia passava as noites em prantos. Muitas vezes a bela Naiá corria atrás da Lua implorando seu amor, soluçando e chorando intensamente. Assim, ela fazia todas as noites, até amanhecer o dia com seu delicado rosto molhado com inúmeras lágrimas. Mas nada parecia importar para o deus Lua, que nenhuma atenção dava a jovem índia.

Numa noite em que o luar estava muito bonito, a moça subiu no topo de uma montanha para poder contemplar melhor seu amor. Ao lado daquela montanha havia um grande lago de águas tranquilas, e lá de cima ela viu a Lua refletida no meio das águas e acreditou que o deus-celeste havia descido das alturas para se banhar ali. A jovem Naiá estava tão cega de paixão que não soube discernir um simples reflexo na superfície calma do lago. Para ela, aquela imagem era a materialização de seu grande amor, que estava ali para um encontro real e definitivo. Assim, a moça sem vacilar se atirou no lago em direção à imagem da Lua. Pulou de braços abertos, e com todas as forças mergulhou cheia de paixão querendo de todo coração encontrar seu amado. Quando a ingênua moça percebeu que aquilo era uma simples ilusão, tentou voltar à superfície do lago, porém não conseguiu. Ela não tinha fôlego suficiente e acabou morrendo afogada. Seu corpo desapareceu nas águas frias, e toda a aldeia chorou bastante pela sua perda.

A Lua ficou arrependida por causa daquela situação trágica. Ninguém havia demonstrado tanto amor em vão. Assim, para recompensar o sacrifício da bela jovem, o deus Lua resolveu transformá-la em uma estrela diferente de todas as outras. Ele transformou-a numa "Estrela das Águas" - a Vitória Régia.

No Céu noturno brilham várias estrelas, mas Naiá foi coroada de maneira especial. Por causa de seu grande amor ela se tornou a “Rainha de todas as flores”. Desde então a Vitória Régia é considerada a maior e mais bela planta da Amazônia. Desse romance nasceu uma linda planta cujas flores perfumadas e brancas só abrem ao anoitecer, como uma prova viva do amor verdadeiro entre Naiá e a Lua.

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Publicado no Jornal Mesa de Bar News, edição n. 507 p. 15, de 27/11/2013. Gurupi - Estado do Tocantins.

Giovanni Salera Júnior

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 08/08/2013
Reeditado em 27/12/2013
Código do texto: T4425929
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