QUAL A RAZÃO DA INCERTEZA?
Este trabalho foi feito a quatro mãos, eu e a Mirinha, estou falando de Almira Ferreira, uma Mineira de boa cepa e que tem uma visão muito diferenciada e profunda das coisas da vida.
Neste trabalho, pode-se ver o seu vestígio com as suas inserções na cor azul, fato que, considerei a todas como pertinentes e de uma lógica atípica, profundamente filosófica, muito atual e inteligente.
Convidei-a para fazer esses adendos, porque confio e reconheço a fertilidade do seu estofo intelectual muito apurado e raro.
A seguir, apresentamos este trabalho geminado, entre um e-mail e outro à longa distância, todavia, ele é apenas uma pálida expressão das nossas querências ou questiúnculas conceituais.
Ei-lo!
Na Física, isso é muito bem conhecido como o “Princípio da Incerteza”, foi o que o Físico alemão Werner Heisenberg teorizou.
Ele disse que as ínfimas partículas de um átomo têm essas características, a de nunca se saber onde realmente estão e, se estão em algum lugar, não se sabe se é onda ou partícula.
Tem-se a impressão que elas estão em todos os lugares ao mesmo tempo, por isso muitos cientistas Físicos e Astro Físicos a batizaram de partícula “Deus”.
Para mim, justifico aqui “partícula deusa” em se tratando do gênero feminino, se é que partícula me cabe neste ensaio categorizar o sexo de tão minúsculo existir..
Com o ser humano ocorre um fenômeno semelhante, é lógico que agora não iremos mais tratar de partículas, mas totalmente de emoção ou caráter, psique ou consciência, mesmo assim, os Físicos afirmam que a nossa consciência ou o cérebro, onde ela está localizada, é também um evento quântico e cheio de incertezas.
Destas incertezas vem o que deveras é incontestável, pelo certo, as incertezas nós vamos acertando em meio de probabilidades surrealistas, das quais ditam o que de dentro sai.
Por exemplo, a incerteza nos leva de forma silente para a famosa indecisão, mesmo, a priori a gente ter conhecimento de que a indecisão é a pior das decisões.
Por exemplo, a incerteza nos mostra um ponto no caminho, o qual nos serve de pedra angular e, a qual servirá para o primeiro degrau, rumo ao ápice ou a nossa âncora ao fundo do poço.
Tenho a impressão que este assunto é muito impalpável e árido, portanto, abre-se reticências no caminho a seguir rumo ao abstrato contido em nosso pensamento, característica essa que é real e existente e de forma atual e não só potencialmente, porque assim nos dará a resposta adequada.
Destarte, tendo essa característica, urge a elaboração de um sofisticado raciocínio filosófico, mesmo porque, ele é pleno de incertezas e, eu posso sem querer, desembocar num delta arrastando tudo sem piedade, assim como faz um rio revolto e inconseqüente.
Para este instante suprimo o meu eu racionalista e dou vida a minha criança que escolhe a cor do algodão doce.
Será que essas incertezas não estarão nos dizendo com toda a certeza que, nós somos ou temos algo individualizado, e que essa individualidade nos torna seres totalmente diferenciados, advindo daí a multiplicidade conceitual.
Será que estas incertezas advêm do meu medo fantasiado de certeza, da qual provem os meus atos e sempre tão comedidos em minhas ações? Ou, do meu eu individualista, o qual proclama venha a mim que o reino pode esperar?
Parece um paradoxo o que acima escrevi, dizendo que a incerteza nos dá ou nos dizem certezas, das quais nada mais são que as nossas famigeradas crias, formadas de nossos mais terríveis e secretos medos.
É verdade, este assunto causa certa perplexidade e nos dá a impressão que estamos falando absurdos.
Se a incerteza me incomoda e eu sou envolvido por ela, isso é sinal evidente que nessa incerteza existe certezas que eu não estou querendo admitir ou assumir, ou, o que é pior, não possuo constructos mentais que me possam levar cognitivamente a uma maior percepção.
Explico-me:
Quando eu me aprofundo num determinado assunto ou num determinado enfeixamento emocional, por exemplo, achar que se está envolvido por alguém.
Logo, não acho!
Pois para mim é conveniente não achar, pois o tal achado me recompensaria em admitir que, eu sou tão humanamente pequeno que necessito de um acolhimento de outro para conseguir viver feliz.
Sabidamente, eu sinto através do impacto da percepção o conhecimento, isto é, a certeza e a sua real existência.
Comprovo isto em minhas mãos frias e nos meus olhos vidrados no relógio, hipnotizando o ponteiro para que ele ande mais rápido e a minha saudade se acabe mais de pressa.
Porem, o meu orgulho grita pela espera, e a incerteza ali brota como uma auto defesa.
Estar submisso à espera e à incerteza, isso vem de imediato. E será que o amor vale à pena?
Quero dizer a ocorrência de fato do sentimento e da sua existencialidade, isso realmente me conduz ao assombro. O exemplo acima é somente uma questão didática.
Não sei se estou sendo transparente e inteligível, mas se considerarmos que a nossa consciência também é um evento quântico, temos de ter sérios cuidados, porque nela foram introjetados durante o desenvolvimento da vida, princípios, conceitos existenciais vários, crenças e o famoso vírus do dogma, a meu ver, o mais prejudicial de todos.
Com relação a esses valores que foram formando o nosso lastro psicológico, (arquétipos), a maioria deles, não suporta e se esboroa diante de um questionamento argumentativo e filosófico mais profundo, advindo daí a obrigatória incerteza.
Será que me ensinaram a verdade?
O tribunal íntimo do nosso ego é o escaninho quase totalmente inescrutável, onde, se forjam todas as incertezas, tendo em vista que, tudo aquilo que nos foi introjetado, depois acabamos por descobrir que não tem consistência de verdade e nem contextura ética.
O incerto para mim que sou um aprendiz sempre dos por menores da vida, é o tropeço que faz a colisão entre o meu querer do ego e o meu querer do mundo, o meu ponto de partida ou a minha chegada derradeira e final.
Mas, o que é mais importante nós ainda não proferimos: Eis aqui um ponto chave, o principal não é o termo “a ciência da incerteza”, e sim, fazermos dela para que vejamos mais amiúde as incertezas vindas do medo.
A mais típica como já foi supracitada e tem aquela pouco conhecida: a incerteza da coragem, esta sim, cabe-nos ressaltar com glorias e honra ao mérito.
A incerteza da coragem, nada mais é do que aquilo que os outros dizem, ao se depararem com o fracasso dos outros.
Dizem fracasso, mas eu o denomino de incerteza de coragem.
Alguém em alguma etapa da vida teve a audácia de ir um pouco mais além, daquilo que os outros achavam o limite; deu com os burros na água, a bem da verdade, porém, o afogamento de um burro lhe rendeu um coletivo de burros inteirinhos, para lhe transportar em sua viagem.
De um modo mais fácil a se entender, às vezes, a incerteza nos leva a uma decisão errada e, por sua vez, esta decisão nos leva a um degrau inferior.
Em contra partida e desse tal andar inferior, olhamos pra cima e vemos que estamos bem distantes de onde queríamos chegar, por conseqüência, nunca mais voltaremos a trafegar no caminho que a incerteza fez a escolha.
A recompensa nesse estágio se dá pelo aprendizado da rota que foi seguida, se tivéssemos optado pela incerteza do medo, não tínhamos descido para o degrau de baixo e nem tão pouco teríamos aprendido a olhar para o alto.
Estaríamos ali parados, olhando para o nosso umbigo.
Eu tenho a impressão que Friedrich Nietzsche se vivo fosse, me ajudaria nessa tarefa de filosofar com um martelo, a respeito da origem da incerteza que é proveniente do estofo da consciência, essa mesma que os Físicos acham ser também um evento quântico.
Porém, não existe aqui nenhum astro físico de plantão e, o meu amigo Nietzsche, já deve estar em outra camada cósmica, então fico aqui comigo mesmo a conversar com os meus botões.
Incertezas?
Antes tê-la do que abster-me a ser regido, pelas certezas céticas oriundas das experiências dos outros.
Valham-me as incertezas vividas, para que na minha juventude anciã, eu possa me gabar dos frutos obtidos.
Agora, para dar por encerrado esse labirinto conceitual confuso, apelo para a seguinte sentença de Sócrates: “Uma vida sem questionamento, não vale a pena ser vivida”.